Bloomberg — Um júri de Nova York considerou Donald Trump culpado de múltiplos crimes no julgamento de um caso sobre o pagamento de suborno, tornando-se o primeiro ex-presidente dos EUA a ser condenado na esfera criminal.
Trump foi considerado culpado nesta quinta-feira (30) por todas as 34 acusações de falsificação de registros comerciais para ocultar um pagamento de suborno à atriz de filmes adultos Stormy Daniels pouco antes da eleição de 2016.
Trump negou ter tido um caso com Daniels e falsificado registros.
Os promotores disseram que Trump teria liderado um esquema amplo para influenciar a eleição ao buscar esconder relatos de seus supostos encontros sexuais com mulheres.
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A condenação cria um caminho jurídico e político desafiador para Trump à medida que ele enfrenta o presidente Joe Biden em novembro como o provável candidato republicano na eleição presidencial.
Trump, que repetidamente criticou a ação como interferência eleitoral dos democratas, pode ser condenado a até quatro anos de prisão, mas é certo que irá apelar e pode permanecer livre durante o processo.
O veredicto é um dos momentos mais marcantes da história política recente dos EUA, forçando os eleitores a decidirem se querem colocar um criminoso condenado na Casa Branca. Mas Trump, um bilionário que fez sua fortuna no setor imobiliário, mantém um forte controle sobre o Partido Republicano, apesar de seu histórico de escândalos legais e pessoais.
Trump, de 77 anos, ainda enfrenta outros julgamentos criminais em Washington e na Geórgia por sua tentativa de reverter o resultado da eleição de 2020, e um na Flórida por não ter devolvido documentos sigilosos, sensíveis à segurança nacional, que ele levou da Casa Branca.
Apesar das acusações, a arrecadação da campanha de Trump e o seu apoio político permanecem fortes. Trump também supera Biden em muitas pesquisas eleitorais.
Se eleito, Trump não pode se perdoar no caso de pagamento de suborno porque foi condenado por acusações estaduais, não federais.
O veredicto, após dois dias de deliberações, ocorre após cinco semanas de testemunhos que chamaram a atenção do público.
Os promotores que trabalham para o procurador distrital de Manhattan, Alvin Bragg, argumentaram que Trump teria supervisionado um esquema para influenciar a eleição de 2016 usando registros da Trump Organization para esconder o pagamento de suborno.
“Tudo o que o sr. Trump e seus cúmplices fizeram neste caso está envolto em mentiras”, disse o promotor Joshua Steinglass aos jurados de Manhattan em seus argumentos finais. “As evidências são literalmente esmagadoras.”
O juiz Juan Merchan, que supervisionou o julgamento, poderia sentenciar Trump a um tempo de prisão ou impor um período de liberdade condicional, citando sua idade e status como réu primário.
Merchan avisou Trump durante o julgamento que poderia colocá-lo atrás das grades por violar repetidamente uma ordem de silêncio. Ele também reconheceu os requisitos de segurança de encarcerar um ex-presidente.
Grande parte do julgamento girou em torno de Michael Cohen, ex-advogado e auxiliar de Trump, que foi para a prisão por mentir sob juramento e outros crimes.
Cohen pagou US$ 130.000 a Stormy Daniels para que ela ficasse em silêncio sobre seu suposto encontro com Trump em 2006. Ela ameaçou tornar o caso público em outubro de 2016, após a divulgação de vídeos de bastidores do programa de TV Access Hollywood em que Trump discutiu agredir sexualmente mulheres.
“Isso é um desastre, um desastre total”, disse Trump sobre a gravação, de acordo com Cohen. “As mulheres vão me odiar. Os caras podem achar legal, mas isso vai ser um desastre para a campanha.”
Cohen testemunhou que discutiu repetidamente o caso de Daniels com Trump, que aprovou o acordo de pagamento de suborno. Ele disse que Trump autorizou um plano para reembolsar Cohen um total de US$ 420.000, cobrindo o pagamento a Daniels, pagamentos para outro fornecedor, uma alocação para impostos e um bônus.
Cohen disse aos jurados que ele enviou faturas que falsamente cobravam por honorários advocatícios, não por um reembolso. Os promotores disseram que as 34 acusações de falsificação de registros comerciais abrangiam 11 faturas, assim como 11 cheques para Cohen e 12 vales da empresa.
O júri condenou Trump apesar dos ataques incisivos a Cohen, a testemunha principal da acusação. O advogado de Trump, Todd Blanche, atacou Cohen como um mentiroso em série que passou de amar Trump a odiá-lo, e depois ganhou milhões de dólares com livros e podcasts criticando seu ex-chefe.
Cohen é “a personificação humana da dúvida razoável”, disse Blanche. “Ele é literalmente o maior mentiroso de todos os tempos.”
Trump nunca testemunhou, apesar de prometer antes do julgamento que iria depor. Mesmo assim, os jurados ouviram uma gravação secreta que Cohen fez de Trump, viram trechos de vídeo dele e leram seus tuítes sobre Cohen e Daniels.
Os promotores disseram que a conspiração começou em agosto de 2015 durante uma reunião na Trump Tower com a presença de Trump, Cohen e David Pecker, o ex-diretor executivo da empresa que publica o tablóide National Enquirer.
Pecker testemunhou que prometeu servir como os “olhos e ouvidos” da campanha de Trump, publicar peças positivas e atacar rivais. Mas, mais importante, Pecker disse que avisaria Cohen sempre que ouvisse histórias negativas.
Pecker explicou por que sua empresa, a American Media, pagou US$ 150.000 à ex-coelhinha da Playboy Karen McDougal para manter silêncio sobre suas alegações de ter mantido um caso com Trump por um ano.
Ele disse que esperava que mulheres se apresentassem com histórias sobre Trump quando ele estava concorrendo à presidência porque ele “era conhecido como o solteiro mais cobiçado e namorava as mulheres mais bonitas”.
Os jurados também ouviram Daniels, que descreveu em detalhes o encontro sexual que ela disse ter ocorrido no quarto de hotel de Trump após encontrá-lo em um torneio de golfe em Lake Tahoe.
Trump frequentemente comentava sobre o julgamento durante a campanha e para as câmeras de televisão fora da sala do tribunal. Merchan descobriu que Trump violou uma ordem de silêncio destinada a impedi-lo de comentar sobre jurados, testemunhas e promotores.
O juiz, em um momento, ameaçou prender Trump se ele o fizesse novamente. O ex-presidente não o fez.
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