Japão entra em recessão e mercado reduz apostas em alta de juros

Resultado mais fraco do que o esperado complicará a situação do Banco do Japão, que não aumenta juros desde 2007

Loja da 7-Eleven em Tóquio: país é o maior comprador de Treasuries americanos e um dos maiores investidores estrangeiros globais
Por Erica Yokoyama - Yoshiaki Nohara
15 de Fevereiro, 2024 | 10:36 AM

Bloomberg — A economia do Japão entrou inesperadamente em recessão depois de encolher pelo segundo trimestre consecutivo por conta da demanda interna fraca, o que levou o mercado a diminuir as apostas no fim da taxa básica de juros negativa do país.

O PIB teve uma contração anualizada de 0,4% nos últimos três meses do ano passado, após um recuo revisado de 3,3% no trimestre anterior, segundo dados divulgados nesta quinta-feira (15).

O relatório mostrou que tanto as famílias quanto as empresas cortaram gastos pelo terceiro trimestre consecutivo.

A economia do Japão caiu para quarta maior do mundo, baseado no valor do PIB em dólar. A Alemanha subiu para a terceira maior.

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Apenas um dos 34 economistas sondados pela Bloomberg previu contração no trimestre, enquanto o consenso era de crescimento de 1,1%.

Os contratos de swaps associados às decisões de política monetária do Banco do Japão agora precificam cerca de 63% de chance de uma alta de juros até abril, contra 73% do dia anterior.

Recessão no Japão

O resultado mais fraco do que o esperado complicará a situação do Banco do Japão, que não aumenta juros desde 2007.

“Este é um vento contrário para o Banco do Japão”, disse Takeshi Minami, economista da Norinchukin Research. Antes dos dados de PIB, “havia um sentimento de que o Banco do Japão acabaria com a taxa negativa em março ou abril”, disse.

Os mercados acompanham de perto os movimentos do Banco do Japão porque o país é o maior comprador de Treasuries americanos e um dos maiores investidores estrangeiros globais.

O iene é uma das moedas que balizam o valor do dólar no mercado de câmbio internacional e financia as chamadas operações de carry trade com ativos de países emergentes como o Brasil.

Uma alta de juros pode enxugar liquidez de mercados onde os fundos japoneses investem se eles forem atraídos de volta para o mercado de renda fixa doméstico.

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Os dados desta quinta-feira ressaltam a necessidade de manter uma política monetária flexível, dada a dependência do Japão da demanda externa e uma demanda interna mais fraca em um contexto de inflação.

“A inflação persistente está reduzindo o poder de compra dos consumidores, levando a um consumo fraco”, disse Minami. “Isso é uma estagflação moderada.”

Atsushi Takeda, economista-chefe do Itochu Research Institute, disse que a possibilidade de um aumento de juros em março está agora praticamente eliminada, embora ele ainda espere uma mudança em abril.

O enfraquecimento do iene, de volta a níveis não vistos desde novembro, ameaça estimular a pressão inflacionária.

Em 2023, o PIB nominal do Japão ficou em cerca de US$ 4,19 trilhões, com base na taxa de câmbio no final do ano.

O da Alemanha ficou em cerca de US$ 4,55 trilhões. A economia da Índia deve ultrapassar as do Japão e Alemanha nos próximos anos, de acordo com o Fundo Monetário Internacional.

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