Bloomberg — O setor de energia em expansão da Argentina tem diminuído as preocupações de que o peso valorizado prejudique os esforços para reforçar as reservas cambiais antes do pagamento da dívida.
O aumento da produção de petróleo e gás, devido a mais perfurações nos campos de xisto de Vaca Muerta, tem proporcionado ao banco central uma fonte confiável de entrada de dólares, independentemente da valorização do peso nos últimos meses, disseram Pablo Goldberg, da BlackRock, e Ricardo Adrogue, do Barings, em entrevistas separadas à Bloomberg News.
Levando em conta a forte perspectiva das exportações de energia, o "programa de câmbio administrado da Argentina não deve ser uma grande preocupação", disse Adrogue, que dirige a equipe de dívida soberana global e moedas do Barings.
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Os investidores estão ansiosos para ver como o presidente Javier Milei vai levar adiante sua política cambial, já que isso pode atrapalhar os esforços para aumentar as reservas do banco central.
Esse dinheiro é a munição de que as autoridades precisam para pagar os detentores de dívidas e, eventualmente, suspender os controles de capital, fazendo com que cada dólar conte nessa equação. Há mais de US$ 4 bilhões em pagamentos de títulos com vencimento em julho.
Goldberg, gestor de portfólio da BlackRock para dívidas de mercados emergentes, espera que a Argentina aumente seu excedente de energia, que já é um recorde de 20 anos, em 2025, o que aumenta o otimismo entre os investidores.
“Vamos continuar a ver um crescimento muito forte do balanço energético”, disse ele. “Esse é um fator estrutural que está mudando e remodelando a balança comercial da Argentina.”
Riscos à frente
Ainda assim, o superávit comercial recorde em 2024 não impediu que outros investidores e estrategistas em Wall Street alertassem que a combinação de um peso mais forte e o fim de uma recessão fará com que as importações superem as exportações.
O que alimenta essa preocupação é a forma como as autoridades de Buenos Aires mantêm estável o valor da moeda em relação ao dólar.
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Recentemente, as autoridades disseram que reduziriam o ritmo atual de desvalorização do peso para 1% no próximo mês, ante 2%. E, com a inflação mensal de 2,7%, é provável que a moeda se valorize ainda mais.
Gestores de ativos alertam que a combinação de políticas incentivaria mais importações do que exportações, o que reduz os fluxos de entrada de dólares.
Na situação atual, banqueiros centrais veem um déficit de reservas estrangeiras entre US$ 4,3 bilhões e US$ 6,6 bilhões, de acordo com a corretora Grupo Cohen.
“Sempre achamos que era uma política inadequada e ainda nos parece inadequada”, disse Patrick Campbell, gestor de portfólio da Morgan Stanley Investment Management, em referência à regra de desvalorização mensal da moeda, também chamada de “crawling peg” ou regime de bandas cambiais.
Milei, em uma entrevista à Bloomberg News em Davos, na Suíça, disse que está atento à desaceleração da inflação, à redução da oferta de pesos e à chegada de financiamento adicional do Fundo Monetário Internacional (FMI) antes de acabar com o “crawling peg” e suspender uma série de outros controles de capital.
"A questão é a velocidade", disse Milei. "Obviamente, quanto mais financiamento obtivermos, mais rápido sairemos do país."
Perspectiva para títulos
A possibilidade de maior fortalecimento do peso provavelmente limitará a alta dos títulos em dólares argentinos. As notas registraram retornos de três dígitos desde que Milei assumiu o cargo há mais de um ano, de acordo com dados compilados pela Bloomberg.
"É difícil ver os títulos argentinos melhorando muito daqui para frente", disse Jeff Grills, chefe de dívida de mercados emergentes da Aegon Asset Management.
Outros, porém, incluindo Goldberg, da BlackRock, veem mais vantagens.
“Ainda parece haver uma série de boas notícias ou bons catalisadores que poderiam continuar a beneficiar os ativos”, disse ele. Um novo acordo com o FMI, uma maioria para Milei no Congresso e o fim dos controles de capital ajudariam nisso, acrescentou Goldberg.
Por enquanto, investidores precisam confiar na palavra de Milei de que ele desmantelará as restrições monetárias e de capital.
“Esses controles não apenas restringem a liberdade mas vão contra os direitos de propriedade”, disse Milei. “Como libertário, respeito sua vida, sua propriedade e, é claro, vou acabar com eles.”
-- Com a colaboração de Jonathan Gilbert e Manuela Tobias.
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