Eleições primárias na Argentina: quais são as preocupações do mercado?

Resultado das eleições primárias deste domingo preocupa investidores e traders; conheça as incertezas e os pontos que são monitorados de perto

Argentinos vão às urnas neste domingo (13) para escolher os candidatos às eleições gerais de outubro
13 de Agosto, 2023 | 08:21 AM

Leia esta notícia em

Espanhol

Bloomberg Línea — A corrida eleitoral da Argentina começa formalmente neste domingo (13), quando mais de 15 milhões de cidadãos irão às urnas para as eleições Primárias, Abertas, Simultâneas e Obrigatórias (PASO), uma etapa crucial que determinará quais candidatos avançarão para disputar a presidência nas eleições gerais de outubro.

Quatro anos após a vitória esmagadora de Alberto Fernández em 2019 – que desencadeou o segundo maior colapso do mercado de ações do mundo e do peso – o resultado das eleições preocupa os investidores e traders.

Diante desse cenário, o mercado argentino está tentando se antecipar e encontrar quaisquer indícios que possam inferir o resultado.

Nessa busca, surgem algumas certezas, juntamente com algumas incertezas que devem ser observadas de perto ao interpretar os resultados neste domingo.

PUBLICIDADE

Principais pontos das eleições primárias

Um relatório recente da 1816, atualmente uma das consultorias mais influentes de Buenos Aires, focou precisamente nas principais dúvidas que permanecem antes das PASO: a margem de vitória da coalizão de oposição Juntos por el Cambio (JxC) sobre a Unión por la Patria (UxP) do governo; quem será o vencedor nas primárias da JxC; e quantos votos o outsider libertário Javier Milei conseguirá.

Com relação à diferença entre a JxC e a UxP, a 1816 Consulting considerou-a “o principal mistério a ser desvendado”, observando que quanto maior a margem de vitória da JxC, mais os ativos argentinos devem subir na segunda-feira (14).

A segunda incerteza mais relevante, segundo eles, é quem vencerá as primárias do Juntos por el Cambio.

Com relação a isso, destacaram que Patricia Bullrich e Horacio Rodríguez Larreta concordam com a necessidade de políticas de choque fiscal em 2024, mas diferem na velocidade com que removeriam os controles cambiais, com Bullrich optando por uma saída mais rápida e Rodríguez Larreta propondo uma abordagem mais gradual.

Depois de avaliar os riscos associados a ambas as propostas, eles concluíram que, para a dívida denominada em pesos, “o melhor cenário é (que Larreta vença), uma vez que a remoção dos controles muito rapidamente e a reforma imediata da Carta Orgânica do Banco Central podem não ser compatíveis com o atual estoque de dívida soberana em pesos”.

Quanto à dívida denominada em dólares, eles expressaram que não têm certeza de qual seria o cenário ideal. No entanto, enfatizaram que, devido ao perfil de vencimento atual, o “plano econômico de qualquer um dos candidatos deve permitir que [a Argentina] volte a ter acesso ao mercado internacional no máximo 12 meses após a posse do novo governo”.

Além do vencedor, o relatório da 1816 também apontou que “no domingo à noite, os analistas começarão a analisar a capacidade do vencedor das primárias de receber os votos do perdedor”.

PUBLICIDADE

Eles lembraram que os confrontos entre Larreta e Bullrich diminuíram nas últimas semanas, pois decidiram aguardar os resultados oficiais juntos em um centro de campanha compartilhado neste domingo.

Incertezas com Javier Milei

O terceiro ponto principal de incerteza, de acordo com a 1816, é o número de votos que Javier Milei conseguirá reunir. Embora reconheça que é uma “figura pró-mercado”, ele é visto com cautela pelos investidores devido às incertezas que cercam a implementação de seu plano.

Milei insistiu recentemente que seu plano de dolarizar a economia argentina é “absolutamente viável”.

“O número real de votos para Javier Milei é uma das principais coisas a serem observadas no domingo”, disse a corretora Facimex Valores em um relatório recente no qual também observou que “outro aspecto importante a ser observado em relação à oposição será a competição interna nacional dentro do Juntos por el Cambio”.

A respeito disso, a consultoria disse que “a resolução dessa disputa interna será crucial para prever cenários para as eleições gerais, dado o contraste entre Bullrich e Rodríguez Larreta”.

Além disso, tanto os analistas da 1816 quanto os da Facimex também destacaram que será importante monitorar os níveis de comparecimento dos eleitores (já que o comparecimento é normalmente menor no PASO do que em outubro), além do resultado na Província de Buenos Aires e da futura composição do Congresso.

“Na corrida pelo controle do Congresso, o Unión por la Patria assume os maiores riscos na Câmara dos Deputados, enquanto o Juntos por el Cambio é o partido que corre mais riscos no Senado”, afirmou o relatório da Facimex.

Eles acrescentaram: “parece improvável que haja mudanças significativas na dinâmica do poder dentro do Congresso ou que qualquer partido possa ter um quórum por conta própria em qualquer uma das câmaras”.

Leia também:

Argentina chega às eleições primárias em busca de esperança após crises em série

Turismo Malbec: crise argentina atrai vizinhos com esqui, carne e vinhos baratos

Cenário de alavancagem exige reestruturação sem precedentes, alerta banco global

Tomás Carrió

Tomás Carrió, jornalista especializado em economia e finanças. Trabalhou para os jornais El Cronista e La Nación e é colunista de economia da Radio Milenium. Licenciado em Comunicação Social (Universidad Austral) e Mestre em Jornalismo (Universidade Torcuato Di Tella).