Bloomberg — O presidente da China, Xi Jinping, disse ao secretário de Estado americano, Antony Blinken, ser “muito bom” que os Estados Unidos e o governo chinês tenham avançado em estabilizar os laços bilaterais entre as duas maiores economias do mundo durante sua viagem a Pequim.
“Espero que, por meio desta visita, senhor secretário, você faça contribuições mais positivas para estabilizar as relações China-EUA”, disse Xi ao diplomata dos EUA nesta segunda-feira (19), de acordo com comunicado do Ministério de Relações Exteriores da China.
“Os dois lados também avançaram e chegaram a acordos sobre algumas questões específicas. Isso é muito bom”, afirmou, sem dar mais detalhes, segundo a transcrição da reunião publicada pelo Departamento de Estado dos EUA.
Blinken disse ao líder chinês que é do “interesse do mundo” estabilizar esses laços e descreveu as conversas durante sua viagem com autoridades do alto escalão como “sinceras” e “produtivas”.
A porta-voz do Ministério de Relações Exteriores da China, Hua Chunying, participou da reunião, juntamente com outras autoridades de nível sênior, como o embaixador dos EUA na China, Nicholas Burns, e o ministro de Relações Exteriores chinês, Qin Gang.
O tom positivo que emergiu da visita-chave de Blinken a Pequim aumenta as expectativas de que as relações entre as duas superpotências possam alcançar uma base mais estável, à medida que aliados dos EUA e alguns dos maiores parceiros comerciais da China são atingidos pelo fogo cruzado de laços rompidos.
A reunião de Blinken com Xi também estabelece as bases para negociações presenciais entre Xi e o presidente dos EUA, Joe Biden, ainda este ano. No domingo (18), Qin aceitou um convite para visitar Washington, informou o Departamento de Estado, após 7 horas e meia de conversas com Blinken.
Henry Wang, fundador do Center for China and Globalization, destacou que a visita de Blinken seria um catalisador para mais interações bilaterais entre as duas nações. No sábado (17), Biden disse esperar “que nos próximos meses eu encontre Xi novamente”.
“Blinken prepara o terreno para futuras interações entre diferentes níveis de governo, comunidade empresarial, academia e pesquisa”, acrescentou Wang. “Ele trouxe um período de estabilização, de alívio das tensões, pelo menos na segunda metade do ano.”
Laços fragilizados
As relações EUA-China enfrentaram seu pior momento em décadas em fevereiro, depois que um suposto balão de espionagem chinês sobrevoou o espaço aéreo dos EUA, o que levou ao cancelamento de uma viagem de Blinken a Pequim.
Desde então, o governo Biden tem trabalhado para restaurar os laços com a China com o objetivo de reduzir o risco de que um problema de comunicação resulte em um conflito entre duas potências com armas nucleares.
O ministro da Defesa chinês, Li Shangfu, não quer se reunir com sua contraparte nos EUA, Lloyd Austin, até que o governo de Washington suspenda sanções contra ele.
Militares dos EUA e da China tiveram recentemente dois confrontos entre navios de guerra e jatos na região, que o Pentágono caracterizou como “perigosos”, destacando os riscos de se evitar um diálogo.
Xi também tem motivos para querer esfriar as tensões. O governo de Pequim enfrenta um cenário geopolítico cada vez mais desafiador, já que os EUA bloquearam o acesso da China a chips de alta tecnologia para frear seu progresso militar e pressionam Xi a condenar a invasão da Rússia à Ucrânia.
As tensões geopolíticas também limitam o investimento estrangeiro, já que a economia da China enfrenta obstáculos domésticos.
“A economia na China não está em boa forma”, disse George Magnus, pesquisador associado do Centro da China da Universidade de Oxford, em entrevista à Bloomberg TV. “Ele quer fazer um apelo e ser visto como construtivo para os parceiros do Sul Global.”
Maior autoridade dos EUA a visitar a China em cinco anos, Blinken faz sua viagem em um momento tumultuado, com tensões em várias frentes entre os dois lados, como em direitos humanos, tecnologia, comércio e vendas de armas para Taiwan.
No domingo, o ministro de Relações Exteriores chinês disse a Blinken que Taiwan é “o centro dos interesses centrais” da China e “o risco mais proeminente” nos laços China-EUA.
O principal diplomata da China, Wang Yi, acrescentou na segunda-feira que não pode haver “nenhum acordo” sobre a ilha, considerado um território separatista por Pequim que deve ser recuperado à força, se necessário.
Wang disse a Blinken durante uma reunião de três horas nesta segunda-feira que sua visita ocorreu em um momento “crítico” nas relações EUA-China, segundo comunicado do Ministério de Relações Exteriores chinês.
-- Com a colaboração de Lin Zhu, Lucille Liu, Jing Li e Ishika Mookerjee.
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