Bloomberg — A cúpula do Mercosul, que tinha como objetivo concluir o acordo comercial com a União Europeia, foi encerrada na quinta-feira (7) sem um pacto à vista e com os líderes dos países do bloco focados em evitar uma crescente disputa territorial entre a Venezuela e a Guiana.
A união aduaneira formada por Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai incluiu formalmente a Bolívia no bloco e assinou um pacto comercial de menor porte com Singapura – longe de ser suficiente para consolidar o Mercosul como uma força para a integração econômica da região.
As elevadas ambições do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que busca reunificar o Mercosul em meio aos esforços para conseguir o elusivo acordo com a UE, foram em grande parte eclipsadas pela escalada das tensões com a Venezuela, que tenta anexar Essequibo, um território rico em petróleo controlado pela Guiana.
“Estamos acompanhando a questão de Essequibo com crescente preocupação. O Mercosul não pode ficar alheio a esse tema”, disse Lula, que encerrou a presidência rotativa do Brasil no bloco. “Se há uma coisa que não queremos na América do Sul é guerra. Queremos construir a paz.”
No encerramento da cúpula, os países do Mercosul divulgaram um apelo conjunto à desescalada das tensões, afirmando em comunicado que “exortam ambas as partes a dialogar e a procurar uma solução pacífica para a disputa, a fim de evitar ações e iniciativas unilaterais que possam agravá-la.”
Mas, enquanto outros países sul-americanos de fora do Mercosul, como Chile, Colômbia, Equador e Peru, assinaram a declaração, a Bolívia – cujo presidente Luis Arce é aliado político de Nicolás Maduro – se absteve.
Acordo com União Europeia
Mesmo antes de essas preocupações dominarem a cúpula, as esperanças de que o encontro levasse a um avanço no acordo com a União Europeia, depois de mais de duas décadas de negociações, já começavam a ruir.
Na semana passada, o presidente da França, Emmanuel Macron, voltou a destacar suas preocupações com o meio ambiente, minando o crescente otimismo em ambos os lados de que uma resolução estava finalmente ao alcance.
O presidente da Argentina, Alberto Fernández, antigo aliado de Lula que deixa o cargo neste domingo, também levantou questões sobre o pacto, dizendo que seu governo não seria responsável por fazer concessões a empresas europeias que poderiam prejudicar as indústrias nacionais, segundo três pessoas com conhecimento do assunto que pediram anonimato.
O presidente Lula, que no mês passado disse que pretendia finalizar o acordo antes que o mandato do Brasil na presidência do Mercosul terminasse nesta semana, mostrou frustração com o impasse.
“Todos sabem do esforço que fizemos para completar um acordo com a União Europeia na minha presidência. Eu achava que a gente merecia. Conversei com quase todos os presidentes para mostrar necessidade do acordo. Fiz um apelo para Macron deixar de ser tão protecionista. Mas não deu certo”, disse durante o discurso de abertura da cúpula no Rio de Janeiro.
O futuro do Mercosul, no entanto, permanece incerto – e muito dependente da forma como o novo presidente da Argentina, Javier Milei, abordará o bloco criticado por ele durante sua campanha.
O fracasso das negociações com a UE criou espaço para questionamentos sobre o propósito do bloco, disse uma das pessoas com conhecimento da situação, acrescentando que o Mercosul tem enfrentado obstáculos para avançar, aprofundar a integração regional ou fortalecer os laços com o mundo.
No entanto, o Brasil continua otimista. O ministro de Relações Exteriores, Mauro Vieira, disse a jornalistas que o acordo UE-Mercosul ainda poderá ser fechado em meados de fevereiro.
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