Novas sanções da Casa Branca miram bancos que fazem negócios com a Rússia

Presidente Joe Biden abre caminho para penalizar instituições financeiras usadas por empresas que são alvo de sanções por seus vínculos com o país de Vladimir Putin

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Bloomberg — Os Estados Unidos miraram bancos que facilitam pagamentos para o complexo militar-industrial da Rússia, na mais recente de uma série de restrições que tentaram — e até agora falharam — prejudicar a capacidade do presidente Vladimir Putin de financiar sua invasão à Ucrânia.

O presidente Joe Biden planeja alterar duas ordens executivas nesta sexta-feira (22) em uma ação que permitirá pela primeira vez que os Estados Unidos imponham chamadas sanções secundárias sobre a guerra na Ucrânia, abrindo caminho para penalidades financeiras a bancos que fazem negócios com empresas que já são alvos de sanções por seus vínculos com a Rússia, quer saibam disso ou não.

O secretário adjunto do Tesouro, Wally Adeyemo, afirmou que as medidas dão aos Estados Unidos a capacidade de trabalhar diretamente com as instituições financeiras nos casos em que autoridades não obtêm cooperação de governos estrangeiros na aplicação das sanções.

“Eles não estão passando por grandes empresas nesses países”, disse Adeyemo em uma entrevista à CNBC. “Eles estão passando por pequenas empresas para obter coisas como microeletrônicos, ferramentas e peças de máquinas. Mas todas essas empresas ainda precisam usar o sistema financeiro. O que esta ordem executiva nos dá a capacidade de fazer é mirar instituições menores que podem estar relutantes ou conscientemente tentando contornar nossas sanções.”

A medida pode causar novas dores de cabeça para alguns bancos dos Estados Unidos, que já implementaram protocolos de conformidade caros para garantir que não infrinjam as sanções.

Embora muitos bancos internacionais não façam mais negócios diretamente com a Rússia, eles podem atuar como bancos correspondentes para instituições financeiras em países terceiros que continuam a financiar o comércio.

Sob a ação desta sexta-feira, alguns desses bancos podem enfrentar penalidades por manter esses relacionamentos se o comércio continuar.

“Esperamos que as instituições financeiras façam todos os esforços para garantir que não se tornem facilitadoras conscientes ou inconscientes de contornos e evasões”, disse a secretária do Tesouro, Janet Yellen, em um comunicado.

Autoridades dos EUA trabalharão com bancos americanos e europeus ao longo das próximas semanas para informá-los sobre a ordem e alertar que devem tomar medidas para evitar violar a política.

A medida também reflete o desafio enfrentado pelos funcionários dos Estados Unidos, que até agora não conseguiram impedir que o setor militar de Putin obtenha o equipamento de que precisa — mesmo depois de os EUA e seus aliados imporem um dos regimes de sanções mais restritivos da história.

O Kremlin encontrou maneiras de contornar as sanções ocidentais usando intermediários financeiros para ajudar a obter componentes críticos para a guerra. Também conseguiu contornar as sanções ao comércio de petróleo por meio de uma frota clandestina de petroleiros que transportam petróleo russo ilícito.

Eddie Fishman, pesquisador sênior no Center for Global Energy Policy da Universidade de Columbia, disse que a ação era há muito esperada e coloca bancos e empresas ao redor do mundo “em alerta”. No entanto, ele também apontou que a eficácia da nova política dependerá de quão agressivamente a administração Biden a aplicará.

“Sanções secundárias desse tipo têm seus limites”, disse Fishman em um post no X. “A conformidade não será hermética.”

O esforço tornou-se ainda mais urgente à medida que os conflitos políticos atrapalharam os esforços para reabastecer os estoques de armas ucranianos, o que poderia prejudicar gravemente a capacidade do país de repelir a invasão russa.

Os legisladores dos EUA abandonaram os esforços para chegar a um acordo antes do recesso de fim de ano para fornecer mais de US$ 60 bilhões em assistência adicional para a Ucrânia.

Líderes da União Europeia apoiaram nesta semana um pacote de sanções que restringe a lucrativa indústria de diamantes da Rússia, proíbe a importação de gás liquefeito de petróleo da Rússia, restringe a importação de alguns metais processados e proíbe a exportação de ferramentas e peças de máquinas que a Rússia usa para fabricar armas voltadas para a Ucrânia.

Sob os termos da ordem executiva, o Departamento do Tesouro terá a capacidade de ir atrás de bancos dos EUA e da Europa que tenham relacionamentos com instituições financeiras estrangeiras que facilitam o comércio de certos componentes de alto valor, incluindo semicondutores, ferramentas de máquinas, precursores químicos, rolamentos de esferas e sistemas ópticos.

A ordem dará às autoridades dos EUA a capacidade de impor proibições a produtos originados na Rússia, mas que foram substancialmente transformados fora da Rússia. Os EUA já proibiram a importação de diamantes russos e a nova ordem garantirá que mesmo que a Rússia envie diamantes para outro país para processamento, eles não poderão entrar nos Estados Unidos.

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