Eleições na Venezuela 2024: Maduro ou González terá país ‘quebrado’ pela frente

Atual líder do país precisa do reconhecimento da comunidade estrangeira à sua eventual vitória e, principalmente, do alívio de sanções econômicas - algo com o qual a oposição contaria

Carros en Venezuela
Por Andrew Rosati - Fabiola Zerpa
28 de Julho, 2024 | 05:49 PM

Bloomberg — Para o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, se manter no poder pode ser a parte fácil - as urnas ainda estão abertas no momento de publicação desta reportagem neste domingo (28).

Se a eleição deste domingo culminar com uma declaração de sua vitória, Maduro ainda tem que enfrentar a devastação econômica que assolou a nação rica em petróleo durante seus 11 anos de governo. E mais do que sair por cima, como conseguiu fazer repetidas vezes, ele também precisará convencer o resto do mundo de que o resultado eleitoral foi legítimo.

Maduro há muito tempo trata a conquista de mais um mandato como certa. Ele reintroduziu subsídios, fez propostas a investidores e fechou acordos com grandes empresas petrolíferas.

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Mas nada disso importará a menos que a votação de domingo seja percebida como limpa e justa pelas potências mundiais como os Estados Unidos - que só recentemente começaram a aliviar de forma condicional as sanções financeiras abrangentes contra seu regime e a estatal PDVSA.

Pesquisas eleitorais que apontavam uma vantagem de 20 pontos ou mais da oposição poucos dias antes da votação certamente lançarão dúvidas sobre qualquer resultado favorável a Maduro.

“É muito difícil imaginar neste momento que haverá um resultado que satisfará a necessidade de Maduro de reconhecimento internacional”, disse Phil Gunson, analista do International Crisis Group, em Caracas.

Economia da Venezuela encolheu e enfrentou diferentes crises sob o comando de Nicolás Maduro desde 2013

Sem essa aprovação da comunidade internacional, a Venezuela provavelmente permanecerá banida dos mercados financeiros internacionais. Isso significa que continuará a lutar para reestruturar bilhões de dólares em dívida inadimplente e levantar o capital necessário para ressuscitar a indústria petrolífera sucateada do país.

A produção de petróleo da Venezuela está atualmente em torno de 900 mil barris por dia, menos de um terço dos 3 milhões de barris que produzia diariamente em 1998, o ano em que o antecessor e mentor de Maduro, Hugo Chávez, foi eleito pela primeira vez. As condições de vida afundaram desde então.

O recente acordo com os EUA de alívio de sanções em troca de eleições limpas fracassou quando o governo venezuelano manteve María Corina Machado, a figura mais popular da oposição, desqualificada para se candidatar.

Os EUA então reintroduziram sanções setoriais em abril, mas mantiveram uma licença de operação para a Chevron, que atualmente produz cerca de 200 mil barris por dia de petróleo venezuelano. Outros produtores como Repsol e Maurel também receberam licenças.

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Um impulso inesperado na campanha de Edmundo González, o candidato da oposição apoiado por Corina Machado, tornará a vitória de Maduro ainda mais difícil de ser reconhecida pelas potências mundiais.

“O problema para Maduro é que todas as coisas seguiram na direção errada”, disse Francisco Monaldi, diretor de política energética latino-americana do Baker Institute, da Rice University.

Petrolíferas estrangeiras lentamente retomam a produção na Venezuela, mas processo está sob risco de aumento das sanções dos EUA

Mas poucos esperam que Maduro se curve.

Diplomatas que lidaram diretamente com seu governo dizem que ele está profundamente ciente do desejo dos EUA de estabilizar os preços do petróleo e evitar aumentar um êxodo que já fez 7,7 milhões de venezuelanos fugirem, e ele conta com isso como vantagem na queda de braço.

Ainda não se sabe ao certo como os venezuelanos reagirão aos resultados, mas um aumento das retaliações dos EUA provavelmente interromperiam a já lenta recuperação do país.

Quebrado e isolado, Maduro conseguiu dar um sopro de vida à economia ao buscar alguma disciplina fiscal e desmantelar controles e subsídios que faziam parte da chamada Revolução Bolivariana de Chávez.

Ele apoiou a iniciativa privada de certa forma, permitindo que dólares e importações fluíssem livremente e pôs fim a anos de hiperinflação. Mas a situação econômica ainda é precária.

Alguns observadores da Venezuela acreditam que Maduro está bem ciente de sua própria impopularidade e do que sua vitória significaria para potências estrangeiras, credores e empresas.

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Eles dizem que ele pode, em última análise, tentar compartilhar o poder, ou tentar trazer alguns de seus oponentes para sua coalizão para manter o país funcionando normalmente. Isso poderia tornar o resultado mais fácil de engolir.

Outros, como Francisco Rodriguez, economista da Universidade de Denver, dizem que Maduro pode estar preparado para simplesmente se virar.

O Irã, segundo Rodriguez, foi atingido por sanções dos EUA em 1979 e continua de pé até hoje. Mesmo sem ter jamais retornado aos níveis de produção vistos antes da Revolução Islâmica, o país recuperou grande parte de sua produção.

“No final, eles se ajustam”, disse Rodriguez. “Eles ganham novos parceiros comerciais, encontram maneiras diferentes de fazer negócios.”

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