Bloomberg — O presidente eleito argentino, Javier Milei, tem se afastado de conselheiros que defendiam suas promessas de campanha mais radicais, escolhendo veteranos de Wall Street mais próximos do ex-líder Mauricio Macri.
As propostas mais ousadas de Milei - a dolarização e o fechamento do Banco Central - parecem suspensas, pelo menos temporariamente, em meio a uma reorganização de equipe.
Milei se distanciou de seu guru da dolarização, Emilio Ocampo, e nesta sexta-feira (24) outro assessor mais linha-dura do início da campanha, Carlos Rodriguez, anunciou na rede social X (ex-Twitter) que estava de saída.
Milei havia dito repetidamente durante a campanha que nomearia Ocampo para liderar o Banco Central da Argentina, embora tenha reiterado na sexta-feira que o fechamento da instituição era “inegociável”.
Em seu lugar, a equipe econômica de Milei está sendo liderada por Luis Caputo e Demian Reidel, dois ex-veteranos de Wall Street que ocuparam cargos-chave durante a presidência de Macri de 2015 a 2019.
A imprensa argentina também informou que Milei nomearia sua ex-rival durante as eleições, Patricia Bullrich, como ministra da Segurança, cargo que ela ocupou no governo de Macri também.
Reação dos mercados
Os títulos em dólares da Argentina ampliaram seu rali na sexta-feira diante dos sinais da postura mais moderada de Milei.
Os títulos com vencimento em 2030, alguns dos mais líquidos, subiram mais de dois centavos, sendo negociados a cerca de 36,6 centavos de dólar. Notas com vencimento em 2046 ganharam mais de cinco centavos nesta semana, sendo negociadas a níveis ainda desvalorizados de 33 centavos de dólar.
O índice de ações de referência do país, o Merval, subiu até 43% nesta semana. O Global X MSCI Argentina ETF, por sua vez, está prestes a registrar seu melhor ganho semanal na história, subindo até 17%.
À medida que Milei se aproxima da equipe de Macri, é um sinal de que o presidente eleito “trará mudanças, mas talvez não tão radicais como pregou durante sua campanha”, disse Jeff Grills, chefe de dívida de mercados emergentes da Aegon Asset Management em Chicago.
“Também é uma semana encurtada pelo feriado, então qualquer compra irá exacerbar os movimentos um pouco, pois não há muito fluxo para compensar a demanda por Argentina vista hoje”, acrescentou.
Embora os mercados tenham recebido bem a eleição de Milei e as preocupações sobre uma onda de saques, diante de sua promessa de dolarizar a economia, não se concretizaram, os bancos estão migrando para títulos de um dia para garantir liquidez.
Os credores rolaram apenas 10% dos 1,8 trilhão de pesos em títulos Leliq oferecidos pelo Banco Central no leilão de quinta-feira, segundo pessoas com conhecimento direto do assunto. Isso representa uma queda em relação aos 40% na venda de terça-feira, que já foi uma redução acentuada em relação ao período anterior à votação.
A preocupação é se os bancos continuarem a fugir das ofertas de Leliqs, que têm vencimento em 28 dias e são usadas pelo BC para absorver pesos, isso poderia liberar mais pesos na economia, pressionando a taxa de câmbio paralela e impulsionando a inflação que já está em 143% ao ano.
Sem salto no escuro
A especulação de que Caputo se juntaria ao governo de Milei como chefe econômico demonstra o apoio de Macri, “preenchendo a maioria dos espaços em branco e reduzindo significativamente a sensação de salto no vazio”, segundo Javier Casabal, estrategista de renda fixa da Adcap securities.
É claro que o presidente eleito ainda precisa confirmar oficialmente quem serão os principais membros de sua equipe econômica. Caputo, ex-ministro das Finanças sob Macri, parece ser um dos candidatos mais prováveis para assumir como ministro da Economia após a transição, informaram duas pessoas com conhecimento direto do assunto à Bloomberg News na quinta-feira.
Enquanto isso, Reidel é mencionado como candidato a liderar o Banco Central da Argentina no lugar de Ocampo, segundo a imprensa local. Milei disse durante a campanha que Ocampo, especialista em dolarização, seria seu presidente do BC com a tarefa de fechar a instituição.
Milei também suavizou sua postura em relação à China e ao Brasil, depois de ameaçar cortar laços diplomáticos durante a campanha. Ele até agradeceu a Xi Jinping por uma carta de congratulações, convidou Luiz Inácio Lula da Silva para sua posse e recebeu uma ligação do Papa Francisco, a quem ele havia criticado no passado.
Embora Milei tenha chamado o governo chinês de “assassino”, sua conselheira de política externa, Diana Mondino, disse que a mídia exagerou nos comentários.
Desde a economia até a política externa, o novo tom mostra a abordagem pragmática de Milei para governar um congresso fragmentado, onde ele precisará do apoio do partido de oposição pró-negócios para realizar qualquer reforma.
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