Governo Trump ameaça proibir estrangeiros em Harvard e coloca universidade em risco

Secretária de Segurança Interna, Kristi Noem, disse que instituição pode perder acesso ao programa de visto de estudante; cerca de 27% dos alunos são de outros países, incluindo o Brasil

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Bloomberg — A ameaça do governo Trump de acabar com as matrículas de estudantes estrangeiros na Universidade Harvard coloca em risco uma importante fonte de financiamento para as faculdades americanas - e pode levar os estudantes internacionais a buscarem diplomas em outros lugares.

A secretária de Segurança Interna, Kristi Noem, emitiu a ameaça na quarta-feira (16), dizendo que a “ideologia antiamericana e pró-Hamas” estava “envenenando” a universidade.

Ela exigiu que Harvard apresentasse registros de qualquer atividade violenta ou ilegal de estudantes estrangeiros até 30 de abril ou perderia imediatamente a certificação do programa de visto de estudante do governo federal.

“Harvard se ajoelhou diante do antissemitismo - impulsionado por sua liderança sem coragem - alimenta uma fossa de revoltas extremistas e ameaça nossa segurança nacional”, disse ela em um comunicado.

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A advertência foi feita após semanas de um conflito crescente entre o presidente Donald Trump e as universidades de elite do país, incluindo ameaças de corte de financiamento e revogação do status de isenção de impostos de Harvard.

As autoridades federais também detiveram e tentaram deportar alguns estudantes estrangeiros que expressaram apoio aos palestinos.

O governo afirma que quer combater o antissemitismo no campus, mas Harvard diz que as exigências do governo ultrapassam o limite da violação da liberdade acadêmica.

Em resposta à declaração de Noem, Harvard disse que ainda não concordaria com essas exigências.

“Continuaremos a cumprir a lei e esperamos que o governo faça o mesmo”, disse um porta-voz da universidade. “Se uma ação federal for tomada contra um membro de nossa comunidade, esperamos que ela seja baseada em evidências claras, siga os procedimentos legais estabelecidos e respeite os direitos constitucionais concedidos a todos os indivíduos.”

Mais de 1 milhão de estudantes estrangeiros frequentaram universidades americanas no ano passado, muitas vezes pagando o valor integral do curso.

Em Harvard, cerca de 6.800 alunos - 27% de todo o corpo discente - são provenientes de outros países, em comparação com 19,6% em 2006, de acordo com os dados da universidade.

As universidades de elite consideram a atração dos alunos mais brilhantes e ambiciosos do mundo como parte essencial de sua missão, e os números aumentaram nos últimos anos.

O medo e a incerteza definitivamente levarão as famílias estrangeiras a escolhas mais “seguras” em outros países", disse Annalee Nissenholtz do Education Advisory Group, uma empresa de aconselhamento universitário.

Recentemente, ela aconselhou um estudante da China a aceitar uma oferta de matrícula na Universidade de Oxford em vez do Georgia Institute of Technology.

“Fiquei com o coração partido”, disse Nissenholtz. “Essa ameaça terá um efeito horrível de gotejamento. Todo mundo sabe que isso não vai parar em Harvard.”

Para os próprios alunos, o momento da ameaça não poderia ser pior. Em geral, os alunos admitidos precisam confirmar suas matrículas para o próximo ano letivo nas faculdades até 1º de maio.

Os estudantes estrangeiros representaram 5,9% da população total do ensino superior dos EUA, de quase 19 milhões de estudantes no ano letivo de 2023-2024, de acordo com um relatório financiado pelo Departamento de Estado e produzido pelo Instituto de Educação Internacional.

A maior parcela veio da Índia - cerca de 332.000 - com um crescimento de 23% em relação ao ano anterior.

A China liderava a lista anteriormente, mas sua população estudantil diminuiu em 4,2%, chegando a mais de 277.000.

-- Com a colaboração de Tom Contiliano.

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