Magnata argentino aposta em riquezas minerais da região com tese de demanda secular

Jose Luis Manzano, da Integra Capital, diz à Bloomberg News em rara entrevista o racional de investimentos em áreas ricas do mineral no norte do país e no Brasil

Vaca Muerta
Por Jonathan Gilbert - Daniel Cancel
21 de Maio, 2024 | 05:05 AM

Bloomberg — Ao longo de três décadas, Jose Luis Manzano construiu uma reputação por se envolver em setores considerados “problemáticos” na Argentina e navegar por ciclos econômicos e políticos tumultuados para moldar um portfólio que vai de energia ao setor de mídia.

Agora, por meio de sua holding Integra Capital, ele aposta pesado na mineração, pois acredita que algumas matérias-primas abundantes na América do Sul serão essenciais para abastecer o futuro do mundo - e, especialmente a transição para a energia limpa.

A Argentina, tradicionalmente um país agrícola e petrolífero, tem atraído investidores recentemente para seus vastos e subdesenvolvidos recursos de lítio e cobre.

Manzano tem adquirido minas e áreas ricas em lítio no norte da Argentina, bem como explorado o chamado Vale do Lítio no Brasil.

PUBLICIDADE

No fim do ano passado, a Integra Capital também afastou concorrentes, como o bilionário Eduardo Eurnekian, para reiniciar um grande projeto de fertilizante de potássio abandonado pela Vale na província natal de Manzano, Mendoza, mais conhecida pelos vinhos Malbec.

Leia mais: Magnata dobra aposta em Vaca Muerta, enquanto renováveis patinam na Argentina

“Acreditamos que estamos nos posicionando em áreas que serão necessárias pelos próximos 50 a 100 anos”, disse Manzano em uma rara entrevista a partir de Londres para a Bloomberg News.

Sua mais recente movimentação foi a compra da mineradora peruana Volcan Cia Minera da Glencore.

O médico de 68 anos foi ministro no governo do ex-presidente Carlos Menem no início dos anos 1990 antes de entrar no mundo dos negócios com uma empresa de televisão.

Manzano agora vive em Genebra e citou isso como fundamental para fechar negócios com potências suíças de commodities como a Glencore. Além dos dois projetos de mineração adquiridos da empresa europeia, ele acertou parceria com o Mercuria Energy Group no crescente setor de petróleo de xisto da Argentina e na distribuidora de gás natural Metrogas.

Mas Manzano agora olha principalmente para além dos combustíveis fósseis. Um exemplo veio na semana passada, quando ele diluiu seu interesse em blocos para a exploração de xisto. Quaisquer novos empreendimentos fora da mineração se concentrarão em energia mais limpa.

PUBLICIDADE

Por enquanto, Manzano trabalha para colocar os projetos de mineração a todo vapor.

“Estamos recrutando pessoas todos os dias”, disse ele. “Não falta pessoal qualificado na Argentina. Estou muito entusiasmado porque eles estavam esperando a Argentina se tornar um país minerador, e agora veem a oportunidade.”

A mineração não é apenas uma forma de Manzano apostar no cenário energético em mudança. O projeto de potássio em Mendoza — um ingrediente chave em fertilizantes usados em cultivos — também pode ajudar a satisfazer o apetite de uma população global crescente. “A segurança alimentar não acontecerá sem potássio”, disse ele.

Leia mais: O potencial do lítio na Argentina e os maiores desafios após a queda dos preços em 2023

Essa aquisição com um parceiro brasileiro demonstrou a habilidade de Manzano para investimentos na contramão do mercado, dada a atual superabundância mundial do nutriente agrícola. Ele frequentemente compra quando todos os outros estão saindo. A Vale abandonou o projeto há uma década devido ao difícil clima de negócios na Argentina sob um governo de esquerda.

Presidente Milei

A nação agora deu um salto para o outro extremo do espectro político com o presidente Javier Milei, um libertário em seu primeiro ano no poder.

Manzano tem sido hábil em surfar os picos inflacionários da Argentina, os calotes da dívida soberana e as restrições ao fluxo de dinheiro. Sob o governo Milei, ele e outros líderes empresariais veem oportunidades para aumentar sua riqueza pessoal e solidificar seus legados.

Milei busca reduzir o papel do governo, desregulamentar a economia e libertar os negócios de uma série de controles para atrair investimentos e criar empregos no setor privado. Sua legislação principal atualmente em tramitação no congresso também inclui amplos benefícios fiscais e cambiais para investidores de grandes indústrias como a mineração.

Manzano, tradicionalmente próximo ao partido Peronista que Milei derrotou nas eleições do ano passado, está satisfeito com o que viu até agora.

“Estou otimista”, disse ele. “Acreditamos que a ação inicial contra a inflação está com sucesso e que talvez a economia possa começar a crescer no quarto trimestre - e isso está atraindo muita atenção para os investimentos na Argentina.”

Um negócio que já funciona bem sob Milei - que tem aumentado os preços baixos de serviços públicos e transporte da Argentina - é a participação controladora que Manzano comprou com parceiros há mais de três anos na distribuidora de energia elétrica de Buenos Aires, a Edenor.

As ações da Edenor negociadas em Nova York saltaram mais de 400% desde que a aquisição foi anunciada.

Investimento de Manzano na Edenor, empresa de distribuição de energia, tem gerado retorno de mais de 400% desde 2020

“Em primeiro lugar, ele é uma pessoa extremamente inteligente; isso é algo que seus amigos e inimigos reconhecem.

Em segundo lugar, ele sabe como se mover nos corredores do poder”, disse Jose Manuel Ortega, um ex-banqueiro do Santander que investiu em Mendoza e interagiu com Manzano. “Ele conseguiu obter capital de investidores e parceiros para fazer esses negócios, e obviamente isso ajuda a construir sua fortuna pessoal.”

Ainda assim, a guinada de Manzano para a mineração não acontece sem desafios na Argentina, onde a indústria é pequena em comparação com a vizinha Chile e tem lutado para convencer as comunidades de que os benefícios econômicos superam os riscos ambientais.

Além disso, nem todos os negócios de Manzano deram certo. Uma participação em um empreendimento com a estatal petrolífera venezuelana PDVSA está produzindo apenas uma fração de sua capacidade. E as ações da Interoil Exploration and Production ASA, uma empresa norueguesa na qual a Integra tem uma pequena participação, despencaram neste ano.

Manzano disse que o projeto venezuelano deve aumentar a produção nos próximos anos e que os problemas nas áreas de perfuração na Colômbia que estão segurando a Interoil seriam resolvidos.

Quando Manzano eventualmente se afastar, ele pode recorrer ao confidente jurídico Nicolas Mallo Huergo, 54 anos, que ocupa posições-chave nas empresas de mineração e energia da Integra. Quando questionado sobre um sucessor, Manzano colocou o nome de Mallo Huergo na lista curta.

“Ele está muito envolvido em todas as fusões e aquisições, na gestão e na supervisão das empresas”, disse Manzano.

Veja mais em Bloomberg.com

Leia também

Família da Cimed alavanca vendas e se torna bilionária com impulso de redes sociais