Bloomberg — O Fundo Monetário Internacional (FMI) elevou sua previsão para o crescimento global deste ano devido à expansão nos Estados Unidos e ao estímulo fiscal na China, ao mesmo tempo em que alerta para riscos decorrentes de guerras e inflação.
A economia mundial crescerá 3,1% este ano, em comparação com os 2,9% previstos em outubro, informou a instituição sediada em Washington em seu Boletim Econômico Mundial trimestral na terça-feira.
O fundo manteve sua previsão para 2025 inalterada em 3,2%. O Fundo prevê que o Brasil crescerá 1,7% em 2024, alta de 0,2 ponto em comparação com a última previsão.
Políticas mais rigorosas dos bancos centrais para combater a inflação e cortes nos gastos públicos em alguns países estão entre as razões pelas quais o crescimento é esperado ser mais lento do que nas duas décadas anteriores à pandemia, quando a média era de 3,8%.
No entanto, dada a magnitude dos choques de preços durante a pandemia de covid-19 e as altas nas taxas de juros que se seguiram, o FMI sugeriu que as coisas poderiam ter sido muito piores.
“A economia global continua a exibir uma notável resiliência, e agora estamos na descida final para um pouso suave, com a inflação declinando constantemente e o crescimento se mantendo”, disse o economista-chefe do FMI, Pierre-Olivier Gourinchas, em uma coletiva de imprensa. “Mas o ritmo de expansão permanece do lado lento, e pode haver turbulências pela frente.”
Entre os riscos mencionados pelo FMI estão novos picos nos preços das commodities causados por choques geopolíticos e interrupções globais no fornecimento - como ataques dos Houthis no Mar Vermelho ou um conflito mais amplo no Oriente Médio - ou uma inflação mais persistente que poderia forçar os bancos centrais a manterem as taxas de juros mais altas por mais tempo.
As previsões do FMI assumem que os preços das commodities, incluindo combustíveis, cairão este ano e no próximo, e que as taxas de juros se suavizarão nas principais economias.
Os economistas do fundo consideraram, por exemplo, que o Federal Reserve, o Banco Central Europeu e o Banco da Inglaterra manterão as taxas de juros no primeiro semestre deste ano antes de reduzi-las gradualmente à medida que a inflação desacelera.
O FMI afirmou que a inflação no quarto trimestre desacelerou mais do que o previsto, à medida que os preços da energia se estabilizaram, e espera que a desaceleração continue até 2025, levando a inflação global a 4,4%, ante os 6,8%. As economias avançadas devem ver uma desinflação mais rápida do que os mercados emergentes.
O fundo reiterou seu alerta sobre uma possível fragmentação do comércio global em blocos rivais, prevendo um crescimento do comércio mundial de 3,3% em 2024 e 3,6% em 2025, abaixo da taxa média histórica de 4,9%. No ano passado, as nações impuseram cerca de 3.000 novas restrições comerciais, quase três vezes mais do que em 2019, segundo o FMI.
Para os bancos centrais, o FMI disse que o desafio é normalizar a política monetária e “garantir um pouso suave, sem baixar as taxas prematuramente nem atrasar muito essa redução”.
O FMI está atento à possibilidade de uma escalada do conflito no Oriente Médio e “permanecemos vigilantes”, disse Gourinchas. “Neste ponto, as implicações em termos de interrupções no fornecimento e o que isso poderia significar para a inflação geral ainda são relativamente limitadas.”
Para os Estados Unidos, o FMI elevou sua expectativa de crescimento para 2,1%, ante uma previsão anterior de 1,5%, com base nos gastos do consumidor mais altos do que o estimado no final do ano passado.
Ainda assim, é uma desaceleração em relação ao crescimento de 2,5% em 2023, devido ao impacto tardio das taxas do Fed mais altas em duas décadas, ao aperto fiscal gradual e a um mercado de trabalho enfraquecido que está freando a demanda.
A previsão de crescimento da zona do euro foi reduzida para 0,9% ante 1,2% anterior, refletindo um resultado mais fraco do que o esperado em 2023, devido em grande parte ao impacto da guerra na Ucrânia.
O FMI espera que os consumidores europeus impulsionem os gastos à medida que o efeito dos preços mais altos de energia diminui.
A projeção de crescimento da China para este ano foi revisada para cima, de 4,2% para 4,6%, refletindo um crescimento mais forte no ano passado e um aumento nos gastos do governo para se proteger contra desastres naturais.
A economia da Índia é esperada para estar entre as de crescimento mais rápido do mundo, em 6,5%, acima da previsão anterior de 6,3%.
A Rússia deve expandir 2,6% este ano, em comparação com uma estimativa anterior de 1,1%, refletindo em parte os altos gastos militares e o consumo privado.
A Argentina teve sua previsão de crescimento cortada para uma contração de 2,8% este ano, ante a estimativa anterior de expansão de 2,8% feita em outubro, antes da eleição do presidente Javier Milei.
O FMI citou um “ajuste significativo” na política sob seu novo governo, que até agora incluiu a eliminação de subsídios e controles de preços, a desvalorização da moeda em mais da metade e propostas para fortalecer as finanças do governo.
Veja mais em Bloomberg.com
Leia também
Estrangeiros veem ‘oportunidade única’ em dívida local no Brasil e em LatAm
Presidente da NYSE espera mais IPOs à frente mesmo com a volatilidade do mercado