Por que a tese do soft landing nos EUA ganha força (e a de recessão perde)

Analistas que previam contração na economia americana já consideram possível uma desaceleração, enquanto o Fed pode subir o juro só mais uma vez

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Bloomberg — Alguns analistas que foram os primeiros a prever uma recessão nos Estados Unidos começam a fazer hedge de suas apostas à medida que a inflação perde força e a economia permanece resiliente.

O vice-presidente de research do Deutsche Bank, Peter Hooper, e o economista-chefe da Fannie Mae, Doug Duncan, agora dizem que é essencialmente uma loteria tentar prever se a economia vai passar por uma recessão ou desfrutar de um soft landing e continuar a crescer, embora ambos ainda acreditem que uma desaceleração é mais provável do que o contrário.

O economista sênior da Nomura Securities, Aichi Amemiya, também mantém a previsão de recessão, embora tenha acrescentado que é uma estimativa que “passa raspando”.

Essa percepção foi refletida na pesquisa de economistas da Bloomberg em julho, na qual as estimativas para o PIB foram revisadas para cima no segundo e no terceiro trimestres. No entanto analistas ainda dizem que há 60% de chance de os EUA entrarem em recessão nos próximos 12 meses.

Duncan destacou que as construções iniciadas e os preços dos imóveis foram mais fortes do que o esperado nos dados recentes, o que deu suporte à economia. Amemiya também mencionou a força das vendas de automóveis novos.

Paradoxalmente, Hooper credita a forte campanha de aumento dos juros pelo Federal Reserve ao menor risco de recessão. Isso ajudou a ancorar novamente as expectativas de inflação, aumentando as chances de que as pressões de preços diminuíssem sem um impacto significativo na economia.

Economistas consultados pela Bloomberg estão cada vez mais otimistas com a desaceleração da inflação. O índice de preços de gastos com consumo pessoal (PCE) – a métrica de inflação mais acompanhada pelo Fed – deve subir 2,2% no último trimestre de 2024, de acordo com a pesquisa de julho. No mês passado, economistas esperavam 2,3%.

Excluindo as categorias mais voláteis de alimentos e energia, o chamado núcleo do PCE provavelmente vai se desacelerar no primeiro semestre do próximo ano mais do que o previsto no mês passado. Economistas também veem o índice de preços ao consumidor esfriar mais rapidamente até o final do ano que vem.

A pesquisa com 73 economistas, realizada de 14 a 19 de julho, foi conduzida logo após o último relatório do CPI ter mostrado que a inflação dos EUA atingiu em junho uma mínima em mais de dois anos. O número levou muitos traders a apostar que o aumento esperado da taxa básica pelo Fed na próxima semana será o último deste ciclo.

“É provável que o Fed ‘pule’ setembro após a alta de julho. A próxima oportunidade em novembro deve ocorrer no contexto de uma recessão, à medida que as taxas reais se tornarem mais restritivas”, disse Philip Marey, estrategista sênior do Rabobank para os EUA, em resposta à pesquisa. “Portanto, não esperamos que o segundo aumento no gráfico de pontos se materialize.”

Economistas da pesquisa agora também esperam menos cortes de juros pelo Fed no ano que vem.

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