Keir Starmer promete estabilidade e alerta que mudança no Reino Unido levará tempo

Novo primeiro-ministro britânico assume após 14 anos de poder do Partido Conservador; ‘a ferida só será curada com ações, não com palavras’, disse o político trabalhista em discurso inaugural

Keir Starmer em seu primeiro discurso como primeiro-ministro britânico em frente a Downing Street, 10, a residência oficial em Londres
Por Alex Wickham - Ailbhe Rea
05 de Julho, 2024 | 12:03 PM

Bloomberg — O novo primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, prometeu um governo de “estabilidade e moderação” em seu primeiro discurso depois de levar seu Partido Trabalhista a uma vitória eleitoral esmagadora que pôs fim a 14 anos de governo conservador, caracterizado por tumultos e brigas internas.

Em uma dramática reformulação do cenário político, os trabalhistas conquistaram 412 das 650 cadeiras da Câmara dos Comuns, o maior número desde o triunfo de Tony Blair em 1997.

Os conservadores obtiveram 121 cadeiras, seu pior desempenho de todos os tempos, o que pôs fim à administração de Rishi Sunak sobre o país e seu partido.

Starmer, 61 anos, prometeu “reiniciar” a política britânica em um discurso do lado de fora do número 10 da Downing Street, em Londres - a residência oficial do primeiro-ministro - nesta sexta-feira (5), depois de ter sido formalmente nomeado para o cargo pelo rei Charles III no Palácio de Buckingham.

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“Isso levará algum tempo, mas não tenha dúvida de que o trabalho de mudança começa imediatamente.” Ele disse que seu governo iria “reconstruir a Grã-Bretanha com a riqueza criada em cada comunidade”.

Qualquer euforia trabalhista em relação ao tamanho de sua vitória, no entanto, será rapidamente ofuscada pela escala dos desafios que o próximo governo enfrentará.

Além da tarefa de fazer com que a economia cresça mais rapidamente, a eleição expôs divisões que parecem mais arraigadas. De fato, o resultado enfático no Parlamento deveu-se tanto à divisão do voto conservador em favor de forças mais radicais quanto à adoção de políticas trabalhistas.

Starmer reconstruiu seu partido desde que seu antecessor à frente da esquerda, Jeremy Corbyn, levou os trabalhistas ao pior desempenho em mais de oito décadas na última eleição em 2019, uma votação dominada pelo tema da tortuosa saída do Reino Unido da União Europeia - o Brexit.

Essa tensão persistente foi confirmada pelo surgimento de vozes à direita e à esquerda, desde o partido populista Reform UK, do “arquiteto” do Brexit Nigel Farage, até independentes de esquerda que fizeram campanha contra a guerra em Gaza.

Starmer procurou estabelecer um contraste com o período em que os conservadores estiveram no poder. Starmer garantiu aos britânicos que “os senhores têm um governo livre de doutrinas”.

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A mudança no Reino Unido contrasta com alguns de seus vizinhos e aliados.

Na França, os partidos de centro e esquerda buscam descobrir como deter a ascensão da extrema direita depois que o Reunião Nacional de Marine Le Pen dominou o primeiro turno das eleições parlamentares no último fim de semana. Nos Estados Unidos, os democratas estão debatendo se o presidente Joe Biden é o homem certo - dada a sua condição de saúde mental - para deter Donald Trump.

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Os trabalhistas, por sua vez, conquistaram uma maioria parlamentar massiva, ainda que tenham obtido apenas cerca de 34% dos votos. Em uma mensagem para aqueles que não votaram nos trabalhistas, Starmer prometeu mostrar que a política pode ser uma força para o bem.

O novo primeiro-ministro nomeará seu gabinete ainda nesta sexta-feira. Rachel Reeves, ex-economista do Banco da Inglaterra e peça-chave do discurso trabalhista para as empresas, será a primeira mulher Chanceler do Tesouro do Reino Unido.

De fato, os mercados financeiros parecem otimistas. O índice de ações FTSE 100 subia nesta sexta, enquanto os rendimentos dos Gilts - os títulos soberanos - caíram. A libra esterlina subiu em relação a um dólar amplamente mais fraco, sendo negociada em torno de US$ 1,28.

“Essa ferida, essa falta de confiança, só pode ser curada com ações, não com palavras”, disse Starmer.

- Com a colaboração de Ellen Milligan, Joe Mayes, Aisha S Gani, Celia Bergin e Irina Anghel.

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