Kamala Harris recebe apoio amplo de democratas e abre caminho para indicação

Vice-presidente recebeu o apoio de principais figuras do partido, incluindo governadores que seriam potenciais adversários; na noite de segunda, passou a ter o número suficiente de delegados a seu favor

Kamala Harris
Por Jordan Fabian - Akayla Gardner
22 de Julho, 2024 | 03:40 PM

Bloomberg — A vice-presidente Kamala Harris consolidou o apoio de democratas para sua candidatura presidencial, em um esforço para acabar com a turbulência que consumiu seu partido e alterar uma campanha que tem sido focada especialmente na derrota de Donald Trump.

Menos de 24 horas após a saída do presidente Joe Biden da disputa, Harris parecia ter um caminho livre para receber a indicação oficial do partido. Nenhum outro nome democrata de destaque disse que desafiaria a vice-presidente.

Na noite de segunda, segundo cálculos da AP, já contava com o número suficiente de delegados para ser confirmada na convenção democrata como a candidata do partido.

Horas antes, ela já havia recebido o apoio das principais figuras do partido, incluindo governadores democratas que, seriam potenciais adversários, como Gavin Newsom, da Califórnia, JB Pritzker, de Illinois, e Gretchen Whitmer, de Michigan.

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A ex-presidente da Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi, que ajudou a levar Biden a desistir da corrida eleitoral, declarou apoio a Harris nesta segunda-feira (22), juntando-se à onda democrata que apoia a candidatura da vice-presidente.

Leia também: Por que o Partido Democrata precisa se unir em torno da candidatura de Kamala Harris

Até o final do domingo, Harris havia contatado mais de 100 autoridades do partido, líderes trabalhistas, grupos ativistas, legisladores democratas seniores e legisladores estaduais para pedir seu apoio, de acordo com uma pessoa familiarizada com o assunto ouvida pela Bloomberg News.

Entre eles estão dois ex-presidentes - Bill Clinton e Barack Obama - bem como a ex-candidata democrata à presidência Hillary Clinton, o líder da maioria no Senado, Chuck Schumer, e o líder da minoria na Câmara, Hakeem Jeffries.

A vice-presidente assumiu a campanha de Biden, que foi rebatizada de “Harris for President”, dando a ela acesso aos US$ 96 milhões de caixa. Ela deve viajar para a sede da campanha em Wilmington, no estado de Delaware, nesta segunda-feira para reunir a equipe.

Harris prestou homenagem a Biden em um evento para atletas universitários na Casa Branca, sua primeira aparição pública desde que ele saiu da disputa, dizendo que o líder dos EUA “já superou o legado da maioria dos presidentes que cumpriram dois mandatos”.

“Sou testemunha em primeira mão de que todos os dias nosso presidente, Joe Biden, luta pelo povo americano, e somos profundamente gratos por seu serviço à nossa nação”, disse Harris.

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Biden havia planejado originalmente falar no evento, mas permaneceu em Delaware se recuperando da covid-19.

Harris participará do primeiro comício como candidata presidencial na terça-feira (23) em Wisconsin, uma oportunidade de montar uma ofensiva contra Trump e superar as controvérsias sobre a idade de Biden que dividiram seu partido.

Na segunda-feira, a deputada Debbie Wasserman Schultz, ex-presidente do Comitê Nacional Democrata, previu que Harris garantiria a maioria dos delegados prometidos "em pouco tempo". Até o meio-dia de segunda-feira, Harris tinha quase a metade dos delegados de que precisava para se tornar a candidata presumida do partido.

“Ela fez por merecer este momento e esta indicação”, disse Wasserman Schultz aos repórteres em uma teleconferência. “Ela trabalhou e ganhou o apoio do nosso partido.”

Os eventos do último mês empurraram os Estados Unidos para o desconhecido e Harris enfrenta inúmeros desafios nas próximas semanas. Os republicanos criticaram a decisão de Biden de se afastar semanas antes da convenção de nomeação dos democratas como uma subversão da vontade dos eleitores das primárias. Alguns membros do próprio partido de Harris também pediram um processo de nomeação competitivo.

Harris também precisa escolher um companheiro de chapa, reconquistar os eleitores que se afastaram de Biden e se preparar para os ataques de Trump, que devem ser altamente pessoais.

A ascensão da vice-presidente para se tornar a cabeça de chapa de seu partido é uma reviravolta do destino. Seu futuro político parecia sombrio há apenas um mês: a candidatura presidencial de Harris em 2020 fracassou antes que um único voto fosse dado e seu mandato inicial como vice-presidente foi marcado por repetidos erros. Os republicanos já usaram temas como a imigração para ataques iniciais.

Possíveis nomes a vice-presidente

Ainda assim, o fato de Kamala Harris ter conseguido reunir tão rapidamente o apoio dos principais democratas demonstra o apoio que ela conquistou entre figuras influentes, desde líderes dos direitos civis até doadores com grandes recursos. Isso também reflete outra realidade: ignorar a primeira vice-presidente negra, asiática e mulher teria o potencial de alienar os eleitores de cor e as mulheres dos subúrbios - dois grupos que os democratas precisam conquistar.

A primeira grande escolha de Harris será seu candidato a vice-presidente. As especulações giraram em torno de um grupo de homens brancos eleitos, muitos dos quais são de estados em disputa.

Isso incluiu um grupo de governadores - Josh Shapiro, da Pensilvânia, Roy Cooper, da Carolina do Norte, Andy Beshear, do Kentucky, e Tim Walz, de Minnesota - bem como o senador Mark Kelly, do Arizona. Whitmer disse à afiliada da CBS em Lansing que não estava interessada no cargo.

Biden apoiou Harris no domingo, menos de meia hora depois de anunciar que estava desistindo, e outros democratas seniores rapidamente a seguiram, incluindo Bill e Hillary Clinton e a senadora de Massachusetts Elizabeth Warren, um ícone progressista.

A eles se juntaram pesos pesados de Wall Street e do Vale do Silício, incluindo George e Alex Soros, Roger Altman, da Evercore, e Reid Hoffman, da Greylock Partners, um sinal promissor para o partido depois que os doadores abandonaram em massa a candidatura de Biden.

As omissões notáveis nas primeiras horas incluíram Obama, que não planejava endossar um candidato até que ele garantisse a indicação, bem como Schumer e Jeffries.

"Estaremos navegando em águas desconhecidas nos próximos dias. Mas tenho uma confiança extraordinária de que os líderes do nosso partido serão capazes de criar um processo do qual surja um candidato excepcional", disse Obama em uma declaração no domingo.

Campanha renovada

A mudança de rumo parecia renovar os ânimos entre os eleitores democratas depois de semanas de previsões de desgraça, com as pesquisas mostrando o aumento da diferença entre Trump e Biden.

Os democratas arrecadaram mais de US$ 50 milhões on-line no domingo, depois que Biden anunciou sua retirada, de acordo com a ActBlue, a plataforma de doações do partido.

Uma pesquisa recente da CBS News/YouGov mostrou Harris atrás de Trump por uma margem menor do que Biden em nível nacional. Harris também teve um desempenho dois pontos percentuais melhor do que Biden nos estados de Pensilvânia e Virgínia, de acordo com uma pesquisa do New York Times/Siena College.

Harris, de 59 anos, representa um novo desafio para Trump, de 78 anos, como uma candidata mais jovem e enérgica, que conhece bem a questão mais forte dos democratas - o direito ao aborto - e não tem medo do enfrentamento. Seu momento mais memorável durante a campanha de 2020 foi seu ataque no palco do debate ao histórico de Biden sobre integração escolar.

No entanto, Harris tem vulnerabilidades, incluindo um mandato marcado pela frequente rotatividade de pessoal e dúvidas persistentes sobre sua aptidão para a negociação política. Também há dúvidas sobre sua agenda de política interna e externa, uma lacuna que os republicanos poderiam explorar.

-- Com a colaboração de Josh Wingrove.

- Matéria atualizada às 7h de terça-feira com a informação do apoio de delegados para a convenção do Partido Democrata.

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