Javier Milei derrota Sergio Massa e será o novo presidente da Argentina

Candidato de oposição tinha cerca de 55% dos votos válidos no segundo turno neste domingo (19), com vantagem de cerca de 2,9 milhões de votos sobre o atual ministro da Economia

Javier Milei em um ato eleitoral no dia 22 de outubro, data do primeiro turno das eleições argentinas (Foto: Anita Pouchard Serra/Bloomberg)
Por Patrick Gillespie - Manuela Tobías - Ignacio Olivera Doll
19 de Novembro, 2023 | 08:32 PM

Bloomberg — (Esta é a versão atualizada de nota publicada originalmente às 3h05)

Javier Milei, 53 anos, será o próximo presidente da Argentina. O candidato outsider com soluções consideradas radicais para a crise econômica da Argentina, venceu o segundo turno das eleições presidenciais neste domingo (19) contra o atual ministro da Economia, Sergio Massa.

“A situação da Argentina é crítica, as mudanças são drásticas, não há lugar para o gradualismo, não há lugar para a timidez, não há lugar para meias medidas”, afirmou Milei em seu discurso da vitória.

O próximo presidente da Argentina, que vai substituir o atual, Alberto Fernández, no próximo dia 10 de dezembro, ou seja, daqui a apenas três semanas, terá como primeira missão definir o seu gabinete de ministros, a começar pela área mais importante, a da economia.

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Massa reconheceu a vitória do adversário em Buenos Aires na noite de domingo antes mesmo da divulgação oficial dos resultados, dizendo que ligou para Milei para parabenizá-lo por sua vitória.

Duas horas depois, com cerca de 99% das urnas apuradas, Milei aparecia com 55,70% dos votos válidos, contra 44,29% de Massa, o que correspondeu a uma diferença de quase 3 milhões de votos.

“Os argentinos escolheram outro caminho”, disse Massa em um discurso para seus apoiadores.

O resultado dá a Milei, um candidato de direita que defende o estado mínimo e se considera um libertário, um mandato para cumprir promessas de campanha, incluindo abandonar o peso em favor do dólar dos Estados Unidos e fechar o banco central, ao mesmo tempo em que realiza cortes drásticos nos gastos públicos na tentativa de tirar o país de 46 milhões de habitantes de sua crise.

No entanto o tipo de “terapia de choque” de Milei coloca a Argentina em um caminho de incerteza, com alguns economistas alertando que dolarizar a economia de US$ 622 bilhões em um momento em que as reservas internacionais estão esgotadas poderia levar a nação sul-americana a outra rodada de hiperinflação.

Funcionários do Fundo Monetário Internacional, por sua vez, pediram ao próximo governo que reajuste rapidamente a economia, enfatizando que não há tempo para políticas graduais.

“Um período de longa incerteza se inicia”, afirmou Daniel Kerner, diretor para a América Latina no Eurasia Group. “Milei não possui uma equipe e seu plano é muito difícil de ser implementado. Além disso, ele terá uma oposição muito mobilizada desde o início.”

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O fato de os argentinos optarem por uma mudança radical em vez da continuidade oferecida por Massa e pelo outrora todo-poderoso movimento peronista é testemunho da crise, à medida que a inflação vai a 143% ao ano, tirando-lhes o poder de compra.

O economista libertário, que ingressou na política há dois anos, deu a resposta mais clara, embora arriscada, para a realidade cotidiana da aceleração desenfreada dos preços, o maior problema dos eleitores.

Agora, a atenção se voltará para como Milei implementará suas medidas mais contestadas com apenas um punhado de representantes em um Congresso fragmentado e um eleitorado impaciente, com mais de 40% dos argentinos abaixo da linha da pobreza.

A capacidade de Milei de obter votos no Congresso entre os elementos mais moderados do peronismo será provavelmente a chave para a governabilidade no início do seu mandato.

Massa, da coalizão governista Peronista, havia ficado em primeiro lugar no primeiro turno de 22 de outubro, uma notável retorno após perder uma eleição primária dois meses antes, em agosto.

No entanto a situação crítica da economia argentina, marcada pela inflação e uma iminente recessão, representou um desafio muito grande para sua candidatura presidencial.

Relações com Brasil e China

A vitória para o teórico do livre mercado é ao mesmo tempo uma perda para o Brasil e a China, os dois principais parceiros comerciais da Argentina. Milei afirmou ao longo de sua campanha que congelaria as relações com essas potências econômicas porque as considera “socialistas”.

O comércio total com a China e o Brasil foi avaliado em cerca de US$ 55 bilhões no ano passado, quase três vezes o valor do comércio com os EUA, o terceiro maior parceiro comercial da Argentina.

Milei chegou a se referir à China como um “assassino” e depois esclareceu que ainda permitiria o comércio livre entre empresas privadas, ilustrando o desafio que enfrenta ao transformar retórica de campanha em realidade.

O gigante asiático felicitou Milei pela vitória nesta segunda-feira (20). “A China valoriza as suas relações com a Argentina e estamos prontos para trabalhar com a Argentina para continuar a nutrir a nossa amizade e contribuir para o desenvolvimento mútuo”, disse a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Mao Ning, em uma coletiva de imprensa em Pequim.

O presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, que apoiou abertamente Massa, desejou sucesso ao novo governo sem mencionar Milei em uma postagem no X, a plataforma anteriormente conhecida como Twitter. “O Brasil estará sempre pronto para trabalhar com nossos irmãos argentinos”, disse ele. Donald Trump e Elon Musk foram alguns dos políticos e empresários que parabenizaram Milei.

- Com informações da Bloomberg Línea.

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