‘Podemos vencer no 1º turno’, diz Javier Milei, que liderou primárias na Argentina

Com 97% dos votos apurados, pré-candidato de extrema direita liderava com 30% dos votos; partido JxC tinha 28,7% e o Unión por la Patria, 27,3%

Javier Milei, candidato a presidência da Argentina
14 de Agosto, 2023 | 01:39 AM

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Buenos Aires — “Temos condições de ganhar em primeiro turno”, disse Javier Milei, candidato à presidência da Argentina após disparar na votação das eleições primárias realizadas no país neste domingo (13).

Com 97,4% dos votos apurados, segundo a contagem oficial, o pré-candidato do partido de extrema direita La Libertad Avanza liderava com 30,04% dos votos. O partido Juntos por el Cambio (JxC) tinha 28,27%, enquanto o Unión por la Patria, 27,27%.

Javier Milei surpreende na Argentina. O pré-candidato sai na frente como o mais votado nas Eleições Primárias, Abertas, Simultâneas e Obrigatórias (PASO) do país, uma etapa que irá determinar quais candidatos avançarão para disputar a presidência das eleições gerais, no dia 22 de outubro. Em caso de um segundo turno, este será realizado no dia 19 de novembro.

“Diziam que não estaríamos em terceiro lugar. Somos a força mais votada, porque somos a verdadeira oposição, os únicos que queremos a verdadeira mudança. Somos os únicos em condições de tirar a Argentina do abismo”, afirmou.

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O candidato à presidência pela La Libertad Avanza também destacou que em apenas dois anos conseguiram construir uma alternativa “que não só colocará fim ao kirchnerismo, mas também à casta política que afunda este país”.

“Demos o primeiro passo para pôr fim à decadência argentina. Estamos diante do fim do modelo da casta”, disse ele.

Javier Milei propõe uma série de medidas econômicas radicais. Seu plano inclui a dolarização total para conter a inflação de três dígitos, reformas trabalhistas, privatizações, reduções nos encargos dos empregadores e a substituição das indenizações por um sistema de seguro-desemprego.

Os cortes orçamentários poderiam chegar a 15% do Produto Interno Bruto (PIB) e incluiriam a eliminação de vários ministérios, bem como investimentos públicos em infraestrutura.

Milei defende a eliminação gradual dos programas sociais, a divisão da receita federal, a redução dos gastos públicos e as reformas tributárias.

Ele propõe a eliminação do Banco Central e a competição monetária, permitindo que os cidadãos escolham o sistema monetário ou a dolarização total.

Disputas internas

Na disputa interna do JxC, Patricia Bullrich venceu confortavelmente Horacio Rodríguez Larreta. Ela obteve cerca de 17% dos votos, seis pontos percentuais à frente do chefe do governo da cidade (10,8%).

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Minutos antes de entrar na sede conjunta do Juntos por el Cambio, Bullrich antecipou essa diferença ao expressar que Rodríguez Larreta havia entrado em contato com ela para parabenizá-la pela vitória.

Dentro da Unión por la Patria, como esperado, Sergio Massa supera Juan Grabois. O Ministro da Economia argentino obtém 21% dos votos, enquanto o líder social fica um pouco acima de 5%. A surpresa, no entanto, é que o partido oficialista se posiciona como a terceira força em nível nacional.

Nas eleições da cidade de Buenos Aires, Jorge Macri supera Martín Lousteau na disputa interna do Juntos por el Cambio por uma diferença de mais de um ponto e meio. Juntos, eles somam 55%, muito acima dos 22% de Leandro Santoro, da Unión por la Patria.

Na província de Buenos Aires, Axel Kicillof vence com 37,3% dos votos, enquanto Néstor Grindetti e Diego Santilli disputam acirradamente a interna do JxC. Juntos, eles somam 31,6%. Carolina Píparo, do partido La Libertad Avanza, conquista 24,1% dos votos.

De olho em outubro

Segundo Gabriel Puricelli, analista político e internacional do Laboratório de Políticas Públicas, o resultado desta eleição “desestabilizou brutalmente o sistema político”, o que tornará as previsões para outubro “muito complicadas”.

Apesar disso, ele considerou: “Hoje, JxC perdeu a liderança da oposição e isso, somado às divisões que mostrou durante a campanha, pode custar-lhe votos em outubro. A reação à surpresa de Milei pode acrescentar votos a Massa, especialmente se UxP ficar em segundo lugar”.

No entanto, o analista lembrou que “Massa tem que travar uma batalha diária contra a economia, com todas as probabilidades contra ele”.

Nesse sentido, a economista-chefe da consultoria Equilibra, Lorena Giorgio, lembrou que o partido governante ainda tem incentivos em direção a outubro.

“O primeiro ponto a ser mencionado é que teremos muita volatilidade nos mercados no curto prazo. Milei é um candidato forte para chegar a um segundo turno, mas o partido governante ainda tem chances de se inserir na segunda rodada. Precisamos ver quantas cartas Massa ainda tem para lidar com a economia até outubro. Ele ainda está na corrida e tem incentivos para que a situação não saia do controle”, disse.

--Atualização às 8h30 (horário de Brasília) com o percentual de votos apurados mais recente

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Tomás Carrió

Tomás Carrió, jornalista especializado em economia e finanças. Trabalhou para os jornais El Cronista e La Nación e é colunista de economia da Radio Milenium. Licenciado em Comunicação Social (Universidad Austral) e Mestre em Jornalismo (Universidade Torcuato Di Tella).