Crescimento da demanda por petróleo está perto do fim, prevê agência internacional

Segundo a Agência Internacional de Energia, a demanda por petróleo deve atingir pico e parar de crescer nos próximos anos

Já as projeções de curto prazo da agência apontam para um mercado apertado nos próximos meses. (Foto: David Paul Morris/Bloomberg)
Por Grant Smith
14 de Junho, 2023 | 10:22 AM

Bloomberg — A demanda por petróleo deve atingir seu pico e parar de crescer ainda nesta década, segundo projeções da Agência Internacional de Energia (AIE). A desaceleração do consumo desse tipo de combustível perderá força num cenário em que os preços altos e a guerra da Ucrânia dão impulso à transição para o uso de energia de fontes limpas e ao abandono de combustíveis fósseis.

Em 2024 a agência prevê que a demanda deve crescer metade da taxa observada em 2023 e 2022, alcançando um limite de crescimento ainda nesta década. Com o aumento do uso de veículos elétricos e a redução do uso de gasolina, a AIE prevê que “o crescimento da demanda mundial por petróleo deverá desacelerar quase até parar nos próximos anos”.

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Segundo avaliação da agência, a capacidade de produção de petróleo ainda está em ascensão e deverá manter o mercado “adequadamente abastecido” até 2028.

“A mudança para uma economia de energia limpa ganha ritmo, com um pico na demanda global de petróleo chegando antes do final desta década.”

Há anos, os países se comprometem a abandonar os combustíveis fósseis para limitar as emissões de gases de efeito estufa e evitar mudanças climáticas catastróficas. Essa ambição ganhou força quando os preços do petróleo e do gás dispararam depois que a Rússia invadiu a Ucrânia no início de 2022.

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Perspectivas

No entanto, há uma grande divergência entre as perspectivas de curto e longo prazo. Os mercados mundiais de petróleo podem se tornar “significativamente” apertados nos próximos meses, à medida que o consumo de combustível da China se recupera após a pandemia e em um cenário em que os produtores da Opep+, liderados pela Arábia Saudita, reduzem a produção.

O próximo ano também deverá ser apertado para essa commodity, principalmente no segundo semestre, com os estoques de petróleo diminuindo mesmo com o crescimento da demanda global caindo para 860.000 barris por dia, em comparação com 2,4 milhões de barris por dia que estão sendo produzidos neste ano.

Nos anos seguintes, a previsão é que o mundo estará menos dependente de combustíveis fósseis. O crescimento global do consumo diminuirá para apenas 400.000 barris por dia em 2028, e a demanda global chegará a 105,7 milhões de barris por dia até essa data, segundo o relatório da AIE.

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O uso da gasolina, que é o segundo principal derivado do petróleo, entrará em declínio ainda neste ano de 2023, e o do petróleo como combustível de transporte começará a cair três anos mais tarde, com o crescimento remanescente da commodity confinado em grande parte à produção de petroquímicos e ao combustível de aviação, segundo as previsões da AIE.

A necessidade de combustíveis fósseis atingirá um pico absoluto de 81,6 milhões de barris por dia em 2028.

A agência já havia evocado a perspectiva de “pico de demanda” chegando nesta década em relatórios dos últimos anos, embora a perspectiva tenha sido obscurecida recentemente pela ovid-19 e pela invasão da Rússia na Ucrânia.

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Uma projeção de longo prazo publicada pela AIE em novembro previa que a demanda de petróleo atingiria um platô na década de 2030.

Embora a demanda esteja desacelerando, o investimento em novos suprimentos está se recuperando. Os chamados gastos com upstream (exploração e produção) aumentarão 11% em 2023, atingindo o valor mais alto em oito anos, de US$ 528 bilhões, garantindo que a produção acompanhe confortavelmente o ritmo da demanda pelo resto da década.

A produção deverá crescer em 5,9 milhões de barris por dia, ou cerca de 6%, até 2028. Isso está amplamente alinhado com a expansão da demanda no mesmo período, graças ao aumento da capacidade nos EUA, no Brasil e na Guiana. A capacidade na aliança Opep+ aumentará em apenas 800.000 barris por dia, liderada pelos pesos pesados do Oriente Médio, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos.

A estabilização prevista no consumo de petróleo ainda não será suficiente para que os governos de todo o mundo cumpram as ambições de limitar as emissões de carbono. A AIE afirmou em um relatório, há dois anos, que o setor de energia precisaria interromper os investimentos em todos os novos projetos de petróleo e gás para atingir emissões “líquidas zero” até 2050.

As previsões da agência têm um histórico questionável, como suas repetidas previsões durante a última década de uma iminente “crise de fornecimento” que nunca se concretizou. Sua previsão de que a produção russa entraria em colapso imediato após a invasão da Ucrânia no ano passado também se mostrou excessivamente pessimista.

A Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) se opôs ao roteiro da AIE para reduzir o consumo de petróleo, insistindo que é necessário um maior investimento em suprimentos para evitar picos de preços e garantir a acessibilidade da energia para as economias em desenvolvimento.

No entanto, a análise da AIE indica que a transição energética ganhou impulso à medida que o ataque da Rússia - membro da Opep+ - à vizinha Ucrânia desperta o alarme entre os consumidores sobre sua dependência das importações de petróleo.

“A invasão da Ucrânia pela Rússia provocou um aumento nos preços do petróleo e trouxe à tona as preocupações com a segurança do abastecimento, ajudando a acelerar a implantação de tecnologias de energia limpa”, disse o relatório.

Mais de US$ 2 trilhões de investimentos em energia limpa foram programados até 2030, de acordo com o relatório.

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