Manifestantes protestam contra Maduro na Venezuela; opositora é detida e liberada

A líder da oposição María Corina Machado saiu da clandestinidade para se juntar a centenas de venezuelanos que protestam contra os planos de posse para manter o presidente no poder

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Bloomberg — A líder da oposição venezuelana María Corina Machado foi libertada após uma breve detenção em que foi forçada a gravar vídeos, informou o escritório de seu partido, concluindo um angustiante período de duas horas depois de ela arriscar sua segurança para fazer sua primeira aparição pública em meses.

Representantes da oposição afirmaram que ela foi detida por forças de segurança após sair de um protesto contra o presidente Nicolás Maduro, que planeja tomar posse para um terceiro mandato na sexta-feira (10), apesar das evidências de que ele fraudou as eleições do ano passado.

O regime de Maduro já recebeu condenação internacional por sua autoproclamada vitória eleitoral em julho e pela repressão subsequente a seus críticos. Cerca de duas dezenas de pessoas foram detidas desde o início do ano, incluindo um parente do candidato presidencial da oposição Edmundo González e Enrique Márquez, um crítico ferrenho das políticas de Maduro e ex-vice-presidente da Assembleia Nacional liderada pela oposição.

Machado tinha aparecido em público pela última vez em 28 de agosto, um mês após a eleição que os EUA, a União Europeia e outras nações dizem ter sido legitimamente vencida por seu candidato substituto, Edmundo González.

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Maduro, que foi declarado vencedor pela autoridade eleitoral do país em apresentar provas, pretende assumir o cargo na sexta-feira (10), apesar da condenação internacional. González, que apresentou evidências de que obteve quase 70% dos votos, prometeu retornar ao país para a posse, apesar das ameaças do governo de prendê-lo ao chegar.

Tensão e protestos

A presença de um número significativo de partidários da oposição nas ruas, apesar do aumento acentuado da presença das forças de segurança, marca uma vitória simbólica para a oposição um dia antes de Maduro iniciar um terceiro mandato consecutivo na nação sul-americana rica em petróleo.

As forças do regime, vestidas com equipamento antimotim, usaram gás lacrimogêneo para tentar dispersar as multidões em áreas de Caracas, Maracaibo e Valência, de acordo com relatos da mídia local. A multidão segurava a bandeira nacional, buzinava e apitava, e alguns gritavam “Esse governo vai cair”.

Venezuelanos de todo o mundo também participaram de manifestações, inclusive na vizinha Colômbia, onde centenas se reuniram na capital Bogotá. As pessoas seguravam cartazes com os dizeres “meus pés estão na Colômbia, mas minha cabeça está na Venezuela” e “Venezuela Livre”.

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Entre eles estava Jimmy Torres, um general do exército aposentado que, em 2014, ficou preso por cinco anos e três meses depois de tirar uma foto de um protesto da oposição. “Estou aqui para dar voz a todos os presos políticos na Venezuela, porque eu fui um deles - fui torturado”, disse ele em uma entrevista. “Estou aqui porque estou convencido de que Edmundo González pode se tornar nosso presidente legítimo amanhã.”

Outras cidades que receberam manifestações da oposição foram Londres, Amsterdã, Madri e Miami, com multidões cantando “Até o Fim”, um dos lemas de Machado, e outros slogans.

Intimidação e repressão

Na Venezuela, as gangues de motociclistas pró-governo conhecidas como colectivos , que geralmente circulam para intimidar as pessoas em reuniões da oposição, estavam ativas na quinta-feira em algumas partes de Caracas e outras cidades. O transporte público era escasso, e as escolas e muitas empresas estavam fechadas.

As tensões aumentaram em todo o país no período que antecedeu a posse presidencial, com o regime lançando uma nova onda de repressão contra dissidentes. Pelo menos duas dúzias de pessoas foram detidas desde o início do ano.

O presidente dos EUA, Joe Biden, reconheceu González como presidente eleito em novembro. O ex-diplomata passou a última semana angariando apoio para a reivindicação da oposição ao poder, reunindo-se com Biden na Casa Branca, bem como com chefes de Estado na Argentina, Uruguai e Panamá, antes de chegar à República Dominicana na quarta-feira.

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De lá, González pretende voar para a Venezuela acompanhado por cerca de uma dúzia de ex-presidentes de nações latino-americanas. Diosdado Cabello, o ministro do Interior linha-dura de Maduro, disse no início da semana que o avião seria abatido.

Sem se abalar com a ameaça, González expressou gratidão pelo apoio que recebeu em toda a América Latina. "Nos veremos muito em breve em Caracas, em liberdade", disse ele antes de se encontrar com o presidente dominicano Luis Abinader na quinta-feira.

(Reportagem atualizada às 18h42 para incluir informação sobre libertação da líder opositora)

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