Bloomberg — A China quer um acordo com o presidente eleito dos EUA, Donald Trump, mas não espera que o caminho para isso seja fácil, disse um conselheiro do Ministério das Relações Exteriores em Pequim.
“Para o lado chinês, um acordo é desejável”, disse Wu Xinbo, diretor do Centro de Estudos Americanos da Universidade de Fudan, em Xangai, que liderou um grupo de especialistas do Ministério das Relações Exteriores da China para se reunir com políticos e executivos de negócios nos EUA no início deste ano. “Não queremos ter uma guerra comercial.”
“Todos nós entendemos o estilo de Trump - ele tentará utilizar seu poder de influência para continuar a pressionar a China”, disse Wu à Bloomberg News à margem da cúpula da Caixin em Pequim. “Isso leva tempo e exige uma luta entre os dois lados.”
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Durante sua campanha, Trump ameaçou impor tarifas de até 60% sobre os produtos chineses, um nível que, segundo a Bloomberg Economics, poderá dizimar o comércio entre as duas maiores economias do mundo.
Wu disse que as tarifas são a questão número um para a China, incluindo aquelas que ainda estão em vigor desde o primeiro governo Trump entre 2016 e 2020.
Ele disse que uma reunião “cara a cara” entre os dois líderes deve ser marcada o mais rápido possível, de preferência antes da posse de Trump em 20 de janeiro de 2025.
“Precisamos ter uma ideia do que ele tem em mente”, disse Wu, ao acrescentar que os dois lados precisam começar a abordar as preocupações um do outro.
Wu não entrou em detalhes sobre onde essa reunião poderia ocorrer, mas disse que se houvesse disposição de ambos os lados para se reunir, essas questões seriam apenas "táticas".
Como as autoridades chinesas raramente saem do roteiro oficial, os comentários de Wu - uma voz influente nas relações entre as maiores economias do mundo - oferecem um vislumbre de como Pequim enxerga o retorno de Trump.
A porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Mao Ning, disse a repórteres na quarta-feira (6) que a política da China em relação aos EUA é consistente e continuará a ser tratada “com os princípios de respeito mútuo” e cooperação.
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Um ponto positivo em potencial para a China é a crescente afiliação de Trump com Elon Musk, CEO da Tesla, que tem uma grande participação no mercado americano. O bilionário tem grandes interesses comerciais na China e doou US$ 130 milhões para a campanha de Trump.
Mas Wu disse que Musk e outras figuras proeminentes do mundo dos negócios têm suas limitações quando se trata do presidente eleito.
"Trump é Trump", disse Wu. "Ele precisa equilibrar diferentes vozes em sua equipe."
A vitória de Trump representa mais um desafio do que uma oportunidade, disse Wu. Isso não se deve apenas ao seu estilo, mas também ao fato de que alguns dos nomes mencionados para seu governo não podem ser considerados "falcões racionais", o que tornará as negociações mais difíceis desta vez.
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Se uma guerra comercial for deflagrada, Pequim não terá outra escolha a não ser responder e retaliar, disse Wu.
"Espero que, desta vez, nossa abordagem seja mais eficaz", acrescentou.
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