Bloomberg — Os painéis solares da casa de Andrew Rabbitt alimentam com 5.000 watts de energia um enorme banco de baterias que os motoristas de veículos elétricos de todo o Oeste americano utilizam para carregar seus carros. Ele está longe de ser o único.
A propriedade de quatro hectares de Rabbitt em Winnemucca, no estado de Nevada, fica em uma estrada de terra a cerca de 16 quilômetros ao sul da Interstate 80, perto de uma igreja batista e logo abaixo de um rancho que cria e vende cães de guarda de gado.
Depois de abastecer sua casa e seu veículo - um trailer Airstream e um Ford Focus EV 2017 -, ainda há muito sol para aproveitar. Rabbitt fica feliz com a possibilidade de qualquer motorista de veículo elétrico que esteja passando utilizar o excedente. Para quem atravessa o estado, é um oásis de elétrons.
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Winnemucca, uma cidade de 8.500 habitantes, não estava nem no mapa dos veículos elétricos até 2019, quando quatro carregadores rápidos foram ligados no Walmart local. Porém, quando essas unidades estão ocupadas - ou não estão funcionando -, os pilotos de veículos elétricos costumam ir até a casa de Rabbitt.
“Nos primeiros meses, quatro ou cinco pessoas o usaram”, disse Rabbitt, que instalou seu sistema em fevereiro de 2021 e o abriu ao público cerca de um ano depois. “Sou amigável e gosto de conversar com as pessoas, mas muitas pessoas simplesmente sentam no carro e cochilam, e isso também é bom.”
Os “desertos” de carregamento de veículos elétricos dos Estados Unidos praticamente desapareceram, enquanto o número de residências particulares que oferecem serviços do tipo “faça você mesmo” nos EUA aumentou nos últimos anos.
A rede mais do que dobrou desde 2020 para cerca de 31.000 residências, de acordo com a PlugShare, uma plataforma digital que mapeia a infraestrutura de recarga pública.
Alimentando o boom está uma multidão em rápido crescimento de proprietários de veículos elétricos. Muitos decidiram colocar seus próprios carregadores no mapa, simplesmente porque adoram a cultura de elétricos e querem ajudar outros motoristas, dizem eles - embora alguns agora se qualifiquem para um subsídio federal de US$ 1.000.
A falta de carregadores domésticos - especialmente nas cidades - contribui para a demanda.
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“Isso mostra como os motoristas de veículos elétricos estão entusiasmados com a tecnologia”, disse Alexia Melendez Martineau, gerente sênior de políticas da Plug In America, um grupo sem fins lucrativos de defesa de veículos elétricos. “Não é como se você fosse chegar perto do seu vizinho e pedir um litro de gasolina.”
Um veículo que esteja indo de Myrtle Beach para Charleston, na Carolina do Sul, pode parar para tomar um pouco de suco na casa de Robert Phillips, um eletricista na zona rural de McClellanville, uma cidade com um Dollar General, uma pequena frota de barcos de camarão e nada mais.
Para os motoristas que se dirigem a Tucson, Arizona, vindos de Fort Worth, Texas, há a casa de John Gilkison, a noroeste de Las Cruces, Novo México.
Nesse trecho da Interstate 10, há uma lacuna de 133 milhas entre os carregadores públicos e a propriedade de Gilkison. “Somos um remanso aqui”, diz ele, “mas você precisa passar por lugares como esse para chegar a algum lugar”.
Um pouco mais adiante na I-10, os motoristas podem se conectar na casa de Aaron Lieberman em Phoenix, Arizona. O empresário de tecnologia e ex-representante estadual comprou seu primeiro veículo elétrico em 2022 e colocou seu carregador doméstico no mapa do PlugShare. “Era como ter um posto de gasolina na entrada da garagem”, disse.
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As festas de fim de ano são uma época especialmente movimentada, quando as estações públicas tendem a ficar lotadas, de acordo com Dan Wheeler, vice-presidente de estratégia e conteúdo da PlugShare. “As pessoas realmente se esforçam... para fazer essas coisas”, disse Wheeler, “porque elas realmente querem ajudar os veículos elétricos a funcionarem para todos”.
A tendência crescente é contraintuitiva, uma vez que o pico coincide com um aumento na cobrança pública. Os anfitriões estão descobrindo que o verdadeiro mercado inexplorado está mais próximo das cidades.
As residências multifamiliares - onde vive quase um terço dos americanos - são um dos poucos obstáculos remanescentes para a adoção de veículos elétricos nos EUA.
Cerca de 14% dos motoristas de veículos elétricos não têm recarga em casa e quase dois terços dos motoristas ainda recarregam em público toda semana, de acordo com uma pesquisa de fevereiro da ChargeLab. Alguns, como Lieberman, veem a escassez de carregadores de veículos elétricos em casa como um mercado inexplorado.
Ele lançou a Buzze em 2022, que permitia que os motoristas reservassem tempo de carregamento nas casas das pessoas.
Ele ficou surpreso ao descobrir que seus anfitriões mais ocupados não estavam em cidades rurais, mas perto de centros urbanos, especificamente perto de prédios de apartamentos e condomínios. Em quase todos os casos, o motorista morava em um prédio multifamiliar que não tinha recarga, disse Lieberman.
O carregamento em casa ainda não está nem perto da escala necessária para atender à demanda explosiva por veículos elétricos. Se todos os carros e caminhões nos EUA mudassem para elétricos, um em cada quatro não teria um lugar para se conectar em casa, de acordo com o National Renewable Energy Laboratory.
Globalmente, apenas uma em cada cinco pessoas com um carro a gasolina tem uma tomada elétrica adequada para carregar, de acordo com a McKinsey & Co.
“Sem dúvida, é algo em que pensamos bastante”, disse Martineau, da Plug In America, “para garantir que os veículos elétricos não só estejam disponíveis no mercado, mas também para mais motoristas”.
Desde então, a Buzze mudou seu modelo de negócios do compartilhamento de tomadas para ajudar os proprietários a instalar carregadores modestos e relativamente lentos para seus residentes.
Muitos se recusaram a aceitar essa comodidade, em parte porque é difícil rastrear o uso e cobrar de acordo. Mas a Buzze promete um aplicativo que cuidará de todos os detalhes trabalhosos.
"Estamos tentando trazer todo esse grupo de pessoas para a revolução dos veículos elétricos", diz Lieberman. "Quando eles virem os carregadores, os veículos elétricos começarão a aparecer."
De volta a Winnemucca, Rabbitt tem visto menos estranhos desorientados em seus geradores solares depois que outros quatro carregadores rápidos entraram em operação no Pilot J da cidade, mas seu banco de baterias ainda está aberto.
Gilkison, na fronteira com o México, diz que a cidade está se enchendo de veículos elétricos. “A infraestrutura está muito melhor agora”, diz ele. “Talvez os veículos elétricos sejam tão bem-sucedidos que não precisemos mais fazer isso.”
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