Israel invade o Líbano para atacar o Hezbollah e amplia riscos de conflito amplo

Governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu deu início nesta madrugada ao que chamou de ‘incursões terrestres direcionadas’, apesar de apelos contrários dos EUA e de países árabes

Soldados e tanques de Israel perto da fronteira do país com o Líbano nesta terça-feira (Foto: AP/Baz Ratner)
Por Dana Khraiche - Henry Meyer
01 de Outubro, 2024 | 09:22 AM

Bloomberg — Israel enviou soldados para o sul do Líbano, intensificando sua campanha de semanas para enfraquecer o grupo armado Hezbollah e aumentando os riscos de um conflito regional mais amplo no Oriente Médio.

As tropas começaram o que Israel chamou de “incursões terrestres direcionadas” pouco antes da meia-noite (no horário local) na segunda-feira (30), com o Hezbollah, que é classificado como grupo terrorista pelos Estados Unidos e por outros países, como alvo.

A mídia libanesa relatou bombardeios pesados nas aldeias de Kfar Kila, Odeisseh e Khiyam, logo após a fronteira. Também houve explosões na cidade costeira de Ras Naqoura, e o exército israelense disse que realizou ataques aéreos “direcionados” nos subúrbios do sul de Beirute.

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Em meio a apelos por moderação dos Estados Unidos, do Reino Unido e de estados árabes, Israel enfatizou que suas operações terrestres seriam “limitadas”, sugerindo que não pretende avançar profundamente no Líbano ou se manter território por muito tempo.

As incursões no Líbano seguem dias de intensos ataques aéreos destinados a eliminar a liderança do Hezbollah e degradar seus estoques de armas.

Os EUA disseram que “concordam com a necessidade de desmantelar a infraestrutura de ataque” perto da fronteira israelense. O Pentágono afirmou que isso impediria o Hezbollah de realizar o tipo de ataque a Israel que o grupo militante palestino Hamas executou em 7 de outubro do ano passado, o que desencadeou a guerra em Gaza.

Governos de países ocidentais e árabes estão preocupados que Israel possa se enredar ainda mais durante as incursões ao território do Líbano.

Embora tenha uma superioridade militar considerada esmagadora, há o perigo de ser atraído para combates prolongados e a criação de outra “zona de segurança” de longo prazo - o termo de Israel para sua ocupação do sul do Líbano de 1982 a 2000. Isso, por sua vez, poderia desencadear uma guerra regional mais ampla envolvendo o Irã, principal apoiador do Hezbollah.

A liderança e as instalações do Hezbollah foram abaladas pelos ataques aéreos israelenses nas últimas semanas.

Na sexta-feira (27), seu líder de longa data, Hassan Nasrallah, foi morto em um ataque em Beirute. O exército israelense acredita que eliminou todos, exceto um, dos 11 principais comandantes do Hezbollah.

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Israel está “dizendo que é limitado”, disse Randa Slim, pesquisadora sênior do Middle East Institute, à Bloomberg Television na terça-feira. “Mas o outro lado, o Hezbollah, também terá voz em definir que tipo de guerra será, quão limitada será, quão sangrenta será e quanto tempo vai durar.”

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Em 1982, Israel enviou soldados ao Líbano para enfrentar militantes em uma operação que também deveria, na teoria, ser curta. No entanto acabou mantendo o controle sobre partes do sul do Líbano por 18 anos, com um grande número de fatalidades no processo.

Israel diz que tenta garantir que as dezenas de milhares de israelenses deslocados pelos ataques do Hezbollah no último ano possam voltar para casa. O governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu tornou isso um objetivo oficial da guerra no início deste mês.

Enquanto o conflito em Gaza contra o Hamas continua e as negociações de trégua permanecem estagnadas, a intensidade dos combates diminuiu, já que os militantes palestinos - também apoiados pelo Irã - sofreram grandes perdas. Isso permitiu que Israel se concentrasse mais no Hezbollah.

A operação terrestre no Líbano começou uma semana antes do aniversário de um ano do ataque do Hamas ao sul de Israel, que matou 1.200 pessoas e resultou no sequestro de 250. Cerca de 100 pessoas ainda estão sendo mantidas como reféns pelo Hamas.

A campanha aérea e terrestre de Israel em Gaza matou mais de 41.000 palestinos, segundo o Ministério da Saúde controlado pelo Hamas no território, o que alimentou uma onda de críticas e revolta na região e em outras partes do mundo sobre o que classificado como ataques desmedidos.

O presidente dos EUA, Joe Biden, queria evitar uma incursão terrestre no Líbano e, na semana passada, anunciou um plano - junto com a França - para um cessar-fogo de 21 dias entre Israel e o Hezbollah. No entanto Netanyahu adotou um tom desafiador na sexta ao discursar nas Nações Unidas em Nova York, dizendo que Israel “não tinha escolha” senão continuar com seus ataques militares.

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