Bloomberg News — A apenas dois dias do início do maior evento de tecnologia e inovação da Europa, o Web Summit, cresce a lista de empresas e autoridades internacionais que estão desistindo de participar da conferência após a declaração do então CEO e cofundador Paddy Cosgrave sobre a guerra entre Israel e o Hamas, classificado como grupo terrorista pelos Estados Unidos e a União Europeia.
No fim de outubro, Cosgrave publicou no X, antigo Twitter, que “crimes de guerra são crimes de guerra mesmo quando cometidos por aliados”, dirigido à resposta militar de Israel ao ataque do Hamas - ataque surpresa que resultou na morte estimada de 1.400 israelenses e judeus, incluindo crianças.
O comentário de Cosgrave causou reação negativa de diversos investidores de venture capital e fundadores de empresas de tecnologia.
O ministro da Economia da Alemanha, Robert Habeck, cancelou na quarta-feira (08) uma viagem planejada a Portugal, tradicional sede do Web Summit 2023. A decisão acontece depois de mais de 300 empresários israelitas terem escrito uma carta aberta à Habeck pedindo um boicote à conferência.
Ainda na terça-feira (7), houve uma inesperada demissão do primeiro-ministro de Portugal, António Costa, diante de uma série de problemas envolvendo uma investigação de corrupção.
“[O cancelamento da viagem] foi decidido com base em uma avaliação global, particularmente à luz dos atuais acontecimentos políticos em Portugal”, disse uma porta-voz do ministério em comunicado enviado por e-mail na quarta-feira (8). “A discussão sobre o Web Summit também desempenhou papel na decisão.”
Segundo a carta aberta dos empresários enviada ao ministro alemão, a presença de Habeck na Web Summit enviaria “um sinal contraditório, especialmente à nossa próspera comunidade empresarial israelita, que dá uma contribuição importante para os negócios e a indústria alemã”, diz trecho do documento publicado pela revista Stern.
Muitos investidores abandonaram o Web Summit depois que Cosgrave criticou o apoio ocidental a Israel na plataforma X. Eles foram seguidos por inúmeras empresas, incluindo a Alphabet (Google), a Meta (Facebook, Instagram e WhatsApp), a Amazon e a Intel. Posteriormente, Cosgrave renunciou ao cargo de CEO do evento.
Repercussão também na América Latina
Na América Latina, o cofundador do Mercado Livre Marcos Galperin postou no X no último domingo (5) uma crítica a Cosgrave e ao investidor e empreendedor Paul Graham, cofundador do Y Combinator.
“Dedicado a @paddycosgrave, @paulg e a muitos outros antissemitas disfarçados, com padrões duplos bem elaborados e perfeitamente calculados”, escreveu Galperin em sua conta pessoal, marcando um tuíte do investidor bilionário Bill Ackman, CEO da Pershing Square e da Pershing Square Foundation.
Ackman tem sido um dos críticos mais contundentes de lideranças de algumas das principais universidades dos EUA, como Harvard e MIT, para as quais é um doador regular de recursos, sobre o que considera negligência a “atos antissemitas” que condenam Israel no confronto com o Hamas.
Cosgrave postou um pedido de desculpas no blog do Web Summit dias depois da declaração no X, mas isso não foi suficiente para impedir uma campanha que pedia a retirada de palestrantes e patrocinadores do programa, que teve mais de 70 mil participantes no ano passado.
Neste ano, em maio, o Web Summit organizou uma edição no Rio de Janeiro que foi considerado o maior evento de tecnologia e inovação já organizado no país, com centenas de empresas e dezenas de milhares de pessoas como participantes.
Cosgrave indicou inicialmente que permaneceria no cargo e teria garantido aos funcionários que a conferência tinha dinheiro suficiente em caixa para continuar por pelo menos dois anos, de acordo com um relatório publicado pelo jornal Business Post.
Cosgrave fundou o Web Summit em Dublin em 2009 com David Kelly e Daire Hickey, antes de transferir a principal conferência para Portugal em 2016.
No último dia 30, o Web Summit nomeou Katherine Maher, ex-chefe da Wikimedia Foundation, como sua nova CEO, substituindo Cosgrave. Maher ocupou vários cargos no setor de tecnologia e na sociedade civil, incluindo cinco anos no comando da organização sem fins lucrativos que administra a Wikipedia.
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