‘Dona’ da Groenlândia, Dinamarca se torna alvo da fixação de Trump pela ilha

Declaração do presidente eleito dos EUA sobre possível compra do território dinamarquês se tornou uma fonte de tensão crescente entre países parceiros na OTAN

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Bloomberg — Já faz algum tempo que a Dinamarca foi objeto da obsessão de Donald Trump por causa da Groenlândia e precisou lembrar repetidamente ao presidente que volta ao poder que a maior ilha do mundo não está à venda.

É uma fixação que beira o ridículo, segundo líderes globais e analistas. Em uma entrevista coletiva na terça-feira (7), Trump ameaçou cobrar tarifas sobre a Dinamarca “em um nível muito alto” e, quando questionado, recusou-se a descartar o uso de força militar para obter o território.

Para o magnata do setor imobiliário que se tornou político, trata-se de um grande negócio imobiliário. Em seu primeiro mandato, a fetichização desse território ártico autogovernado que faz parte da Dinamarca foi desconcertante. Alguns achavam que era uma piada, um pouco como o Canadá, que agora ouve repetidas vezes que poderia se tornar parte dos EUA.

Quando ele deixou o cargo, a esperança era que a atenção não correspondida acabasse. Mas Trump está de volta, e seu interesse se intensificou. Seu filho, Donald Trump Jr., visitou a Groenlândia em uma viagem particular de um dia na terça-feira e rejeitou preventivamente as especulações de que estava em uma missão de reconhecimento.

Em seguida, seu pai usou suas redes sociais para dizer que “este é um acordo que precisa acontecer”.

Fins diplomáticos

Como responder - ou se simplesmente ignorar - as provocações representa um teste para a primeira-ministra dinamarquesa Mette Frederiksen e para os políticos mais experientes da Europa, que têm sido bombardeados por uma série de provocações não apenas de Trump mas também de Elon Musk.

Frederiksen, de 47 anos, é uma das poucas líderes da Europa - como Emmanuel Macron, da França - que têm alguma experiência em lidar com os caprichos diplomáticos de Trump. Ela estava no poder há apenas alguns meses quando o enfrentou pela primeira vez em relação à Groenlândia e, em um acesso de raiva, ele cancelou uma visita de Estado à Dinamarca.

Em geral, os dinamarqueses apoiam a união com a Groenlândia. Uma pesquisa publicada na terça-feira pela TV2 mostrou que 58% querem que a Groenlândia permaneça como parte do Reino da Dinamarca, e apenas 28% dizem que ela deve se tornar independente.

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Enquanto isso, oito em cada dez entrevistados disseram que a união beneficia a Groenlândia, enquanto apenas 53% disseram que é uma vantagem para a Dinamarca.

Aproximadamente metade do orçamento do governo da Groenlândia é financiado por um subsídio direto da Dinamarca, totalizando cerca de US$ 500 milhões por ano.

A Groenlândia tem uma população de apenas 55 mil habitantes, localizados principalmente em pequenas cidades e vilarejos nas costas ocidental e oriental. Seu tamanho é três vezes maior que o do Texas, o que a torna uma das áreas mais escassamente povoadas do mundo.

‘Segurança nacional’

A Groenlândia se tornou uma fonte de tensão crescente entre os EUA e a Dinamarca - aliados na Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN)- depois que Trump, no mês passado, ressurgiu com uma ideia de cinco anos de querer comprar o território. Ele enfatizou que a propriedade e o controle da ilha pelos EUA são uma “necessidade absoluta” para a segurança nacional.

Quando um repórter pressionou Trump a descartar a possibilidade de coerção econômica ou militar para obter o controle da Groenlândia e do Canal do Panamá, Trump disse: “Não vou me comprometer com isso. Pode ser que você tenha que fazer alguma coisa”. E acrescentou: “Precisamos da Groenlândia para fins de segurança nacional”.

Os comentários de Trump “são sérios, mas estamos considerando-os assim”, disse Mute B. Egede, premiê da Groenlândia, à emissora dinamarquesa DR, após chegar a Copenhague.

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Ele havia originalmente adiado uma reunião planejada com o rei Frederik X, da Dinamarca, na quarta-feira, na capital dinamarquesa, mas acabou fazendo a viagem.

Poder e razão

Outros formuladores de políticas da Europa também tiram lições sobre como interpretar Trump. O ministro das Relações Exteriores da França, Jean-Noel Barrot, disse que, embora não acredite que os EUA estejam se tornando imperialistas ou que Trump vá invadir a Groenlândia, os comentários do novo presidente são um lembrete de que a Europa precisa acordar e se fortalecer.

“Se eu acho que os EUA vão invadir a Groenlândia? A resposta é: não. Será que entramos em uma era que está vendo o retorno do poder que faz a razão? A resposta é: sim”, disse ele à rádio France Inter na quarta-feira.

“Devemos nos deixar intimidar ou vencer pela preocupação, obviamente não. Em primeiro lugar, precisamos acordar e nos fortalecer em um mundo dominado pelo poder que faz a razão em termos militares e de competitividade.”

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A Groenlândia abriga uma base dos EUA usada para detectar ameaças de mísseis e monitorar o espaço, e as vastas reservas de minerais essenciais da ilha atraíram o interesse de potências globais, incluindo os EUA, a Rússia e a China.

Diplomacia

A Groenlândia, localizada estrategicamente entre o Ártico e o Atlântico Norte, foi até mesmo tema de uma famosa série dramática dinamarquesa, "Borgen", que explorou como uma primeira-ministra feminina lidou com todos os interesses conflitantes.

Frederiksen, uma social-democrata e a mais jovem primeira-ministra da história da Dinamarca, é conhecida por sua postura rígida em relação à imigração e pela retórica dura contra a Rússia. Ela liderou medidas controversas, incluindo uma ordem para abater 17 milhões de martas durante a pandemia.

Em resposta às últimas missivas de Trump, Frederiksen adotou um tom conciliatório.

“É positivo que haja um crescente interesse americano no que está acontecendo no Atlântico Norte e na região do Ártico, porque algumas das tensões que vemos em outras partes do mundo também estão começando a chegar ao Ártico”, disse ela à emissora dinamarquesa TV2.

“Mas isso terá que acontecer de uma forma que respeite o povo da Groenlândia.”

Na última vez em que esteve nessa posição, ela chamou a sugestão dele de “absurda”. Ele a chamou de “desagradável”. Desta vez, ela adotou uma abordagem diferente, correndo para estar entre os primeiros líderes europeus a falar com ele após sua vitória eleitoral.

‘Golfo da América’?

Além das declarações sobre a Groenlândia e o Canadá, Trump também disse querer renomear o Golfo do México. “Vamos mudar o nome do Golfo do México para Golfo da América, que soa bem. Isso cobre muito território, o Golfo da América — que nome lindo. E é apropriado”, disse durante entrevista em Mar-a-Lago, na Flórida.

A presidente do México respondeu às provocações do presidente eleito dos EUA. Um dia após Trump afirmar que o corpo d’água entre seu país, o México e o Caribe deveria ser chamado de “Golfo da América”, Claudia Sheinbaum apresentou mapas antigos das Américas em sua coletiva de imprensa diária.

O nome Golfo do México é utilizado desde o início do século XVII e é reconhecido pelas Nações Unidas, disse Sheinbaum. Ela também brincou que estados como Califórnia e Texas poderiam voltar ao seu nome original, “América Mexicana”.

“Soa bem, não soa?”, brincou Sheinbaum com os repórteres na quarta-feira, na Cidade do México.

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