Itália: novo imposto mira os lucros dos bancos e pega o mercado de surpresa

Governo de direita da primeira-ministra Giorgia Meloni vai taxar os lucros extras das instituições financeiras em 40%; medida pode custar 2 bilhões de euros aos bancos

Vista de Roma, na Itália
Por Sonia Sirletti - Alessandra Migliaccio - Chiara Remondini
08 de Agosto, 2023 | 10:25 AM

Bloomberg — O governo de direita da Itália chocou investidores com um imposto inesperado sobre ganhos dos bancos, eliminando cerca de US$ 10 bilhões em valor de mercado de instituições financeiras do país.

Na noite de segunda-feira (7), o vice-primeiro-ministro Matteo Salvini anunciou um imposto de 40% sobre lucros extras de bancos para 2023, como parte de um amplo decreto aprovado em uma reunião de gabinete. Analistas do Citi estimam que o imposto vai encolher os lucros em 19%.

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A taxa visa receitas mais altas com juros após o aperto monetário do Banco Central Europeu, de acordo com uma pessoa a par do assunto que não quis ser identificada ouvida pela Bloomberg News.

O governo ainda não divulgou detalhes ou o texto do decreto que pode custar aos bancos cerca de 2 bilhões de euros (US$ 2,2 bilhões), de acordo com uma estimativa inicial de analistas.

O governo de direita da Itália busca uma maneira barata de financiar o auxílio para famílias atingidas pela crise do custo de vida, o que inclui cortes de impostos e apoio a hipotecas para quem compra a primeira casa própria.

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No entanto, a medida requer aprovação do parlamento e pode ser alterada. Também poderia ser contestada nos tribunais, como uma medida semelhante na Espanha.

Ações de bancos italianos caem

Bancos italianos puxavam a queda do índice Stoxx Europe 600 nesta terça-feira, com perdas para o UniCredit e Intesa Sanpaolo. A desvalorização das ações do setor bancário eliminou 9,5 bilhões de euros em valor de mercado de instituições financeiras italianas.

John Bilton, chefe de estratégia global de ativos múltiplos do JPMorgan Chase, disse à Bloomberg TV que a medida gera preocupação “sobre as motivações da política econômica italiana”.

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E acrescentou: “É claro que isso vai dar aos investidores uma pausa para pensar quando se trata de precificar o risco de crédito italiano em relação ao risco de crédito alemão”, acrescentando que em alguns dias será possível observar “como os mercados descontam isso.”

A medida vem logo depois de os bancos italianos divulgarem resultados fortes. Intesa e Unicredit elevaram as projeções para o ano pelo segundo trimestre consecutivo, em meio ao rápido aperto da política monetária do Banco Central Europeu. A receita líquida de juros da UniCredit, por exemplo, subiu 42% no primeiro semestre.

O novo imposto segue um padrão semelhante em toda a Europa, com anúncios de recompras de ações pelos bancos à medida que continuam a se beneficiar de juros mais altos e bom desempenho nos testes de estresse. Mas crescem as críticas diante da crise do custo de vida.

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Um porta-voz do UniCredit não quis comentar a nova taxa, enquanto representantes do Intesa não estavam imediatamente disponíveis para comentar.

Antonio Tajani, também vice-primeiro-ministro, apontou o dedo para o BCE na terça-feira. “Dizemos há meses que o BCE errou ao aumentar os juros e esta é uma consequência inevitável”, disse Tajani ao jornal Corriere della Sera.

“Vemos esse imposto como substancialmente negativo para os bancos, dado o impacto no capital e no lucro, bem como no custo de capital das ações dos bancos”, escreveram em nota analistas do Citigroup liderados por Azzurra Guelfi. “O novo impacto simulado também é maior do que a simulação que executamos em abril.”

O imposto pode render mais de 2 bilhões de euros em receitas para a Itália, segundo nota de Luigi Tramontana, analista do Banca Akros. “Estimamos um impacto médio de 7% no LPA dos bancos italianos sob cobertura”, escreveu.

-- Com a colaboração de Thyagaraju Adinarayan, Zoe Schneeweiss, Jeff Black, Blaise Robinson, Alessandra Migliaccio, Dale Crofts, Tom Metcalf e Tommaso Ebhardt.

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