Milei vê estratégia de recompor reservas em risco diante de pressão sobre o peso

Depois de compras líquidas acima de US$ 2 bilhões em todos os meses de seu governo, ritmo não passava de US$ 40 milhões em junho, enquanto intervenção no câmbio subiu

A Sur Cambio currency exchange in Buenos Aires, Argentina, on Monday, June 24, 2024. Argentina entered a recession in the first quarter of the year as President Javier Milei’s brutal spending cuts sent consumption and activity plummeting. Photographer: Sarah Pabst/Bloomberg
Por Ignacio Olivera Doll
27 de Junho, 2024 | 09:44 AM

Bloomberg — O banco central da Argentina no governo de Javier Milei tem buscado reconstruir suas reservas internacionais enquanto começa a gastar dinheiro no mercado de câmbio para defender os controles que sustentam o peso, que investidores veem como supervalorizado. Mas começa a enfrentar novas dificuldades nesse passo considerado fundamental para estabilizar a economia.

Aumentar as reservas internacionais é um passo essencial para que a Argentina possa eventualmente suspender os controles cambiais e de capital, o que, por sua vez, incentivaria mais investimentos estrangeiros e abriria caminho para o país retornar aos mercados globais de dívida pela primeira vez desde sua última reestruturação em 2020.

O governo do presidente Javier Milei rapidamente começou a comprar dólares no mercado cambial da Argentina após assumir o cargo em dezembro passado, mas o ritmo desacelerou para um estágio de quase “ponto morto” em junho. As compras mensais ultrapassaram US$ 2 bilhões até maio, mas o banco central havia comprado apenas US$ 39 milhões em junho até a última quarta-feira (26).

Compras líquidas (compras menos vendas) de dólares para as reservas internacionais da Argentina perdem fôlego em junho de 2024

“Sem uma mudança na política cambial e monetária, o banco central terá que vender pelo menos US$ 3 bilhões de suas reservas internacionais durante o terceiro trimestre”, disse Carolina Gialdi, chefe de vendas internacionais da corretora Max Valores, por e-mail à Bloomberg News.

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Um porta-voz do banco central não respondeu a um pedido de comentário.

Embora o banco central ainda tenha comprado mais dólares do que vendeu neste mês, a autoridade monetária tem começado a intervir para sustentar o peso, interrompendo o progresso feito nos meses anteriores. Em 19 de junho, o banco central usou US$ 156 milhões de suas reservas internacionais, a maior venda em um único dia no governo de Milei até aquele momento.

As autoridades argentinas controlam a taxa de câmbio oficial do peso, que atualmente está em cerca de 911 por dólar, e dizem que planejam manter um ritmo de desvalorização mensal de 2%, conhecido como crawling peg, junto com outras medidas cambiais. Os investidores veem essa política como insustentável porque tem ficado atrás da inflação.

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Os preços na Argentina aumentaram mais de 100% desde que Milei assumiu o cargo, mas o peso só se desvalorizou 59% nesse período. Isso significa que a moeda perde competitividade, e produtores agrícolas estão segurando suas exportações até vque o peso desvalorize a um ritmo mais rápido.

Mais sinais de pressão estão surgindo. A taxa de câmbio paralela usada nos mercados financeiros caiu para 1.335 pesos por dólar na quarta-feira — nível 32% mais fraco do que a taxa oficial, em comparação com 17% no mês passado.

O volume de negociação do mercado caiu para cerca de US$ 291 milhões por dia em junho, quase 20% abaixo do mesmo mês do ano passado, de acordo com a corretora ABC Mercado de Cambios.

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Investidores estão precificando uma chance maior de desvalorização, com contratos de peso a três meses no mercado futuro local Rofex subindo para 64% na taxa anualizada na terça (25), ante 52% em maio.

Alguns investidores acreditam que a queda do peso pode forçar Milei a agir mais rapidamente.

“O mercado está vendo sinais de que o fim dos controles cambiais pode acontecer mais cedo do que o esperado”, disse Melina Eidner, economista da corretora Portfolio Personal Inversiones, por telefone.

“Uma saída desses controles necessariamente levaria a um salto na taxa de câmbio, devido ao nível em que o gap cambial está.”

Cotação do peso argentino versus o dólar no mercado paralelo começa a se distanciar do mercado oficial

O presidente do banco central, Santiago Bausili, reduziu a taxa de juros seis vezes desde dezembro, para 40%. Isso está tão abaixo da inflação anual de 276% que desencoraja os argentinos a poupar em pesos e aumenta o risco de demanda por dólares.

Os exportadores agrícolas venderam apenas um quarto de sua safra de soja até agora neste ano, em comparação com uma média de metade da safra no mesmo período do ano passado, de acordo com uma pessoa com conhecimento direto que falou à Bloomberg News. Ainda há cerca de US$ 13,5 bilhões da safra a serem vendidos, disse essa pessoa.

“Exportações mais baixas podem significar que o gap cambial se amplie”, disse Gialdi. “O mercado se sentiria mais confortável com um banco central que continua a comprar reservas, dado que o país não tem acesso ao mercado por enquanto.”

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