Bloomberg — O próximo presidente da Argentina assumirá em meio a uma emergência financeira - o que é comum no país, uma das economias consideradas mais disfuncionais do mundo.
Os eleitores vão às urnas neste domingo, 22 de outubro, com o país em recessão pela sexta vez em uma década, e uma inflação que beira os 140% ao ano.
Os candidatos prometem soluções que vão desde as ortodoxas - um aperto no orçamento - até as radicais: o favorito Javier Milei diz que adotaria o dólar dos EUA como moeda, como alternativa ao peso.
Não há solução rápida, porque os atuais problemas econômicos da Argentina têm raízes em décadas de má administração. Os governos oscilaram entre políticas, incapazes de seguir uma abordagem consistente, e a maioria dos investidores fugiu. O resultado é que o país - antes um dos mais ricos da região - tem uma economia que parece cada vez mais única, e não de um jeito bom.
Javier Milei, candidato presidencial pelo partido Avanços da Liberdade (LLA), durante um comício de encerramento no Movistar Arena, em Buenos Aires, Argentina, na quarta-feira, 18 de outubro de 2023.
A Argentina está prestes a eleger um novo presidente neste fim de semana, e o vencedor terá que lidar com uma inflação de três dígitos e uma moeda em queda, com a economia à beira de sua sexta recessão em uma década.
“A Argentina é uma exceção, e é assim há muito tempo”, disse Martin Castellano, chefe de pesquisa da América Latina no Instituto de Finanças Internacionais. E os primeiros passos para colocar a economia nos trilhos devem ser dolorosos.
Com as reservas do banco central no vermelho e o peso supervalorizado nas taxas de câmbio oficiais, quem vencer as eleições provavelmente terá que presidir uma desvalorização da moeda ao tentar reformar as finanças públicas. “É um ajuste inevitável que resultará em outra recessão no próximo ano”, diz Castellano.
Aqui estão cinco gráficos que ilustram os profundos e distintos problemas em que a terceira maior economia da América Latina está envolvida:
1. Campeã da recessão
A Argentina tem uma longa história de drásticas oscilações econômicas, resultado de políticas fracas e inconsistentes que se destacam até mesmo em um ambiente volátil. Um estudo de 2018 do Banco Mundial revelou que, entre 1950 e 2016, o país passou cerca de um terço do tempo em recessão, mais do que qualquer outro país do mundo, exceto a República Democrática do Congo.
Espera-se que a economia encolha novamente neste ano, de acordo com o Fundo Monetário Internacional, bem como analistas entrevistados pela Bloomberg News. Se essas previsões estiverem corretas, significará que a economia encolheu em quase metade dos anos desde 1980.
2. Derrota para a inflação
Vários países da América Latina sofreram com altas taxas de inflação ou hiperinflação nas décadas de 1980 e início dos anos 1990. A maioria deles conseguiu controlar a pressão de preços - adotando regimes de metas de inflação, permitindo que suas moedas flutuassem e desenvolvendo mercados de dívida em moeda local.
Não a Argentina.
Após o fim da paridade cambial em 2002, o banco central do país passou a financiar cada vez mais o déficit do governo por meio da impressão de dinheiro. Como resultado, a taxa anual de inflação atingiu o maior nível em três décadas, de 138,3% em setembro, e espera-se que ultrapasse 180% até o final do ano.
3. Crédito escasso
Na maioria dos países, o fluxo de crédito bancário para famílias e empresas é crucial para impulsionar o crescimento econômico. Mas, na Argentina, anos de taxas de juros elevadas e inflação têm sido uma barreira tanto para os credores quanto para os mutuários.
Além disso, os bancos privados emprestam principalmente ao governo cada vez mais voraz, deixando muito pouco para indivíduos e empresas. O resultado é que a Argentina tem um dos menores níveis de crédito para famílias do mundo, de acordo com dados do Banco de Compensações Internacionais (BIS). Da mesma forma, o crédito para empresas é apenas uma fração dos níveis vistos nos vizinhos Brasil e Chile.
4. Peso desvalorizado
O peso argentino perdeu quase 100% de seu valor nominal nas últimas duas décadas, e novamente neste ano registrou um dos piores retornos entre as principais economias emergentes. “Eles perderam a oportunidade de adotar um regime flexível de câmbio estrangeiro e nunca fizeram isso corretamente”, disse Castellano.
5. Sem capital estrangeiro
Em meio a toda a volatilidade, não é de surpreender que a Argentina tenha ficado para trás em relação aos seus pares na atração de dinheiro global. O investimento estrangeiro direto nos últimos anos foi muito inferior ao do Brasil ou México, as únicas duas economias latino-americanas maiores.
A Argentina tem um grande mercado doméstico, mas as empresas que buscam aproveitá-lo enfrentam riscos, incluindo nacionalização ou a incapacidade de enviar seus lucros para a sede. Importadores e exportadores também têm dificuldade em vender seus produtos devido a um complicado sistema de controle de capitais.
Quanto aos fundos de curto prazo, o país viu uma onda de ingressos sob o governo pró-mercado de Mauricio Macri entre 2015 e 2019 - mas a maioria do dinheiro fugiu novamente à medida que Macri presidiu mais um colapso econômico.
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