Crise imobiliária persiste na China e dados mostram que economia ainda ‘patina’

Em maio, a produção industrial, considerada um dos principais motores da economia chinesa, desacelerou para 5,6% e veio abaixo do esperado por economistas

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Bloomberg — A queda no setor imobiliário da China se aprofundou em maio e desencadeou novos apelos para que o governo injetasse dinheiro e estímulo à economia, enquanto a produção industrial – que manteve o crescimento em andamento – ficou aquém das previsões.

Em meio a uma série de dados publicados nesta segunda-feira (17), os analistas se concentraram nas más notícias do mercado imobiliário, que tem sido o maior obstáculo para o crescimento econômico da China. As quedas nos investimentos imobiliários e nos preços das casas aumentaram no mês passado.

A produção industrial aumentou 5,6% em relação ao ano anterior, de acordo com o Departamento Nacional de Estatísticas do país, desacelerando em relação a abril e abaixo da previsão mediana em uma pesquisa da Bloomberg.

As vendas no varejo ofereceram algum incentivo, aumentando mais do que o esperado, mas os compradores chineses ainda estão longe de recuperar seu ânimo pré-pandêmico.

Segundo a maioria dos economistas, os números indicam uma recuperação ainda fraca, o que provavelmente exigirá mais ações de Pequim para estimular a demanda do consumidor e lidar com os desequilíbrios, para que a meta de crescimento de 5% deste ano seja atingida.

Isso poderia assumir a forma de um aumento nos gastos do governo e esforços maiores por parte do banco central para colocar um piso nos mercados imobiliários e fazer o crédito fluir.

‘O mais decepcionante’

“O mais decepcionante nos dados de maio é, provavelmente, o fato de que as vendas de imóveis quase não tiveram nenhuma melhora, mesmo depois de tantas medidas de apoio”, disse Jacqueline Rong, economista-chefe para a China do BNP Paribas.

Ela disse que as autoridades chinesas precisam encontrar maneiras de reduzir as taxas das hipotecas existentes, diminuindo a diferença em relação ao custo das novas hipotecas.

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Nesta segunda-feira, o Banco Popular da China manteve inalterada a taxa de juros básica pelo décimo mês consecutivo. Os economistas dizem que a margem de manobra do banco para cortar as taxas é limitada pela necessidade de sustentar o yuan, que enfrenta uma pressão de queda, já que o Federal Reserve, dos EUA, reforça sua mensagem de juros mais altos por mais tempo.

Segundo Chang Shu e David Qu, economistas da Bloomberg Economics, o apoio da política poderia fazer uma diferença significativa.

“Mas o foco do Banco Popular da China na estabilidade da moeda parece ter amarrado suas mãos ao corte das taxas de juros - pelo menos até que o Federal Reserve se movimente. Isso significa que o principal apoio terá de vir das políticas recentes para ajudar o mercado imobiliário e os gastos do governo com grandes investimentos”, avaliam.

O investimento geral em ativos fixos aumentou 4% de janeiro a maio, abaixo dos 4,2% registrados nos primeiros quatro meses – embora tenha havido um aumento na emissão de títulos do governo para financiar gastos com infraestrutura.

O crescimento da China continua “desigual, com as exportações e o capex relacionado à energia nova sendo os principais drivers, enquanto o consumo e a propriedade são os retardatários”, de acordo com economistas, incluindo Larry Hu, da Macquarie Capital.

Ainda assim, a desaceleração não é grave o suficiente para ameaçar a meta de crescimento e, embora os formuladores de políticas monetárias possam tomar algumas medidas limitadas, “a urgência de um grande estímulo é baixa”, escreveram eles.

Aumento do consumo

A aceleração das vendas no varejo foi a primeira desde novembro. Com 3,7%, o ritmo continua sendo menos da metade dos cerca de 8% que eram típicos antes da pandemia, embora a vida social e econômica tenham, em grande parte, voltado ao normal.

E mesmo esses ganhos podem não durar, de acordo com Michelle Lam, economista da Societe Generale para a China. “Ainda não se sabe se o melhor momento das vendas no varejo é sustentável”, disse ela.

Como as famílias têm se mostrado relutantes em gastar, a China tem se voltado para o crescimento impulsionado pelas exportações. Um boom nas fábricas ajudou a compensar a queda no setor imobiliário e manteve o crescimento econômico no caminho certo.

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Essa estratégia, contudo, enfrenta incertezas crescentes, já que os principais parceiros erguem novas barreiras comerciais que ameaçam o motor das exportações. Na semana passada, a União Europeia seguiu o exemplo dos EUA, impondo pesadas tarifas sobre os carros elétricos chineses.

Alguns analistas não estão muito preocupados com os efeitos. As remessas de veículos elétricos da China para a UE representam apenas 0,4% do total das exportações do país, e o preço de venda muito mais alto na Europa em comparação com o preço interno significa que as montadoras poderão absorver os encargos, de acordo com Rong, do BNP.

Ela espera que as tarifas reduzam o crescimento das exportações da China em apenas 0,1 ponto percentual este ano.

Buscando estimular a demanda interna, a China lançou um programa em abril que oferece incentivos para que empresas e famílias atualizem máquinas antigas. Parte do plano envolve subsídios do governo para os compradores de carros novos.

Os dados desta segunda-feira sugerem que o impacto foi limitado. As vendas no varejo de automóveis caíram 4,4% em relação ao ano anterior em maio, o que representa apenas uma ligeira melhora em relação ao mês anterior.

Resgate de moradias

No final do mês passado, a China também divulgou um amplo pacote de resgate para sustentar as vendas de moradias, uma vez que uma crise de crédito pairava sob algumas das maiores incorporadoras imobiliárias do país.

O país flexibilizou as regras de hipoteca e incentivou os governos locais a comprar casas não vendidas. Muitos investidores e analistas advertiram que os incentivos financeiros não são suficientes e que os programas experimentais em várias cidades mostraram que a melhora pode ser lenta.

A demanda interna fraca e a deterioração do ambiente de comércio exterior estão pesando sobre a confiança das empresas, desencorajando-as a investir e levando algumas a transferir a produção para o exterior.

O crescimento do crédito tem sido fraco e o indicador de oferta monetária M1 contraiu-se em maio pela taxa mais rápida em dados que remontam a 1996.

Em uma pesquisa com mais de 400 executivos de alto escalão realizada pelo UBS Group durante aproximadamente um mês, até meados de maio, as empresas relataram perspectivas mais fracas para pedidos, receitas e margens em comparação com o mesmo período de 2023.

Houve uma queda na parcela de entrevistados que planejam aumentar os gastos de capital no segundo semestre deste ano.

“Ainda precisamos ver novos estímulos chegando”, disse Helen Qiao, economista-chefe da Grande China do Bank of America Global Research, em uma entrevista à Bloomberg TV. “Caso contrário, o ímpeto de crescimento poderá se enfraquecer muito.”

-- Com a colaboração de Yujing Liu e Lucille Liu.

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