Bloomberg — A frágil economia da China é agora a maior ameaça à demanda global por matérias-primas, à medida que a atividade econômica e os fluxos de crédito no maior comprador mundial se deterioram e colocam em risco as modestas metas de crescimento do governo de Pequim.
Por enquanto, as commodities têm resistido melhor do que outros ativos em meio à piora da economia. Livre das restrições da pandemia, o consumo de combustíveis aumentou.
As expectativas de que o governo será obrigado a injetar mais estímulos para resgatar o crescimento, bem como o início de uma recuperação sazonal da demanda, também impulsionam alguns mercados.
Mas o cenário continua preocupante. Traders enfrentam uma crise prolongada no mercado imobiliário, deflação, exportações fracas e queda do yuan.
Os desafios estruturais incluem o desejo do governo de mudar o foco de uma economia liderada pelo consumo para os investimentos – útil para a demanda por combustíveis e alimentos, mas não para os metais da velha economia puxados pelo setor de construção.
Os gastos explosivos da China em energia limpa oferecem uma solução, impulsionando o consumo de matérias-primas ligadas à transição verde, como o cobre. Mas há sempre desvantagens, neste caso, a redução da demanda por combustíveis fósseis.
Metais básicos
Os metais básicos recuaram em relação à máxima de janeiro diante do desaquecimento da economia, esmagando as margens das empresas de fundição e dos fabricantes.
A queda da rentabilidade no primeiro semestre é o pior desempenho em mais de uma década. Os dados dos lucros industriais de julho serão divulgados no domingo (27) e devem mostrar mais dificuldades no setor.
A queda nas margens dos fabricantes, especialmente no caso do alumínio, é “resultado de uma concorrência feroz e de uma guerra de preços em alguns segmentos”, disse Wang Rong, analista da Guotai Junan Futures.
Minério de ferro e aço
O setor de construção responde por até 40% da demanda por aço da China e o minério de ferro, o principal insumo dos altos-fornos, é um totem da velha economia.
As apostas nos estímulos ajudaram a manter os preços acima dos US$ 100 por tonelada, embora a relutância em sobrecarregar os governos locais com ainda mais dívidas tenha minado a hipótese de que o governo de Pequim irá novamente recorrer a grandes despesas em obras públicas.
A demanda sazonal aumenta com a proximidade do fim do verão e chegada dos chamados meses dourados para a atividade de construção, elevando as taxas de operação nos altos-fornos e diminuindo os estoques de minério.
Ainda assim, com a situação do mercado imobiliário, as siderúrgicas provavelmente serão cautelosas ao recorrer a mais importações para reabastecer a oferta, disse Steven Yu, analista da Mysteel.
“Embora isso possa deixar as usinas altamente expostas se houver uma recuperação repentina na demanda por aço, este é um ponto relativamente discutível, dada a saúde precária da economia industrial da China”, disse Atilla Widnell, diretor-gerente da Navigate Commodities.
Petróleo
Os embarques de petróleo têm sido um destaque positivo entre as importações de commodities da China no primeiro semestre, e o crescimento da demanda neste ano deve representar 40% do total global.
Mas a recuperação pode estar sob risco com a redução das importações e uso dos estoques pelas refinarias.
A necessidade de reabastecer os estoques ainda poderia elevar as importações, que caíram para a mínima de três meses em julho. Mas grande parte da procura por produtos petrolíferos surge nos mercados de exportação, e não no mercado interno.
Em julho, por exemplo, as exportações de diesel da China mais do que triplicaram em relação ao mês anterior.
Carne suína
A reabertura da economia após as medidas rigorosas do governo para controlar a pandemia não proporcionou o banquete comemorativo que muitos esperavam com a carne favorita da China.
Em vez disso, as famílias decidiram economizar em meio às maiores incertezas econômicas.
O mercado mais fraco para a carne suína tem ramificações para a economia em geral. A carne tem um grande peso na cesta de custos dos alimentos, o que contribuiu muito para a deflação dos preços ao consumidor em julho.
-- Com a colaboração de Martin Ritchie.
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