EUA-China: chefe da diplomacia de Biden visita Xi para tentar aliviar tensões

Tom positivo da visita aumenta as expectativas de que as relações entre as duas superpotências possam alcançar uma base mais estável

Antony Blinken, secretário de Estado americano (à esquerda) e o presidente chinês Xi Jinping
Por Iain Marlow
19 de Junho, 2023 | 11:36 AM

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Bloomberg — O presidente da China, Xi Jinping, disse ao secretário de Estado americano, Antony Blinken, ser “muito bom” que os Estados Unidos e o governo chinês tenham avançado em estabilizar os laços bilaterais entre as duas maiores economias do mundo durante sua viagem a Pequim.

“Espero que, por meio desta visita, senhor secretário, você faça contribuições mais positivas para estabilizar as relações China-EUA”, disse Xi ao diplomata dos EUA nesta segunda-feira (19), de acordo com comunicado do Ministério de Relações Exteriores da China.

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“Os dois lados também avançaram e chegaram a acordos sobre algumas questões específicas. Isso é muito bom”, afirmou, sem dar mais detalhes, segundo a transcrição da reunião publicada pelo Departamento de Estado dos EUA.

Blinken disse ao líder chinês que é do “interesse do mundo” estabilizar esses laços e descreveu as conversas durante sua viagem com autoridades do alto escalão como “sinceras” e “produtivas”.

A porta-voz do Ministério de Relações Exteriores da China, Hua Chunying, participou da reunião, juntamente com outras autoridades de nível sênior, como o embaixador dos EUA na China, Nicholas Burns, e o ministro de Relações Exteriores chinês, Qin Gang.

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O tom positivo que emergiu da visita-chave de Blinken a Pequim aumenta as expectativas de que as relações entre as duas superpotências possam alcançar uma base mais estável, à medida que aliados dos EUA e alguns dos maiores parceiros comerciais da China são atingidos pelo fogo cruzado de laços rompidos.

A reunião de Blinken com Xi também estabelece as bases para negociações presenciais entre Xi e o presidente dos EUA, Joe Biden, ainda este ano. No domingo (18), Qin aceitou um convite para visitar Washington, informou o Departamento de Estado, após 7 horas e meia de conversas com Blinken.

Henry Wang, fundador do Center for China and Globalization, destacou que a visita de Blinken seria um catalisador para mais interações bilaterais entre as duas nações. No sábado (17), Biden disse esperar “que nos próximos meses eu encontre Xi novamente”.

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“Blinken prepara o terreno para futuras interações entre diferentes níveis de governo, comunidade empresarial, academia e pesquisa”, acrescentou Wang. “Ele trouxe um período de estabilização, de alívio das tensões, pelo menos na segunda metade do ano.”

Laços fragilizados

As relações EUA-China enfrentaram seu pior momento em décadas em fevereiro, depois que um suposto balão de espionagem chinês sobrevoou o espaço aéreo dos EUA, o que levou ao cancelamento de uma viagem de Blinken a Pequim.

Desde então, o governo Biden tem trabalhado para restaurar os laços com a China com o objetivo de reduzir o risco de que um problema de comunicação resulte em um conflito entre duas potências com armas nucleares.

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O ministro da Defesa chinês, Li Shangfu, não quer se reunir com sua contraparte nos EUA, Lloyd Austin, até que o governo de Washington suspenda sanções contra ele.

Militares dos EUA e da China tiveram recentemente dois confrontos entre navios de guerra e jatos na região, que o Pentágono caracterizou como “perigosos”, destacando os riscos de se evitar um diálogo.

Xi também tem motivos para querer esfriar as tensões. O governo de Pequim enfrenta um cenário geopolítico cada vez mais desafiador, já que os EUA bloquearam o acesso da China a chips de alta tecnologia para frear seu progresso militar e pressionam Xi a condenar a invasão da Rússia à Ucrânia.

As tensões geopolíticas também limitam o investimento estrangeiro, já que a economia da China enfrenta obstáculos domésticos.

“A economia na China não está em boa forma”, disse George Magnus, pesquisador associado do Centro da China da Universidade de Oxford, em entrevista à Bloomberg TV. “Ele quer fazer um apelo e ser visto como construtivo para os parceiros do Sul Global.”

Maior autoridade dos EUA a visitar a China em cinco anos, Blinken faz sua viagem em um momento tumultuado, com tensões em várias frentes entre os dois lados, como em direitos humanos, tecnologia, comércio e vendas de armas para Taiwan.

No domingo, o ministro de Relações Exteriores chinês disse a Blinken que Taiwan é “o centro dos interesses centrais” da China e “o risco mais proeminente” nos laços China-EUA.

O principal diplomata da China, Wang Yi, acrescentou na segunda-feira que não pode haver “nenhum acordo” sobre a ilha, considerado um território separatista por Pequim que deve ser recuperado à força, se necessário.

Wang disse a Blinken durante uma reunião de três horas nesta segunda-feira que sua visita ocorreu em um momento “crítico” nas relações EUA-China, segundo comunicado do Ministério de Relações Exteriores chinês.

-- Com a colaboração de Lin Zhu, Lucille Liu, Jing Li e Ishika Mookerjee.

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