Elogios a Xi e protecionismo: Trump busca eleitores em podcast de Joe Rogan

Candidato republicano grava conversa de três horas no podcast mais popular dos EUA e fala de erros cometidos no primeiro mandato e de conversas com Kim Jong Un, da Coreia do Norte

Donald Trump participa de podcast com Joe Rogan em busca de ampliar o apoio de eleitores indecisos na reta final de campanha
Por Hadriana Lowenkron
26 de Outubro, 2024 | 03:32 PM

Bloomberg — O ex-presidente Donald Trump disse que consideraria a possibilidade de substituir totalmente o imposto de renda por tarifas de importação, que errou nas nomeações de funcionários de alto escalão e fez uma possível revelação sobre vida extraterrestre durante três horas no podcast com o comediante Joe Rogan na sexta-feira (25).

Foi uma conversa pouco ortodoxa - e longa - para um candidato à presidência, que ressaltou a aproximação do candidato republicano com eleitores jovens do sexo masculino e a busca por um espetáculo que possa alimentar um hype nos últimos dias da campanha presidencial.

O podcast “The Joe Rogan Experience”, gravado na sexta durante uma visita a Austin, é o mais recente esforço de Trump para ampliar seu apelo eleitoral para além de sua fervorosa base conservadora, em momento em que as pesquisas o mostram empatado com a democrata Kamala Harris.

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Trump opinou sobre vários tópicos, defendendo sua agenda econômica considerada populista e elogiou fortemente o bilionário Elon Musk - que ele chamou de “de outro mundo” - e o presidente chinês Xi Jinping.

Ao longo de sua tentativa de retornar à Casa Branca, Trump tem insinuado uma retomada da guerra comercial que ele travou com Xi em seu primeiro mandato, entre 2016 e 2020.

A conversa se estendeu por tempo suficiente para que Trump acabasse se atrasando horas para um comício no estado de Michigan, onde centenas de apoiadores saíram do local com a queda da temperatura enquanto esperavam que ele chegasse.

Mas Rogan, amplamente considerado o podcaster mais popular do mundo - com 17,5 milhões de assinantes no YouTube e 15,7 milhões no Spotify - ofereceu uma plataforma única para o ex-presidente atingir não apenas um público enorme mas também eleitores independentes que, segundo as duas campanhas, poderiam decidir a eleição.

Kamala Harris também procurou aproveitar a crescente popularidade de mídias não tradicionais e igualmente apareceu em podcasts, incluindo o popular “Call her Daddy”, com Alex Cooper. Sua campanha disse que dificuldades de agenda a impediram de aparecer no programa de Rogan.

Veja abaixo os principais destaques da conversa de Trump e Rogan:

‘Maior erro’

Questionado por Rogan qual foi seu “maior erro” no cargo, Trump respondeu que “escolheu algumas pessoas que não deveria ter escolhido”.

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"Neocons, pessoas ruins ou apenas pessoas desleais", acrescentou.

Trump destacou dois ex-funcionários - ambos os quais se tornaram críticos proeminentes, o ex-chefe de gabinete da Casa Branca John Kelly e o ex-conselheiro de segurança nacional John Bolton.

Kelly acusou Trump de dizer que queria o tipo de generais que Adolf Hitler tinha e de elogiar o ex-líder nazista por ter feito algumas coisas boas - alegações que Trump negou.

O ex-presidente chamou Kelly de "valentão" e chamou Bolton de "idiota".

‘A palavra mais bonita: tarifas’

Trump defendeu novamente sua agenda econômica considerada populista e protecionista, que tem foco na renovação de cortes de impostos que estão expirando, oferece novas reduções e benefícios fiscais e tarifas abrangentes sobre nações estrangeiras que, segundo ele, ajudariam a impulsionar a fabricação nacional nos EUA.

O candidato republicano chamou a palavra tarifa (de importação) de “a palavra mais bonita” do dicionário.

"É mais bonita do que amor. É mais bonita do que qualquer coisa", disse ele. "Este país pode ficar rico com o uso - o uso adequado - de tarifas."

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Rogan perguntou se Trump consideraria a possibilidade de substituir o imposto de renda por tarifas. Trump respondeu: "Sim, claro. Por que não?" e passou a argumentar que os EUA eram mais ricos quando tinham tarifas fortes no final do século XIX.

Trump rejeitou as alegações da maioria dos economistas de que as tarifas estimulariam a inflação e que os impostos não produziriam a receita que ele prevê.

Telefonema do CEO do Google

Durante a entrevista, Trump disse que havia recebido uma ligação do CEO da Alphabet (holding do Google), Sundar Pichai, que teria afirmado que o interesse na sessão de fotos do candidato republicano em um McDonald’s no estado da Pensilvânia no último domingo (20) havia aumentado na internet.

"Ele disse: 'Essa coisa do McDonald's, quero dizer ao senhor, é uma das maiores coisas que já tivemos no Google'. Foi um sucesso", disse Trump.

O candidato republicano visitou uma loja do McDonald’s e vestiu um avental na área de batatas fritas e distribuiu lanches para alguns clientes, como parte de um esforço para desacreditar - sem provas - as alegações de Harris de que ela trabalhou na rede de fast-food quando era mais jovem.

Trump tem tido uma relação controversa com o Google, alegando que ele esconde os resultados para as pessoas que tentam encontrar informações sobre ele.

Xi Jinping é ‘brilhante’

Trump elogiou Xi Jinping, presidente da China, como um “cara brilhante” e destacou o forte controle do líder sobre seu país.

“Ele controla 1,4 bilhão de pessoas com mão de ferro”, disse o ex-presidente dos Estados Unidos. “Quero dizer, ele é um cara brilhante, quer você goste ou não.”

Trump afirma regularmente que conquistou o respeito de líderes estrangeiros e insiste que seu bom relacionamento com eles - incluindo o presidente russo Vladimir Putin - pode ajudar a trazer a paz no mundo.

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Casas na praia com Kim Jong Un

Trump enfatizou seu relacionamento com Kim Jong Un, líder da Coreia do Norte, e compartilhou uma história em que pediu ao líder do país que parasse de construir armas nucleares.

“Você está sempre construindo armas nucleares. Fique tranquilo. Não precisa fazer isso. Vamos construir alguns condomínios em sua costa”, disse Trump.

O ex-presidente disse que o líder norte-coreano lhe disse que precisava das armas para sua própria segurança.

Teorias da conspiração

Rogan e Trump mergulharam repetidamente em conversas sobre conspiração, com Trump insistindo que a eleição de 2020 foi roubada enquanto o apresentador do podcast o questionava se ele forneceria evidências para apoiar suas alegações.

Em vez disso, Trump disse que acreditava que a mídia não havia coberto de forma justa o material recuperado do laptop de Hunter Biden e que mudanças adotadas em procedimentos de votação em 2020 por causa da pandemia de covid eram ilegais.

De modo geral, Rogan foi receptivo ao enquadramento de Trump da questão eleitoral, mas se recusou a fazer o mesmo depois quando Trump elogiou o valor da vacina contra a poliomielite.

Perto do final do episódio, Rogan perguntou ao ex-presidente sobre a possibilidade de vida extraterrestre.

Trump disse que havia feito "uma entrevista" com três ou quatro autoridades não identificadas que ele descreveu como "pessoas sólidas e bonitas" sobre o assunto.

“Eles disseram: ‘Há algo lá’”, disse Trump, sem entrar em detalhes.

- Com a colaboração de Ashley Carman.

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