Na China, bancos devem cortar juros de crédito para estimular economia em crise

Medida seria o passo mais recente para tentar estimular gastos, direcionar recursos para o mercado de ações e aliviar a pressão sobre credores

A última vez que a China permitiu medida semelhante foi no início de 2009
Por Bloomberg News
29 de Agosto, 2023 | 09:02 AM

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Blommberg — Os bancos estatais da China estão usando todas as ferramentas disponíveis para tentar estimular os gastos dos consumidores, orientados pelos formuladores de políticas monetárias do governo, que estão se aprofundando em seu conjunto de ferramentas para apoiar o lento crescimento da segunda maior economia do mundo.

A China deve anunciar ainda nesta terça-feira (29) que os grandes bancos estatais cortarão as taxas da maioria dos 38,6 trilhões de yuans (US$ 5,3 trilhões) de hipotecas existentes no país, segundo pessoas familiarizadas com o assunto consultadas pela Bloomberg.

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As reduções afetarão apenas os empréstimos concedidos para aquisição da primeira casa própria, de acordo com duas dessas pessoas.

Credores como o Industrial & Commercial Bank of China e o China Construction Bank estão prontos para cortar as taxas de depósito, no final desta semana, pela terceira vez em um ano, sustentando margens em queda.

A medida seria o mais recente passo de Pequim em uma série fragmentada de medidas que as autoridades têm anunciado para tentar estimular os gastos dos consumidores, direcionar mais fundos para o mercado de ações e aliviar a pressão sobre os credores.

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A última vez que a China permitiu uma medida semelhante foi no início de 2009, quando alguns bancos estatais deram um desconto nas taxas de juros para mutuários qualificados em determinadas áreas, em resposta à crise financeira global, de acordo com um relatório da Zhongtai Securities.

O Banco Popular da China não respondeu imediatamente a uma solicitação de comentário sobre o tema.

A redução de juros de hipotecas, muito aguardada pelo mercado depois que o banco central sugeriu apoio em meados de julho, ocorre em um momento em que Pequim está lutando para retomar o crescimento econômico, à medida que a demanda por empréstimos cai, a pressão da deflação se instala e a confiança diminui.

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Os investidores também estão preocupados com os riscos de contágio dos problemas imobiliários da China, que já duram anos e se aprofundaram após uma crise de liquidez em um grande banco paralelo.

O governo tem sido cauteloso em implementar estímulos amplos, preferindo confiar em medidas direcionadas para aumentar os gastos das famílias.

Embora a China tenha reduzido as taxas de referência e empurrado o custo médio das hipotecas para uma baixa recorde, a maioria das famílias chinesas não se beneficiou até agora, pois os bancos não reprecificarão os empréstimos existentes até o início do próximo ano.

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Os analistas do JPMorgan (JPM) estimam que a taxa anualizada das novas hipotecas está em 4,18%, cerca de 60 pontos-base abaixo dos empréstimos em aberto. Isso fez com que alguns consumidores contraíssem empréstimos de curto prazo para pagar as hipotecas antecipadamente.

Mais de 90% das hipotecas pendentes na China eram para a primeira casa própria em julho de 2021, quando foram divulgados os dados públicos mais recentes do órgão regulador do setor bancário.

Em 2022, mais de 80% dos novos empréstimos imobiliários foram para a primeira casa, de acordo com o Ministério da Habitação.

O mais recente estímulo gerou preocupações sobre o ônus dos bancos de realizarem um “serviço nacional” a custo de margens mais baixas, disseram analistas do Citigroup (C) em nota.

Para aliviar a carga, os grandes bancos estatais poderão reduzir as taxas dos depósitos em moeda local nos principais prazos entre 5 e 20 pontos-base, segundo pessoas consultadas pela Bloomberg. Os órgãos reguladores aprovaram o plano e o corte pode ocorrer já nesta sexta-feira (01/09).

Inadimplência

Em um movimento surpreendente, o PBOC fez no início deste mês o maior corte em três anos na taxa de seus empréstimos de um ano.

Em junho, 100 das 343 cidades chinesas reduziram o piso da taxa de hipotecas para casas novas ou removeram o mínimo exigido, informou na quinta-feira (24) o PBOC em seu relatório trimestral de política monetária.

Isso fez com que a taxa média de hipoteca do país chegasse a 4,11%, uma queda de 0,51 ponto percentual em relação ao ano anterior.

O setor financeiro da China já está enfrentando dificuldades com o aumento da inadimplência nos bancos paralelos, o que desencadeou uma nova onda de preocupação em relação à possível repercussão nos credores estatais.

Os analistas também destacaram os riscos crescentes associados aos veículos de financiamento de governos locais carregados de dívidas, e o Goldman Sachs (GS) afirmou que a exposição dos bancos poderia enfraquecer suas posições de capital e levar a pagamentos de dividendos mais baixos.

Até o momento, Pequim tem agido com cautela para reanimar a economia e, ao mesmo tempo, proteger a estabilidade financeira.

O banco central da China manteve suspensa a taxa de juros básica que orienta as hipotecas e fez um corte menor do que o esperado em outra taxa em agosto, o que poderia ajudar a aumentar a oferta sem apertar muito as margens dos bancos.

Na pior das hipóteses, supondo que toda a carteira de empréstimos hipotecários seja refinanciada com uma redução da taxa de 60 pontos-base, os lucros do banco chinês no próximo ano serão reduzidos em 8%, com a margem de juros líquida diminuindo em 7 pontos-base, de acordo com a JPMorgan.

O banco norte-americano espera que cerca de 50% dos proprietários de hipotecas provavelmente refinanciem suas dívidas e que a maior parte do impacto sobre os lucros dos bancos ocorra no curto prazo.

-- Com a colaboração de Fran Wang, Jing Zhao e Emma Dong

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