Membros do Fed consideram nova pausa no aperto após disparada de títulos do Tesouro

Questão-chave é se recente aumento reflete expectativas de economia mais forte ou apenas uma compensação para suportar o risco das taxas de juros

O vice-presidente do Federal Reserve, Philip Jefferson
Por Liz Capo McCormick - Steve Matthews - Craig Torres
10 de Outubro, 2023 | 10:42 AM

Bloomberg — Principais autoridades do Federal Reserve estão se aproximando da ideia de que condições financeiras mais apertadas após um recente aumento nos rendimentos dos títulos do Tesouro dos Estados Unidos podem substituir aumentos adicionais na taxa de juros.

O vice-presidente do Fed, Philip Jefferson, disse na segunda-feira (9) em uma conferência que ele “continuaria ciente do aperto nas condições financeiras devido aos rendimentos mais altos dos títulos” ao avaliar “o futuro caminho da política monetária”, ecoando comentários semelhantes de outros membros do Fomc nos últimos dias.

A questão-chave é se o recente aumento nos rendimentos das Treasuries reflete as expectativas dos investidores de uma economia mais forte ou apenas uma compensação adicional necessária para suportar o risco das taxas de juros. A resposta para isso provavelmente só teremos na próxima decisão de política monetária, em 1º de novembro.

“Os mercados de repente estão fazendo todo o trabalho sujo para o Fed”, disse Yelena Shulyatyeva, economista sênior dos EUA no BNP Paribas. “Parece que a maioria, incluindo alguns dos formuladores de políticas mais hawkish, concorda em seguir com mais cautela.”

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Os rendimentos dos títulos do Tesouro de 10 anos subiram cerca de 40 pontos-base desde a reunião de política do Fed em setembro, para 4,8% no fechamento de sexta-feira (6).

Projeções publicadas após a reunião mostraram que a maioria dos funcionários esperava que mais um aumento nas taxas de juros este ano - e menos cortes no próximo ano - seriam necessários para trazer a inflação de volta a 2%.

Menor necessidade de aperto

Na segunda-feira (9), a presidente do Fed de Dallas, Lorie Logan, indicou que se os prêmios de risco no mercado de títulos estiverem aumentando, isso “poderia fazer parte do trabalho de arrefecimento da economia para nós, reduzindo a necessidade de aperto adicional na política monetária”.

Os comentários de Logan no evento da Associação Nacional de Economia Empresarial foram semelhantes aos de Mary Daly, presidente do Fed de São Francisco, que disse em 5 de outubro que “se as condições financeiras, que se estreitaram consideravelmente nos últimos 90 dias, permanecerem estreitas, a necessidade de tomarmos medidas adicionais diminui”.

Atualmente, os investidores veem pouca chance de um aumento nas taxas de juros na reunião de 31 de outubro a 1º de novembro e atribuem chances inferiores a 50% de qualquer aperto adicional em 2023, de acordo com os juros futuros.

“O Federal Reserve provavelmente vai esfriar o ânimo na reunião de novembro, que será uma oportunidade para lembrar aos investidores que cortes nas taxas de juros nem sequer estão na mesa por enquanto”, avalia Mark Cranfield, da Bloomberg Economics.

As falas ocorrem apesar de um relatório mensal do departamento de estatísticas dos EUA ter mostrado na sexta-feira (6) que o número de vagas de emprego está crescendo acima do esperado. Os dados contribuíram para um aumento das apostas de um outro aumento dos juros este ano, mas foram amenizadas após o ataque surpresa do Hamas a Israel no fim de semana.

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Membros do Fed estão cientes no aumento dos rendimentos dos títulos

“Jefferson basicamente acabou de dizer que o Fed está em modo de espera, mas que eles têm que levar em consideração que as taxas longas mais altas estão começando a desacelerar a economia”, disse Andrew Brenner, chefe de renda fixa internacional da NatAlliance Securities.

“O Fed finalmente reconheceu o fato de que a alta das taxas reais está surtindo efeito e está fazendo parte do trabalho que eles queriam ao elevar as taxas de juros”, disse Brenner.

Os formuladores de políticas monetárias ainda não estão prontos para oficializar o fim do ciclo de aperto. Jefferson disse na segunda-feira que estava “particularmente atento aos riscos de alta para a inflação, como aqueles associados à economia e ao mercado de trabalho que permanecem fortes demais para alcançar mais desinflação”.

“A melhora na inflação é porque eles podem ser pacientes, e a alta das taxas é a razão pela qual eles deveriam ser pacientes”, disse Lou Crandall, economista-chefe da Wrightson ICAP.

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