Em votação dividida, Europa aprova tarifas de até 45% para carros elétricos da China

Decisão foi criticada pela Alemanha e por setores como o de bebidas, mais vulneráveis a eventuais medidas de retaliação do país asiático com taxas sobre seus produtos

Decisão da União Europeia ameaça ampliar um conflito comercial mais amplo com Pequim, que já prometeu proteger suas empresas
Por Alberto Nardelli - Jorge Valero - Craig Trudell
04 de Outubro, 2024 | 10:07 AM

Bloomberg — A União Europeia votou nesta sexta-feira (4) para impor tarifas de até 45% sobre os veículos elétricos da China, o que ameaça gerar um conflito comercial mais amplo com Pequim, que já prometeu proteger suas empresas.

As ações das montadoras europeias subiram após a votação.

A Comissão Europeia, o braço executivo do bloco, pode agora prosseguir com a implementação das taxas, que durariam cinco anos.

Dez estados membros votaram a favor da medida, enquanto a Alemanha e quatro outros votaram contra e 12 se abstiveram, de acordo com pessoas familiarizadas com os resultados que falaram à Bloomberg News.

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A decisão da UE foi tomada depois que uma investigação descobriu que a China subsidiava de maneira considerada injusta as empresas do setor.

Pequim nega essa alegação e ameaçou com suas próprias tarifas sobre os setores europeus de laticínios, brandy, carne suína e automóveis.

O bloco europeu tenta ativamente reduzir sua dependência da China. O ex-presidente do Banco Central Europeu Mario Draghi alertou no mês passado que “a concorrência patrocinada pelo Estado chinês” era uma ameaça à UE que poderia deixá-la vulnerável à coerção.

A UE, queregistrou 739 bilhões de euros (US$ 815 bilhões) em comércio com a China no ano passado, ficou dividida sobre a possibilidade de avançar com as tarifas.

Como os países membros da União Europeia votaram em relação à proposta de aplicar tarifas mais altas de importação em veículos elétricos da China

A UE e a China continuarão com as negociações para encontrar uma alternativa para as tarifas. Os dois lados exploram a possibilidade de chegar a um acordo sobre um mecanismo de controle de preços e volumes de exportação no lugar das tarifas.

“A UE e a China continuam a trabalhar arduamente para explorar uma solução alternativa que teria que ser totalmente compatível com a OMC (Organização Mundial do Comércio), adequada para lidar com o subsídio prejudicial estabelecido pela investigação da comissão, monitorável e executável”, disse a comissão em um comunicado à imprensa em que anunciaou a decisão.

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Alerta do governo da China

O Ministério do Comércio da China reconheceu a vontade política da UE de continuar as negociações, mas alertou que as tarifas "abalarão e prejudicarão" a confiança das empresas chinesas que investem na Europa.

O subíndice do Stoxx 600 para automóveis e peças subiu perto de 1,00% em Frankfurt às 12h04, com melhor desempenho em relação ao índice mais amplo. As fabricantes de autopeças Valeo e Continental subiam 2,2%, enquanto o papel da Renault avançava 1,8%, e a Volkswagen, 1,6%.

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O lobby do conhaque da França criticou a medida, dizendo que o governo os havia abandonado - estará mais sujeito a retaliações do governo da China com a imposição também de sobretaxas.

As ações da Pernod Ricard caíram até 1,8%, enquanto a Remy Cointreau perdeu até 3,1%. A Diageo, que tem uma joint venture de produção de conhaque e champanhe com a LVMH, caiu 1%.

Tarifas previstas para diferentes montadoras de automóveis que não são da União Europeia

Os fabricantes chineses de veículos elétricos terão que decidir se absorvem as tarifas ou aumentam os preços, em um momento em que a desaceleração da demanda doméstica tem reduzido suas margens de lucro. A perspectiva de tarifas fez com que algumas montadoras chinesas considerassem investir em fábricas na Europa, o que poderia ajudá-las a evitar as tarifas.

Uma declaração da Geely Holding Group, que controla a Volvo da Suécia e a Lotus Cars do Reino Unido, criticou a decisão, dizendo que ela “não é construtiva e pode potencialmente prejudicar as relações econômicas e comerciais entre a UE e a China, o que prejudicaria, em última análise, as empresas europeias e os interesses dos consumidores”.

As tarifas adicionais já diminuíram o ímpeto das montadoras chinesas na Europa, com suas vendas em queda de 48% em agosto, para o nível mais baixo em 18 meses.

A região é um destino desejável para os fabricantes do país porque os veículos elétricos são vendidos em números relativamente altos e a preços muito mais robustos do que em outros mercados de exportação.

Participação de mercado de carros elétricos da China no mercado europeu recua pelo segundo mês seguido anos anos de expansão

A parcela de carros elétricos vendidos na UE que foram fabricados na China subiu de cerca de 3% em 2020 para mais de 20% nos últimos três anos.

As marcas chinesas foram responsáveis por cerca de 8% dessa participação de mercado, enquanto as empresas internacionais que exportam da China, incluindo a Tesla, ficaram com o restante.

Ainda assim, o aumento das tarifas da Europa terá um “impacto menor” sobre os fabricantes chineses porque a região representa apenas uma fração de suas vendas totais, de acordo com Kevin Lau, analista da Daiwa Securities.

A Europa contribuiu com cerca de 1% a 3% das vendas totais da BYD, da Geely e da SAIC Motor Corp. nos primeiros quatro meses deste ano, segundo ele.

Um porta-voz da Volkswagen disse em um comunicado nesta sexta-feira que as tarifas eram a “abordagem errada” e não melhorariam a competitividade europeia.

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"Apelamos para a Comissão da UE e para o governo chinês para que continuem construtivamente as negociações em andamento para uma solução política", de acordo com a declaração. "O objetivo comum deve ser evitar quaisquer direitos compensatórios e, portanto, um conflito comercial."

O grande número de abstenções na votação da UE revela o desconforto de muitos estados-membros em relação a uma possível guerra comercial com a China, mesmo que nações importantes como a França tenham dito que o bloco precisa defender suas próprias indústrias com mais força.

Resistência da Alemanha

O ministro da Economia da Alemanha, Robert Habeck, alertou anteriormente que a imposição de tarifas poderia levar a uma guerra tarifária.

“É o sinal certo do governo alemão, que - no interesse da economia, da prosperidade e do crescimento - apoiou os interesses da indústria automotiva europeia e alemã e de seus funcionários em uma questão tão importante e votou ‘não’ hoje na decisão da UE”, disse Hildegard Müller, presidente do lobby automotivo alemão VDA, em um comunicado após a votação.

Embora Bruxelas tenha buscado uma igualdade de condições para as empresas europeias, as montadoras alemãs estão preocupadas com a repercussão que poderia exacerbar os desafios que já enfrentam em seu mercado mais importante globalmente.

A Mercedes-Benz e a BMW pressionaram Berlim a votar contra as tarifas mais altas e pediram que a UE negociasse com Pequim.

As maiores montadoras alemãs, incluindo a Volkswagen, a Mercedes e a BMW, seriam as mais atingidas em uma disputa comercial, já que a China foi responsável por cerca de um terço de suas vendas de automóveis em 2023.

- Com a colaboração de Jenni Marsh, Stefan Nicola, Petra Sorge, Michael Nienaber e Li Liu.

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