Europa Central enfrenta onda de destruição com chuvas mais intensas em décadas

Os níveis de água no rio Danúbio subiram ainda mais neste começo de semana, e países da Áustria à República Tcheca buscam limitar estragos e evitar que o número de vítimas aumente

Enchentes do rio Danúbio encobrem parte da cidade de Bratislava, capital da Eslováquia
Por Andras Gergely - Natalia Ojewska - Irina Anghel - Andrea Dudik
17 de Setembro, 2024 | 08:20 AM

Bloomberg — Os níveis de água no rio Danúbio subiram ainda mais neste começo de semana, enquanto enchentes mortais provocam uma onda de destruição na Europa Central.

A chuva torrencial da tempestade Boris deve diminuir ao longo desta terça-feira (17), mas os níveis de água continuam elevados em toda a região.

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Na Áustria, o foco se volta para a ameaça representada pelo derretimento da neve e pelos deslizamentos de terra, depois que o sistema climático de frio que se move lentamente gerou chuvas intensas nos Alpes.

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As autoridades tchecas monitoram o risco para a cidade de Ostrava, no norte, e para as regiões do sul do país, enquanto alertas vermelhos de inundação estão em vigor na Hungria e na Eslováquia. Na Polônia, a terceira maior cidade do país, Wroclaw, pode ser ameaçada ainda nesta semana pela cheia dos rios.

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As ondas de calor que assolaram o Mediterrâneo neste verão - elevando as temperaturas do mar a níveis recordes - ajudam a turbinar as tempestades em toda a Europa. Esse é outro sinal de que a mudança climática tem aumentado a intensidade e a frequência de eventos climáticos extremos.

Tempestade Boris afeta a Europa Central e, principalmente, a República Tcheca e a Áustria

A tempestade Boris é um lembrete claro de que os limites do que consideramos clima “extremo” estão sendo modificados rapidamente devido à mudança climática induzida pelo homem”, disse Bogdan Antonescu, da Universidade de Bucareste, um dos cientistas do ClimaMeter, um projeto financiado pela União Europeia e pelo Centro Nacional Francês de Pesquisa Científica.

Enquanto as enchentes deixam um rastro de destruição na Europa Central, a Grécia ainda luta contra os incêndios florestais. Houve cerca de 4.500 incêndios nesta temporada de verão, com a combinação de fogo e condições meteorológicas sendo classificadas como a pior dos últimos 40 anos, de acordo com o Ministro da Proteção Civil, Vasilis Kikilias.

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Assim como a Grécia melhorou sua resposta aos incêndios deste ano, a Europa Central está mais bem preparada para as enchentes do que há 27 anos, de acordo com o Erste Group Bank. Além de previsões precisas, países como a Polônia e a República Tcheca investiram em sistemas de controle de enchentes e reservatórios de retenção, o que reduz o impacto econômico.

O número de mortos por enchentes na Europa Central está aumentando depois que a tempestade Boris trouxe chuvas torrenciais para a região (Fonte: AP/Exército da República Tcheca)

Ainda assim, as enchentes desencadearam medidas de emergência na Áustria, na República Tcheca e na Romênia, depois que milhares de pessoas foram evacuadas.

A intensidade das chuvas do fim de semana provavelmente aconteceria uma vez a cada 100 a 120 anos, de acordo com a Autoridade de Gerenciamento de Águas da Romênia.

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As inundações causaram uma interrupção generalizada dos serviços de transporte e o fornecimento de energia elétrica para muitas cidades e vilarejos foi temporariamente cortado. Pelo menos 18 pessoas foram mortas em toda a região.

A Áustria anunciou uma quarta morte na segunda-feira (16), enquanto as autoridades continuaram as evacuações durante a noite em nove cidades da região da Baixa Áustria. Os bombeiros atenderam a 15.000 chamadas na província e, na segunda, houve 21 casos de rompimento de barragens.

O tráfego ferroviário no principal corredor da Áustria, entre Viena e Salzburgo, continua fechado em grandes trechos. Na capital, quatro das cinco linhas de metrô estão funcionando parcialmente.

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As autoridades da Baviera informaram sobre o aumento do nível das águas do Danúbio em Passau, uma cidade na fronteira entre a Áustria e a Alemanha que também é a confluência dos rios Danúbio, Inn e Ilz.

O primeiro-ministro polonês, Donald Tusk, realizou uma reunião da equipe de crise às 7h da manhã desta terça, depois que 44.000 moradores da cidade de Nysa, no sudoeste do país, foram instruídos a evacuar em meio à preocupação de que um aterro do lago pudesse romper.

O governo delineará um plano de reconstrução assim que as águas das enchentes diminuírem, com fundos estatais e parte do € 1,5 bilhão (US$ 1,7 bilhão) disponibilizado pela União Europeia para os países afetados. Ele disse que as enchentes na vizinha República Tcheca devem se deslocar para o sul da Polônia.

Isso representa uma ameaça no fim desta semana para Wroclaw, uma cidade de mais de 600.000 habitantes que foi gravemente atingida por enchentes em 1997. Um bairro pode ser atingido por uma onda nesta terça-feira, após a liberação descoordenada de água de um reservatório próximo pela empresa de serviços públicos Tauron Polska Energia.

Na Hungria, as margens do Danúbio em Budapeste foram fechadas ao tráfego, assim como Margitsziget, a ilha para a qual os moradores se dirigem para correr ou nadar.

Voluntários se juntaram ao exército e trabalharam a noite toda para empacotar sacos de areia ao longo do rio, já que o país esperava os níveis mais altos de água em mais de uma década.

- Com a colaboração de Marton Eder, Wojciech Moskwa, Zoltan Simon, Paul Tugwell, Thomas Hall, Piotr Skolimowski e Maciej Martewicz.

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