Petrolífera argentina se valoriza 1.400% em 3 anos. Agora espera mais com Milei

A Vista Energy, fundada por Miguel Galuccio, é uma das empresas que mais apostam no gás de xisto de Vaca Muerta. Medidas de abertura do setor pelo governo podem dar novo impulso às ações

Bloomberg — Miguel Galuccio entende de xisto.

Ele foi um dos precursores do florescente boom argentino e liderou as primeiras incursões em seu anunciado campo de petróleo e gás conhecido como Vaca Muerta. A área de xisto permaneceu inativa por quase um século após sua descoberta, até que Galuccio assumiu as rédeas da estatal YPF.

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Mas foi somente quando Galuccio iniciou seu próprio empreendimento, a Vista Energy, que o petróleo realmente começou a fluir das reservas da árida borda ocidental da Patagônia. E ele ganhou uma fortuna.

As ações da Vista, negociadas em Nova York, subiram cerca de 1.400% nos últimos três anos, superando facilmente todas as outras cerca de 100 petroleiras globais que valem US$ 1 bilhão ou mais. A participação de 7,9% de Galuccio está atualmente avaliada em cerca de US$ 370 milhões.

O próximo capítulo – tanto para a Vista quanto para a Argentina, com seus ambiciosos planos de todo o setor para aumentar as exportações de petróleo bruto – agora não está apenas nas mãos de Galuccio, diz ele, mas nas do presidente Javier Milei.

Milei, que está há apenas seis meses em um mandato de quatro anos, promete ir aonde nenhum líder argentino se aventurou com sucesso durante três décadas, ao desregulamentar a economia rigidamente controlada do país.

Mas a legislação que imprimiria sua visão libertária na economia - incluindo mercados livres para o petróleo - ainda precisa ser aprovada no Congresso. E Milei ainda não conseguiu eliminar as restrições à importação de equipamentos e aos fluxos de dinheiro, que são a ruína dos investidores.

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O que está em jogo são os planos dos líderes de xisto da Argentina, que projetam que a produção diária de petróleo bruto apenas em Vaca Muerta pode chegar a 1 milhão de barris em 2030, cerca do triplo do que é hoje.

Isso não é de pouca importância para um mundo que deverá consumir quantidades quase recordes de combustível nos próximos anos, especialmente quando há poucos campos de petróleo no planeta que podem gerar esse tipo de crescimento.

“Se quisermos chegar a 1 milhão de barris, teremos que adicionar cinco plataformas a cada ano, e para isso é necessário tornar a Argentina ainda mais propícia a investimentos”, disse Galuccio em uma entrevista na sede da Bloomberg News em Nova York.

Milei – assim como três governos antes dele que também promoveram a perfuração de xisto – tem interesse em liberar Vaca Muerta, já que o petróleo bruto é um caminho relativamente rápido para trazer mais receita de exportação para a Argentina. Esses bilhões de dólares são vitais para recuperar uma economia que está caminhando para sua sexta recessão em uma década.

“Ele tem uma meta e está indo nessa direção, não importa o que aconteça”, disse Galuccio, referindo-se à ideologia pró-negócios do governo de Milei.

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Mas parte do progresso de Milei tem sido mais lento do que os investidores gostariam, já que ele enfrenta uma inflação alta.

Em especial para as perfuradoras de xisto, disse Nicolas Gadano, economista-chefe da empresa de consultoria Empiria, de Buenos Aires, os barris de petróleo na Argentina ainda custam menos do que os padrões de referência globais e os controles de capital continuam em vigor.

“Por motivos puramente pragmáticos de tentar desacelerar a inflação, Milei está começando a moderar ou voltar atrás em suas convicções, e isso é um alerta”, disse Gadano.

“Os controles contínuos de capital significam que, embora a Vista ainda possa investir seu fluxo de caixa, é muito difícil aumentar os gastos ou que outras empresas façam novos investimentos”.

Atualmente, a Argentina produz mais de 350.000 barris por dia de petróleo de xisto – exporta um terço – e, durante o auge da demanda de inverno, o equivalente a outros 500.000 barris de gás de xisto e gás confinado. Isso é apenas uma fração do que as petroleiras produzem na Bacia do Permiano, nos Estados Unidos. Mas foi o suficiente para enriquecer Galuccio.

“A Vista foi capaz de mostrar uma grande economia em suas áreas de xisto e continuamente superar o guidance, o que justifica a alta das ações, apesar dos ricos múltiplos de negociação”, disse Oriana Covault, analista de pesquisa da Balanz Capital em Buenos Aires.

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Filho de comerciante

Filho de um comerciante de uma província agrícola, Galuccio formou-se engenheiro em Buenos Aires e, no início de sua carreira, trabalhou nos campos de petróleo do extremo sul da Argentina e nos Estados Unidos. Aos 56 anos, ele agora faz parte do conselho da SLB, a grande prestadora de serviços para campos petrolíferos. Ele fundou a Vista em 2017.

Aconteça o que acontecer com os esforços de Milei para implementar reformas radicais, Galuccio disse que os investidores da Vista devem apostar que a empresa cumprirá o guidance de produção de 100.000 barris de petróleo e gás por dia em 2026.

"Cumpriremos nosso plano para 2026", disse ele. "Qualquer outra coisa que venha a acontecer nos tornará mais aptos a investir e provavelmente dará oportunidades a outros."

Embora a Vista – que conta com um grupo do governo dos Emirados Árabes Unidos como seu maior acionista – tenha ajudado a catalisar o crescimento em Vaca Muerta, a YPF continua sendo confortavelmente a maior produtora. Sob a nova administração nomeada por Milei e estimulada pela construção de oleodutos, a perfuradora estatal está pronta para acelerar as operações de xisto.

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Ofertas da Exxon

Enquanto isso, uma guerra de licitações que inclui a Vista está em andamento para adquirir blocos de óleo de xisto que a Exxon Mobil (XOM) planejava desenvolver.

A Exxon deixou Vaca Muerta e vai concentrar seus esforços em outros lugares, incluindo a Guiana. Esse é um exemplo de como as grandes petrolíferas se envolveram com o xisto argentino, em vez de abraçá-lo.

Empresas globaisa foram afastadas pela interferência de governos passados nos preços e nas exportações de petróleo, mas principalmente pelos controles monetários que as impedem de enviar livremente seu dinheiro para outros países.

É por isso que Galuccio está tão ansioso para que eles desapareçam.

"A flexibilização dos controles de capital provavelmente será o principal fator que permitirá à Argentina acelerar o desenvolvimento de Vaca Muerta", disse Galuccio.

- Com a colaboração de Shin Pei e Maria Elena Vizcaino.

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