Bloomberg — As doações para a Universidade Harvard caíram em meio a uma onda de indignação de ex-alunos em relação à forma como a escola lidou com atos considerados antissemitas no campus, a tal ponto que sua principal autoridade financeira fez um alerta sobre o aumento dos custos.
As doações em dinheiro caíram cerca de 15%, para menos de US$ 1,2 bilhão, durante o ano fiscal encerrado em 30 de junho, informou Harvard em um relatório financeiro nesta quinta-feira (17).
Alguns dos maiores doadores, incluindo os bilionários Len Blavatnik e Ken Griffin, suspenderam os valores repassados para sua alma mater no ano passado, assim como outros graduados menos ricos.
O fundo patrimonial de Harvard, que atualmente tem sob gestão US$ 53 bilhões, absorveu parte do prejuízo enquanto a faculdade mais antiga e mais rica dos EUA enfrentava o impacto financeiro do ano mais tumultuado das últimas décadas nos campi americanos.
Leia mais: Renúncia no comando de Harvard expõe divisões políticas e sociais de décadas
O fundo registrou um retorno de investimento de 9,6%, o melhor em três anos, e proporcionou um “impulso bem-vindo” no curto prazo, disse a diretora financeira (CFO) Ritu Kalra.
Mas ela advertiu que as despesas futuras precisarão ser controladas, dado que os aumentos de custos novamente ultrapassaram o crescimento da receita.
"O ritmo de nossos gastos recentes ressalta a necessidade de prudência no futuro", disse Kalra em uma discussão sobre as finanças de Harvard publicada no site da universidade. "Embora tenha sido proposital no curto prazo, não será sustentável sem um crescimento proporcional da receita no longo prazo."
Alguns gastos estão vinculados a investimentos em recursos tecnológicos, inteligência artificial e instalações do campus que se destinam a promover o crescimento futuro, disse ela.
Ainda assim, o crescimento dos gastos foi impulsionado principalmente por custos de remuneração mais altos.
As despesas operacionais cresceram 9% em comparação com um aumento de 6% na receita operacional, o segundo ano consecutivo em que os custos aumentaram mais rapidamente.
A universidade encerrou o ano fiscal com um superávit de US$ 45,3 milhões e a instituição tem gastado mais em ajuda financeira, especialmente para os alunos de graduação da Harvard College.
Turbulência no campus
Assim como outras faculdades dos EUA, a universidade com sede em Cambridge, vizinha a Boston, no estado de Massachusetts, tem passado por turbulências desde o ataque do Hamas contra Israel em 7 de outubro de 2023 e a subsequente invasão de Gaza pelo Estado judeu.
A ex-presidente de Harvard Claudine Gay demorou a condenar os comentários de grupos de estudantes que atribuíram a culpa do ataque do Hamas exclusivamente a Israel.
Leia mais: A professora que atrai celebridades no curso de negócios mais disputado de Harvard
Gay renunciou em janeiro depois de uma aparição muito criticada perante um painel do Congresso e de alegações de plágio em seu trabalho acadêmico.
Desde sua saída, a maneira como Harvard lida com o antissemitismo no campus tem sido analisada por legisladores e pela comunidade universitária. O atual presidente de Harvard, Alan Garber, tem se reunido com doadores e ex-alunos em um esforço para reparar os danos.
Garber disse ao jornal estudantil neste mês que estava desapontado com os resultados da arrecadação de fundos no ano passado, mas que tinha esperança de “melhorias no futuro”.
De fato, em uma declaração na quinta-feira, ele enfatizou “os níveis crescentes de apoio ao longo do ano” de ex-alunos e outros apoiadores.
Retorno do fundo patrimonial
O desempenho do fundo patrimonial durante o ano fiscal mais recente ficou em terceiro lugar entre os seis pares da Ivy League que divulgaram resultados até o momento. Espera-se que a Universidade de Yale e a Universidade de Princeton divulguem seus retornos em breve.
Em termos mais gerais, os fundos patrimoniais das faculdades dos EUA obtiveram uma média de retorno de 10,6% antes das taxas, de acordo com o Wilshire Trust Universe Comparison Service, que não cita o nome das escolas individualmente.
Os fundos com menos de US$ 500 milhões tiveram um desempenho superior ao de seus pares maiores, em parte devido a uma alocação maior em ações americanas simples. O índice S&P 500 subiu 23% no período de 12 meses encerrado em 30 de junho.
Em geral, no entanto, os fundos universitários minimizam a comparação com os índices de referência de ações dos EUA, pois afirmam que são projetados para apoiar as faculdades no longo prazo com uma estratégia que prevê uma ampla combinação de ativos. Além disso, colocar um fundo patrimonial inteiro em ações implicaria em um grande risco.
Desde que N.P. “Narv” Narvekar assumiu as rédeas da Harvard Management Co. (HMC), que administra o fundo patrimonial na universidade, em dezembro de 2016, ele reduziu a exposição a imóveis e a ativos de recursos naturais e, ao mesmo tempo, aumentou as apostas em private equity.
“Dada a escala do fundo patrimonial, isso levou algum tempo, mas agora estamos bem posicionados”, disse Tim Barakett, tesoureiro e presidente do conselho da HMC, no comunicado.
“O desempenho da HMC estava abaixo do ideal antes da nomeação de Narv, e ele herdou um portfólio que estava acima do peso em recursos naturais e imóveis e abaixo do peso em private equity e hedge funds.”
Veja mais em bloomberg.com
Leia também
Bill Ackman diz que vai ‘consertar o que está errado’, e isso vai além de Harvard
©2024 Bloomberg L.P.