Governo Milei começa com primeiras negociações dentro da Casa Rosada

Presidente foi empossado no Congresso e reforçou plano de ajuste econômico, com discurso perante o público; ministros serão empossados nesta tarde

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Bloomberg Línea — Javier Milei assumiu a presidência da Argentina neste domingo (10). Ele iniciou seu mandato de quatro anos com uma abordagem distinta de seus antecessores. Em vez de fazer seu primeiro discurso perante a Assembleia Legislativa, ele falou à multidão na Plaza de los Dos Congresos, repassando durante quarenta minutos os números da herança que recebe, diagnosticando a situação econômica e social, e prevendo os primeiros meses de sua gestão. “Será difícil, mas vamos conseguir”.

Antes e depois do discurso, houve encontros dentro do Congresso entre parte do sistema político argentino - juízes da Suprema Corte, deputados e senadores, governadores, ex-presidentes, corpos diplomáticos - e os recém-chegados do partido La Libertad Avanza.

A ala política do partido, que já governa o país, será liderada por Guillermo Francos, com vasta experiência na política local, sendo seu último cargo na administração de Alberto Fernández como representante perante o BID. Neste domingo, às 17h em Buenos Aires, ele jurará como ministro do Interior e se integrará formalmente ao gabinete, juntamente com Nicolás Posse, que será chefe de gabinete, e os outros oito ministros.

Francos antecipou que na manhã de segunda-feira (11), às 8h30, haverá uma reunião de gabinete, prevista para ocorrer na quinta residencial de Olivos, onde o presidente Milei viverá e trabalhará.

Ao longo do dia de segunda-feira, as primeiras medidas deste novo governo serão divulgadas. Os mercados esperam uma depreciação da taxa de câmbio oficial, e também é prevista uma rápida desregulamentação de preços. Combustíveis, planos de saúde e alimentos, entre outros setores, podem experimentar aumentos nos próximos dias. Também é esperado um ajuste nos subsídios à economia, tanto para energia - luz e gás - quanto para o transporte público.

Em seu discurso, Milei reconheceu que nos primeiros meses de sua gestão haverá uma aceleração da inflação. “Haverá estagflação, é verdade, mas não é algo muito diferente do que aconteceu nos últimos 12 anos”. Segundo o presidente, “este é o último obstáculo para iniciar a reconstrução da Argentina”. Ele também reconheceu o impacto negativo que suas medidas de choque terão nos indicadores sociais: “Naturalmente, isso impactará negativamente o nível de atividade, emprego, salários reais, e na quantidade de pobres e indigentes”.

Essas palavras foram ouvidas pela comitiva de líderes estrangeiros que compareceram à posse de Milei, incluindo o presidente da Ucrânia, Volodímir Zelensky; o ex-presidente do Brasil, Jair Bolsonaro; o rei Felipe da Espanha e o primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán. Presidentes da região, como Gabriel Boric (Chile), Luis Lacalle Pou (Uruguai), Daniel Noboa (Equador) e Santiago Peña (Paraguai), também estiveram presentes.

Após o discurso, diversos diálogos ocorreram nos corredores do Congresso, aproveitando a presença de figuras-chave para os próximos anos. Isso incluiu conversas entre os quatro juízes da Suprema Corte, como Ricardo Lorenzetti, que dialogava com o futuro ministro da Economia, Luis Caputo, o qual também planeja dar uma coletiva de imprensa na segunda-feira.

Gerardo Werthein, empresário e amigo de Milei, será anunciado como embaixador da Argentina nos Estados Unidos. Ele afirmou que o diálogo com as autoridades do Fundo Monetário Internacional (FMI) já está em andamento, referente ao programa acordado entre o organismo internacional em 2018 durante a administração de Mauricio Macri e renegociado em 2022 durante o governo de Alberto Fernández.

O Congresso será palco, nas próximas semanas, de extensos debates sobre as reformas propostas por Milei. Sessões extraordinárias serão convocadas. A chamada “Lei Ônibus” está sendo revisada em um escritório jurídico, e considera-se apresentar uma versão um pouco mais limitada.

Francos avaliou hoje a situação dos blocos que comporão a Câmara dos Deputados e o Senado. De acordo com a página oficial, a Câmara dos Deputados será composta por 100 deputados da União pela Pátria, 37 do PRO, 35 da La Libertad Avanza e 35 do PRO. Blocos como Inovação Federal (9), Mudança Federal (8) e Fazemos pelo Nosso País (8) aparecem atrás, representando diferentes governadores dispostos a negociar com o bloco oficialista.

“Milei disse em seu discurso: ‘Não estamos pedindo apoio cego, mas não toleraremos que a hipocrisia, a desonestidade ou a ambição de poder interfiram na mudança que os argentinos escolheram’”.

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