Conhaque francês entra na mira da China depois de Europa taxar carros elétricos

Governo de Pequim tem recebido pedidos de produtores locais, que acusam europeus de vender bebidas com preços artificialmente baixos

Por

Bloomberg — A China decidiu lançar uma investigação antidumping sobre bebidas alcoólicas como conhaque da União Europeia, à medida que as tensões comerciais entre Pequim e Bruxelas se intensificam. Com a notícia, as ações de fabricantes de bebidas alcoólicas europeias caíram nesta sexta-feira (5).

A investigação se concentrará em produtos de conhaque que vêm em recipientes menores que 200 litros da UE, disse o Ministério do Comércio da China na sexta, sem especificar empresas. Segundo o comunicado, ela está sendo lançada por causa de um pedido de uma associação doméstica de bebidas alcoólicas.

O movimento ocorre meses depois que a UE iniciou uma investigação sobre subsídios chineses para veículos elétricos, na tentativa de evitar uma onda de importações baratas. O bloco também abriu uma investigação antidumping sobre biodiesel da China em dezembro.

“A China está mostrando à Europa como poderia ser a retaliação se ela impuser tarifas sobre veículos elétricos chineses”, disse Noah Barkin, consultor sênior do Rhodium Group.

"Essa medida atingiria principalmente países produtores de vinho, como a França - e isso provavelmente não é uma coincidência. O governo de Macron foi o maior defensor da investigação da UE sobre subsídios a importações de veículos elétricos chineses."

Empresas francesas como Remy Cointreau, Pernod Ricard e o conglomerado de luxo LVMH vendem conhaque francês, chamado cognac, na China, sob marcas como Remy Martin, Martell e Hennessy. A China representa um mercado importante para todas as marcas, que vêm enfrentando uma forte queda na demanda dos EUA após um aumento durante a pandemia.

As ações da Remy Cointreau chegaram a cair 9,2% em Paris, enquanto as da Pernod Ricard recuaram 5,8%.

O governo de Pequim tem histórico de usar o comércio para ajudar a alcançar seus objetivos políticos. O país já analisou as importações estrangeiras de bebidas alcoólicas quando as tensões geopolíticas se acirraram com a Austrália, resultando na imposição de tarifas antidumping sobre vinhos australianos, o que destruiu um dos principais mercados externos da Austrália. À medida que as relações melhoraram, a China começou a revisar as restrições.

A China importou US$ 1,57 bilhão em conhaque em 2023 até novembro, dos quais 99% são provenientes da França, segundo dados alfandegários chineses compilados pela Bloomberg.

-- Com a colaboração de Jinshan Hong e Julien Ponthus.

Veja mais em Bloomberg.com

Leia também

LVMH nomeia filho de Bernard Arnault como CEO da divisão de relógios

Preço do cacau tem o maior avanço em 15 anos e coloca pressão sobre os custos