Dados econômicos dos EUA surpreendem e amenizam os temores de recessão

Novos indicadores reforçam a tese de soft landing, em que o Fed seria capaz de reduzir a inflação sem que a economia tenha uma freada busca

Por

Bloomberg — Uma série de indicadores mostrou uma força surpreendente em vários setores da economia dos Estados Unidos, oferecendo um vislumbre de resiliência e adiando ainda mais as chances de uma recessão.

De acordo com dados divulgados na terça-feira (27), a taxa anual referente às compras de imóveis novos subiram ao ritmo mais acelerado em mais de doze meses, os pedidos de bens duráveis superaram as previsões e a confiança dos consumidores foi a mais alta desde o início de 2022. Outra publicação revelou que os preços das casas nos EUA subiram pelo terceiro mês consecutivo.

“A visão consensual continua a apontar obstinadamente para uma recessão dentro de alguns meses, mas os indicadores da economia estão atualmente contando uma história muito diferente”, disse Stephen Stanley, economista-chefe do Santander US Capital Markets, em uma nota. “Resiliência continua sendo a palavra de ordem.”

Embora os dados não descartem a hipótese de uma recessão em 2024, eles dão motivos para acreditar que ela não está próxima, muito menos é certa. Relatórios recentes sobre vendas no varejo, gastos do consumidor ajustados pela inflação e o mercado de trabalho também corroboram essa ideia.

Os prêmios dos títulos do Tesouro caíram após a divulgação dos dados macroeconômicos, gerando especulações de que o Federal Reserve (Fed) voltará a aumentar as taxas de juros após a pausa deste mês. O presidente Jerome Powell pode reforçar essa inclinação na quarta-feira, quando ele e outros banqueiros centrais se reunirem em um fórum na Europa.

Impulso à moradia

Um aumento na demanda por imóveis, apesar das altas taxas hipotecárias, sugere que a economia está suportando até agora os custos mais altos dos empréstimos. Embora os proprietários de casas relutem em se mudar e aceitar uma hipoteca maior, os possíveis compradores se adaptaram à mudança e estão cada vez mais procurando novas construções.

As compras de novas residências unifamiliares aumentaram 12,2%, atingindo um ritmo anualizado de 763.000 no mês passado, segundo dados do governo divulgados na terça-feira. O número marcou o terceiro avanço mensal consecutivo e superou praticamente todas as estimativas, exceto uma, em uma pesquisa da Bloomberg com economistas.

Embora os consumidores tenham relatado menos apetite em junho para comprar uma casa e outras compras importantes, como carros e eletrodomésticos, a confiança aumentou no mês, de acordo com o índice do Conference Board. O avanço foi impulsionado por um maior otimismo em relação ao mercado de trabalho e à expansão econômica.

Embora a medida de expectativas do grupo, que reflete a perspectiva de seis meses dos consumidores, tenha subido para o nível mais alto deste ano, ela ainda indica que “os consumidores preveem uma recessão em algum momento nos próximos seis a 12 meses”, disse Dana Peterson, economista-chefe do Conference Board.

O que diz Joe Biden

O presidente Joe Biden disse a doadores de campanha acreditar que os EUA evitarão uma possível recessão que os economistas e bancos vêm prevendo há muito tempo. Os economistas têm dito que uma recessão está chegando no próximo mês, disse Biden na noite de terça-feira durante um evento de arrecadação de fundos nos subúrbios de Maryland, nos arredores de Washington.

“Ela está chegando há 11 meses, mas adivinhe só? Acho que não vai acontecer”, acrescentou ele, citando um mercado de trabalho ainda forte e seus esforços para conter a inflação.

E o que diz a Bloomberg Economics

“Ainda esperamos que ocorra uma recessão no segundo semestre de 2023, mas a leitura da confiança sugere que a recessão poderá começar mais tarde, e não mais cedo. --Jonathan Church, economista

Os fortes dados de confiança e de compra de imóveis são sustentados pelo que continua sendo um sólido mercado de trabalho. O desemprego é historicamente baixo e as vagas de emprego são abundantes, embora ambos os indicadores tenham se atenuado nos últimos meses.

Os números de terça-feira também são sinais positivos para o crescimento econômico. Os pedidos de equipamentos comerciais feitos às fábricas dos EUA aumentaram em maio pelo segundo mês, indicando que as empresas continuam a fazer investimentos de longo prazo, apesar dos altos custos de empréstimos e da incerteza econômica.

As remessas de bens de capital não relacionados à Defesa, um indicador de gastos reais, aumentaram 3,4%, o maior aumento desde o final de 2020. Isso é um bom presságio para o produto interno bruto neste trimestre, disse Jennifer Lee, economista sênior da BMO Capital Markets.

-- Com a colaboração de Augusta Saraiva.

Veja mais em Bloomberg.com

Leia também:

Ganhos na bolsa estão cada vez mais concentrados em poucas ações, mostra estudo

Startups da América Latina miram Espanha como entrada para mercado europeu