Na Argentina, fim de controles cambiais surpreende o mercado. Ações e títulos sobem

Papéis da petroleira YPF avançaram quase 10%, enquanto os títulos soberanos tiveram ganhos; dólar oficial sobe mais de 11%, reduzindo a diferença com a cotação paralela

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Por Kevin Simauchi
14 de Abril, 2025 | 04:55 PM

Bloomberg — A dívida soberana da Argentina subiu enquanto o peso se desvalorizou depois que o país suspendeu a maioria de suas restrições ao mercado de câmbio como parte de seu novo programa de US$ 20 bilhões com o Fundo Monetário Internacional (FMI).

A cotação oficial do dólar no país chegou a subir mais de 11%, sendo negociado a 1.196 pesos nesta segunda-feira (14) em Buenos Aires.

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Os títulos soberanos estavam entre os de melhor desempenho nos mercados emergentes. Os rendimentos das notas de referência com vencimento em 2035 caríam para 11,6% ao ano, de acordo com dados de preços compilados pela Bloomberg.

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Os movimentos ocorrem com a reabertura dos mercados, depois que o ministro da Economia, Luis Caputo, disse na sexta-feira que o país receberá US$ 15 bilhões do FMI este ano, dos quais US$ 12 bilhões chegarão na terça-feira (15).

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Ele também anunciou que as autoridades permitirão que a moeda seja negociada em uma faixa de 1.000 pesos a 1.400 pesos por dólar e suspenderão muitas de suas restrições cambiais.

Os gestores de ativos vinham pressionando para que o país sul-americano eliminasse os controles cambiais para facilitar a acumulação de reservas internacionais, dinheiro necessário para sustentar o peso e fazer pagamentos de dívidas no exterior.

Poucos, entretanto, esperavam que o governo fizesse isso antes das eleições de meio de mandato, programadas para o segundo semestre do ano.

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“O momento e o tamanho da operação são surpreendentes”, disse Jared Lou, gestor financeiro de dívidas de mercados emergentes da William Blair.

“O dimensionamento deve ser visto como um resultado líquido positivo, pois o momento em que ocorreu dá ao país melhores chances de acumular reservas.”

A recuperação se estendeu a todos os ativos argentinos. As ações da perfuradora de petróleo YPF, listadas nos EUA, subiram até 17%, a maior alta intradiária desde novembro de 2023.

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Um fundo negociado em bolsa que acompanha as ações argentinas subiu até 9%, revertendo as perdas acumuladas no ano.

As notas emitidas pela província de Buenos Aires também avançaram cerca de 5 centavos de dólar, atingindo o valor mais alto desde março, antes que os problemas geopolíticos e as preocupações com o crescimento dos EUA afundassem os mercados globais.

Os investidores afirmam que novos ganhos dependem do fato de o presidente Javier Milei e sua equipe continuarem a cumprir uma agenda de austeridade fiscal rigorosa, ao mesmo tempo em que estimulam o crescimento econômico e mantêm o apoio popular entre os eleitores.

“Agora, o que realmente importa é a implementação e a continuação de um desempenho superior decente do lado fiscal e das reservas cambiais em relação às previsões”, disse Joe Delvaux, gestor sênior de portfólio de renda fixa de mercados emergentes da Amundi.

Os investidores também estão atentos aos desdobramentos da visita do secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, a Buenos Aires, onde ele se reunirá com Milei.

Algumas pessoas em Wall Street dizem que a visita está pronta para impulsionar ainda mais o ímpeto do líder libertário no país e no exterior, acrescentando que isso pode ser o presságio de um financiamento adicional dos EUA.

“Essa visita trará alívio tarifário ou algum financiamento cambial adicional? Consideramos ambos prováveis”, escreveu Fernando Sedano, economista-chefe do Morgan Stanley para a América Latina excluindo o Brasil, em um relatório de segunda-feira.

‘Grande passo’

O governo também eliminou uma regra importante conhecida como “mistura de dólares”, de modo que todos os dólares de exportação sejam liquidados no mercado de câmbio oficial da Argentina, em vez de um sistema dividido que vigorou durante anos.

As autoridades disseram que acabariam com o limite de US$ 200 por mês para que as pessoas trocassem pesos por dólares, bem como com as taxas aplicadas a essas transações.

As empresas também terão permissão para enviar alguns dividendos ao exterior relacionados a este ano, enquanto os dividendos acumulados nos últimos anos levarão mais tempo para serem pagos.

Separadamente, as empresas poderão pagar imediatamente pelas importações, revertendo uma restrição anterior.

“A mudança para um regime cambial mais sustentável, respaldada por um forte apoio internacional, é um grande avanço para a estrutura da política”, disse Graham Stock, estrategista sênior de mercados emergentes soberanos da RBC Bluebay.

“Já éramos construtivos em relação ao ajuste de política em andamento na Argentina, mas os acontecimentos do fim de semana reforçam sua sustentabilidade.”

Sem dúvida, as medidas para liberalizar a moeda correm o risco de aumentar a inflação seis meses antes das eleições de meio de mandato, que servirão de termômetro para as reformas de Milei, de acordo com os economistas Diego Pereira e Juan Goldin, do JPMorgan Chase. Mas é improvável, acrescentam eles, que isso prejudique o progresso de Milei na eliminação total da inflação.

“A inflação não se acelerará o suficiente para inviabilizar as perspectivas de Milei para as eleições de meio de mandato, mas ainda é um risco a ser monitorado”, disse Lou, da William Blair. “Se ele passar pelas eleições, estará em uma situação muito boa.”

-- Com a colaboração de Vinícius Andrade.

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