Bloomberg — Os eleitores franceses têm o maior comparecimento às urnas neste domingo (7) em mais de 40 anos, no que provavelmente será uma eleição sem precedentes na segunda maior economia da União Europeia.
O partido Reunião Nacional (RN), de Marine Le Pen, que é contra a imigração, deverá conquistar o maior número de cadeiras no Parlamento da França, o que poderá torná-lo o primeiro partido de extrema direita na liderança do país desde que o governo de Vichy (1940-1944) colaborou com os nazistas na Segunda Guerra Mundial.
A principal dúvida é se o partido conquistará assentos suficientes para obter a maioria absoluta. Isso não só abriria o caminho para que seu presidente, Jordan Bardella, se tornasse primeiro-ministro, mas também lhe daria uma mão forte o suficiente na Assembleia Nacional para aprovar facilmente leis e refazer a agenda interna da França.
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O presidente Emmanuel Macron convocou a votação há quatro semanas, em uma estratégia para reforçar o apoio depois que sua aliança centrista foi derrotada em uma eleição para o Parlamento Europeu. Essa decisão parece não ter saído como o planejado, com sua coalizão agora prevista para conquistar entre 95 e 162 assentos no parlamento de 577 lugares, contra 250.
O presidente – que raramente passa mais do que alguns dias sem um discurso, uma entrevista ou algum tipo de evento – não é visto em público há quase uma semana.
Nas últimas quatro semanas de uma campanha frenética, o Reunião Nacional atenuou algumas de suas propostas mais controversas. Mas ainda está focado em reduzir drasticamente a migração, afastar-se das regras da União Europeia – incluindo a redução do valor pago ao orçamento do bloco – e desfazer algumas das reformas previdenciárias de Macron.
Saiba o que ficar de olho nas eleições na França neste domingo:
Vencedores e perdedores
Na sexta-feira (5) – o último dia em que as empresas de pesquisa podiam publicar projeções antes da votação – o RN e seus aliados estavam a caminho de terminar em primeiro lugar com 170 a 250 das 577 cadeiras na Assembleia Nacional, de acordo com seis pesquisas divulgadas no final da semana. Isso seria significativamente abaixo dos 289 necessários para obter a maioria absoluta.
A aliança de esquerda Nova Frente Popular está projetada para conquistar entre 140 e 198 cadeiras, de acordo com as pesquisas, enquanto o grupo de Macron está a caminho para obter entre 115 e 162.
Compartilhamento de poder
Qualquer partido ou coalizão que consiga obter uma maioria absoluta de 289 ou mais cadeiras controlará a câmara baixa do parlamento. Isso significa que poderá aprovar leis com facilidade e que um governo apoiado por esse grupo terá maior vantagem.
Se o grupo que obtiver a maioria for de um partido diferente do presidente, o que aconteceu três vezes desde que a atual forma de república da França entrou em vigor em 1958, isso resultará em um tipo de acordo de compartilhamento de governo chamado de coabitação.
O presidente geralmente escolhe o líder do partido que obteve a maioria como primeiro-ministro. Mas uma combinação envolvendo o RN seria a primeira vez que envolveria um partido que nunca governou antes.
Nesse cenário, espera-se que o presidente se concentre na defesa e na política externa, enquanto o primeiro-ministro da oposição ficaria encarregado dos assuntos domésticos e econômicos.
A delimitação de poderes entre os dois cargos não é clara e esse cenário provavelmente levaria a conflitos – se não a processos judiciais – sobre quem tem o direito de tomar determinadas decisões.
Parlamento suspenso
Se um grupo obtiver o maior número de assentos, mas não tiver a maioria absoluta, ele poderá formar um governo minoritário – como a situação atual de Macron. Mas isso também depende do presidente, que tem autoridade exclusiva para nomear um primeiro-ministro.
Bardella, do RN, disse que recusaria o cargo se seu partido e seus aliados não obtivessem a maioria absoluta na Assembleia Nacional. O risco nesse cenário é que nenhum partido tenha a influência necessária para governar, levando à paralisação do governo.
Macron poderia contratar uma figura técnica para o cargo, mas mesmo que essa pessoa estivesse disponível, ela teria dificuldades para comandar a autoridade no parlamento, no qual as forças anti-elite declaradas estariam em ascendência.
Uma figura mais política – talvez um moderado de centro-esquerda – ainda estaria vulnerável a votos de desconfiança e à divisão de uma aliança centrista.
Participação
A participação é um elemento crucial a ser observado e, até as 17h deste domingo no horário local, havia um recorde de participação eleitoral desde 1981.
Isso pode ser um indicador inicial de que os eleitores centristas estão votando em um candidato que talvez não gostem para tentar impedir a vitória da extrema direita. No primeiro turno, há uma semana, houve um aumento no comparecimento às urnas de 66,7%, o maior desde 1997.
Até as 17h em Paris, 59,7% dos eleitores registrados haviam votado, acima dos 38,1% no mesmo horário no segundo turno da eleição legislativa de 2022. As pesquisas agora estão projetando que o total será entre 67% e 67,5%, no maior nível dede 1997.
Políticas
Os três grupos líderes nas eleições estão propondo caminhos radicalmente diferentes para a França.
O partido de Macron defende a continuidade, com mais cortes de impostos e reformas pró-negócios, além de um compromisso com a redução dos gastos.
Em resposta às preocupações dos eleitores, seu grupo acrescentou promessas de melhorar a renda das pessoas de baixa renda por meio de ajustes nos impostos e medidas para ajudar os compradores de imóveis e os aposentados.
O RN prometeu reduzir a imigração, endurecer a postura da França em relação à lei e à ordem, com mais vagas nas prisões e penas mínimas, e cortar os impostos sobre o valor agregado da energia e do combustível.
Após um selloff de ativos franceses, o partido adiou algumas de suas medidas mais caras – potencialmente indefinidamente, dependendo de uma revisão das finanças públicas.
A Nova Frente Popular, por sua vez, tem o programa econômico mais radical. No curto prazo, o partido diz que congelaria os preços dos produtos básicos de consumo, aboliria a reforma previdenciária de Macron e aumentaria o salário mínimo em 14% e os salários do setor público em 10%.
Os gastos anuais extras, que devem chegar a 150 bilhões de euros (US$ 163 bilhões) em 2027, seriam inteiramente financiados com novos impostos sobre empresas, finanças e os mais ricos.
-- Atualização às 15h sobre o comparecimento dos eleitores às urnas
--Com a colaboração de Ania Nussbaum, Samy Adghirni e William Horobin.
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