Milei desvaloriza o peso em 54%, corta subsídios e suspende obras em plano inicial

‘Não há mais dinheiro’, repete o novo ministro da Economia, Luis Caputo, em pronunciamento na TV após o fechamento dos mercados nesta terça-feira

Javier Milei, novo presidente da Argentina, na cerimônia de posse no último domingo (10) em Buenos Aires
Por Kevin Simauchi - Manuela Tobías - Ignacio Olivera Doll
12 de Dezembro, 2023 | 07:50 PM

Bloomberg — A Argentina desvalorizou o peso em 54% e anunciou uma série de cortes de gastos nesta noite de terça-feira (12) como os primeiros passos do programa de “terapia de choque” do novo presidente Javier Milei para tentar reviver a economia problemática do país.

A administração recém-inaugurada, que tomou posse no domingo (10), enfraqueceu a taxa de câmbio oficial para 800 pesos por dólar, conforme afirmou o novo ministro da Economia, Luis Caputo, em um pronunciamento televisivo após o fechamento dos mercados locais nesta terça. A cotação estava em 366,5 pesos por dólar antes do discurso.

“Não há mais dinheiro”, disse Caputo repetidamente no vídeo gravado, acrescentando que a Argentina precisa resolver sua “dependência” de déficits fiscais.

Outras medidas anunciadas incluem a redução pela metade do número de ministérios, cortes nas transferências para as províncias e a suspensão de obras públicas. O governo também reduzirá os subsídios nos setores de transporte e energia, entre outros. Ao mesmo tempo, a Argentina aumentará certos programas de bem-estar social, afirmou Caputo.

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O FMI elogiou as “ações iniciais audaciosas” do novo governo pouco depois do anúncio de Caputo. “Sua implementação decisiva ajudará a estabilizar a economia e estabelecerá as bases para um crescimento mais sustentável liderado pelo setor privado”, disse a porta-voz Julie Kozack em um comunicado.

Os dramáticos primeiros passos seguem um discurso de posse sombrio no domingo, quando Milei alertou que os argentinos terão que suportar meses de dificuldades enquanto ele trabalha para tirar o país da crise econômica herdada de seu antecessor. A inflação já está em mais de 140% ao ano, e os preços devem subir entre 20% e 40% nos próximos meses, afirmou o presidente.

O governo fechou o registro de exportações da Argentina na segunda-feira (11), um passo técnico que muitas vezes antecipa uma desvalorização da moeda ou uma mudança significativa na política. O banco central também anunciou na segunda-feira que o mercado de câmbio oficial operaria com transações limitadas - uma restrição que será retirada na quarta-feira (13).

As horas que antecederam o anúncio

A desvalorização era vista havia muito tempo como inevitável.

Nas semanas que antecederam a posse de Milei, os mercados sinalizavam uma queda na moeda de cerca de 27% na primeira semana do novo governo, enquanto bancos de investimento como o JPMorgan Chase e empresas locais de consultoria privada sugeriam que poderia enfraquecer cerca de 44%.

Supermercados já haviam aumentado os preços e os bancos estavam oferecendo taxas de câmbio de varejo significativamente mais fracas horas antes do anúncio de terça-feira.

As autoridades argentinas, há anos, desaceleraram a queda do peso no mercado oficial por meio de controles cambiais e restrições às importações na tentativa de proteger as reservas em declínio.

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Essa mistura de controles de capital gerou pelo menos uma dúzia de taxas de câmbio, prejudicando os negócios e restringindo os investimentos na segunda maior economia da América do Sul. Na campanha, Milei prometeu eliminar a moeda local, substituindo-a pelo dólar americano.

“Estamos sempre em situação pior porque nossa resposta tem sido atacar as consequências, mas não o problema”, disse Caputo em seu discurso. “O que viemos fazer é o oposto do que sempre fizeram, e isso é resolver o problema em sua raiz.”

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