Milei inaugura era na Argentina: veja 4 desafios iniciais que terá que enfrentar

Candidato libertário eleito para a presidência do país terá que superar dificuldades para formar um novo governo e conquistar apoio político para os seus projetos

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Bloomberg — A vitória de Javier Milei nas eleições presidenciais da Argentina abre um capítulo novo e incerto na complicada história recente do país vizinho.

Embora Milei tenha sido cuidadoso em suas primeiras palavras como presidente eleito, com tom moderado e estendendo uma bandeira branca a quem quiser aderir ao seu projeto político de “reconstruir” a Argentina, o país não tem tempo a perder.

Com a expectativa de que a inflação ultrapasse 180% ao ano até o final de 2023, uma contração da atividade e a falta de reservas internacionais no banco central, o risco de a economia ficar fora de controle aumenta.

Seguem quatro questões a serem observadas após a vitória do outsider libertário:

1. Transição

Embora o novo presidente tome posse em menos de três semanas, muita coisa pode acontecer no volátil cenário político argentino. Uma desvalorização do peso é quase certa, com a dólar paralelo cotado a quase três vezes o dólar oficial.

O risco de um vácuo político até a posse de Milei, em 10 de dezembro, é real e a especulação de que o ministro da Economia, Sergio Massa, renunciaria após sua derrota nas urnas é uma indicação disso.

O próprio Massa apelou a Milei para conversar com o presidente Alberto Fernández para garantir uma transição tranquila, aparentemente renunciando a seu papel de chefe da economia.

Milei não tem experiência de governo e só atuou como deputado por dois anos.

Enquanto isso, Fernández, que esteve quase ausente nos últimos meses enquanto Massa disputava a presidência, ficaria mais do que satisfeito se Milei tiver que arcar com as consequências da volatilidade que se espera.

O atual governo “precisa assumir sua responsabilidade até o final do mandato”, disse Milei.

Um encontro entre os dois líderes ainda não foi confirmado.

2. Governabilidade

O maior desafio político de Milei será a falta de apoio no Congresso, em que o seu partido conta apenas com uma minoria no Senado e uma fração da Câmara dos Deputados.

Milei terá que usar as próximas três semanas para elaborar um novo orçamento para 2024 e medidas emergenciais que seriam palatáveis o suficiente para que o Congresso as aprove imediatamente se ele quiser que sua presidência comece com o pé direito.

O presidente eleito poderá se beneficiar de sua aliança com o ex-presidente Mauricio Macri, que rapidamente passou a apoiar Milei depois que sua coalizão pró-negócios fracassou no primeiro turno de outubro.

A capacidade de Milei de obter votos no Congresso entre os mais moderados do peronismo será provavelmente a chave para a governabilidade no início do seu mandato.

3. Equipe econômica

Milei ainda não sinalizou quem será seu ministro da Economia, e a escolha certamente dependerá de sua convicção em dolarizar a economia. Ele deve nomear alguém que esteja pronto para buscar soluções drásticas desde o primeiro dia.

“Não há espaço para medidas graduais”, disse o presidente eleito no domingo (19).

Um assessor próximo de Milei disse que ele está considerando três economistas que serviram no governo de Macri para o cargo: Federico Sturzenegger, Demian Reidel e Luis Caputo.

Mas a dolarização total seria um obstáculo para alguns candidatos porque significaria abrir mão da política monetária, de acordo com o assessor, que pediu para não ser identificado.

4. Terapia de choque

Milei disse repetidamente durante a campanha que, se eleito, derrotaria a inflação.

Ele precisa agora articular um plano de estabilização para cumprir a promessa. Se ele conseguir controlar uma das taxas de inflação mais altas do mundo, provavelmente receberá um enorme impulso de popularidade e criará boa vontade no Congresso.

Mas mesmo isso pode gerar volatilidade e tensões sociais no curto prazo, com propostas de cortes significativos nos gastos públicos que podem se tornar um obstáculo ao crescimento, ao mesmo tempo em que colocam em risco sua capacidade de governar.

Os partidos mais à esquerda alertaram Milei que ele enfrentará forte oposição da população.

“Qualquer programa de estabilização que vise reduzir a inflação com sucesso deve abordar o déficit consolidado do setor público”, disseram os analistas Diego Pereira, Lucila Barbeito e Gorka Lalaguna, do JPMorgan. Eles esperam que a economia da Argentina se contraia 3% no próximo ano devido ao ajuste.

“O modelo político de Milei parece bem alinhado com uma terapia de choque, tanto fiscal quanto monetária.”

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