Bloomberg — O Banco Popular da China (PBOC) sinalizou que está preparando mais políticas de apoio à economia, ao mesmo tempo em que pede paciência para que a recuperação se concretize.
Autoridades do banco central disseram que há espaço suficiente para afrouxar a política monetária, se necessário, e sugeriram possíveis ajustes na taxa de compulsório para os bancos e uma maior flexibilização dos controles no mercado imobiliário.
“Ainda temos amplo espaço de políticas para lidar com desafios e mudanças inesperadas”, disse o vice-presidente do Banco Popular da China, Liu Guoqiang, em conversa com repórteres em Pequim nesta sexta-feira (14). “Precisamos ser pacientes e confiar no crescimento constante da economia.”
A China vai implementar uma política monetária direcionada para fortalecer os ajustes anticíclicos, destacou Liu, ecoando a recente postura monetária do PBOC.
O banco central chinês planeja ajustar o ritmo e a força da oferta monetária em tempo hábil, reduzir os custos de financiamento e aumentar o apoio às pequenas empresas e aos setores verdes e inovadores, disse.
Mais especificamente, Zou Lan, chefe do departamento de política monetária, sugeriu o uso de ferramentas como a taxa de compulsório (RRR) e o mecanismo de empréstimo de médio prazo para garantir ampla liquidez na economia.
O banco central adotará medidas com base nas “necessidades da economia e na situação dos preços”, afirmou.
O PBOC enfrenta vários desafios, como a perspectiva iminente de deflação, crescimento econômico moderado e um mercado imobiliário frágil.
Embora tenha crescido a expectativa de que o banco central seguirá com mais afrouxamento após o corte surpreendente da taxa de juros no mês passado, economistas dizem que a fraca confiança de empresários e dos consumidores tem reduzido a eficácia das medidas monetárias.
Nesta sexta-feira (14), autoridades deixaram de sinalizar cortes dos juros, sugerindo que um grande ajuste provavelmente não está sobre a mesa.
Liu disse que os custos de financiamento da economia diminuíram no primeiro semestre do ano, após melhorias na transmissão da política monetária.
Zou explicou que o banco central continuará permitindo que o mecanismo de ajuste da taxa de depósito “baseado no mercado” desempenhe seu papel fundamental daqui para frente.
“Muito dovish”
Ainda assim, analistas disseram que os comentários sinalizam que mais ações do banco central são possíveis.
“O tom geral da coletiva de imprensa foi ‘muito dovish’”, disse Xing Zhaopeng, estrategista sênior para China no Australia & New Zealand Banking (ANZ), sobre a possibilidade de afrouxamento monetário.
Segundo ele, o discurso esclarece que o apoio à política monetária será elevado. As autoridades “expressaram claramente” um corte na RRR e direcionaram o apoio ao setor imobiliário, empresas privadas e tecnologia, destacou.
Uma redução na RRR poderia ocorrer em agosto ou setembro, disse Xing, enquanto é improvável que haja outro corte das taxas de juros até o primeiro trimestre do próximo ano.
Mercado imobiliário
Sobre o mercado imobiliário em crise, Zou disse a repórteres que as políticas implementadas quando o setor estava superaquecido podem ser “otimizadas marginalmente”. As medidas para o setor habitacional também serão “adaptadas” às cidades, explicou.
Economistas do Goldman Sachs (GS) disseram que os comentários indicam “mais afrouxamento da política imobiliária do lado da demanda”.
Isso pode incluir o relaxamento das restrições de compra de imóveis nas principais cidades, menores exigências no pagamento de entradas e cortes das taxas de hipoteca, bem como ajuda financeira a incorporadoras para garantir a entrega de projetos habitacionais paralisados, disseram os economistas em nota nesta sexta-feira.
O Goldman também prevê um corte de 0,25 ponto percentual na RRR no terceiro trimestre e uma redução de 0,1 ponto percentual nas taxas de juros no quarto trimestre.
Autoridades também disseram que pretendem lançar ferramentas de políticas, se necessário, para estimular a economia. Xing, do ANZ, disse que essas medidas provavelmente serão direcionadas a empresas privadas.
Liu destacou que a experiência internacional sugere que a economia levará um ano para se recuperar da pandemia, apontando que faz apenas seis meses desde que a China encerrou seus controles de combate à covid.
Os fundamentos do crescimento de longo prazo da economia não mudaram, disse.
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