Bloomberg — A China ameaçou revidar as ameaças comerciais de Donald Trump depois que o presidente dos Estados Unidos anunciou tarifas adicionais sobre as importações chinesas. Isso aumenta o risco de uma escalada nas tensões entre as duas maiores economias do mundo.
“Se os Estados Unidos insistirem em seguir seu próprio caminho, a China irá responder com todas as medidas necessárias para defender seus direitos e interesses legítimos “, disse um porta-voz do Ministério do Comércio chinês nesta sexta-feira (28).
Em resposta à última rodada de tarifas, o departamento prometeu anteriormente tomar medidas “correspondentes”.
A reação de Pequim veio horas depois de Trump anunciar que uma tarifa adicional de 10% entraria em vigor em 4 de março, citando fluxos de drogas de vizinhos norte-americanos em “níveis muito altos e inaceitáveis” e o suposto papel da China em seu fornecimento.
As novas ameaças de tarifas ocorrem depois da adoção de taxa de 10% no início deste mês e representam parte das amplas medidas de Trump que abrangem os setores de tecnologia e investimento.
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“Trump pode estar testando sua sorte”, disse Chang Shu, economista-chefe da Ásia para a Bloomberg Economics. Ela escreveu em uma nota que o risco é que a moderação da China até agora “possa mudar para uma postura retaliatória mais dura — e uma guerra comercial muito mais prejudicial”.
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As novas medidas de Trump vieram sem aviso público prévio e pegaram de surpresa autoridades em ambos os países. Nenhum dos lados no nível de trabalho sabia que as tarifas adicionais de 10% seriam impostas, de acordo com uma pessoa familiarizada com o assunto ouvidas pela Bloomberg News.
As tarifas devem entrar em vigor na terça-feira, um dia antes de o presidente da China, Xi Jinping, presidir a maior reunião política do partido deste ano, o Congresso Nacional do Povo, onde seus assessores revelarão seu plano econômico para 2025.
Embora seja improvável que as tarifas influenciem a meta de crescimento ou a política fiscal para o ano, que foram definidas há meses, elas podem impactar o sentimento do mercado.
Em uma reunião organizada por Xi na sexta-feira, o órgão de elite da China, o Politburo reiterou uma promessa de expandir a demanda interna, bem como estabilizar os mercados imobiliário e de ações — todos os tópicos provavelmente na agenda da reunião da próxima semana.
Mantendo a calma
À medida que as tensões aumentam, Xi pediu a seus principais funcionários que mantenham a compostura. O líder chinês não fala com Trump desde sua posse, embora o presidente dos Estados Unidos tenha dito que esperava uma ligação com ele este mês.
Tanto Pequim quanto Washington parecem interessados em evitar um rompimento em seu relacionamento.
O vice-primeiro-ministro chinês, He Lifeng, conversou com o secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, na semana passada — o segundo contato de alto nível desde que Trump assumiu a presidência — enquanto o Ministério da Defesa da China disse, na quinta-feira, que as negociações com as forças militares dos EUA estão em andamento.
Pequim disse em sua resposta às tarifas que esperava resolver as diferenças por meio do diálogo, ilustrando seu desejo de chegar a um acordo.
A China normalmente revida as tarifas somente depois que elas entram em vigor. Pequim respondeu à última rodada de tarifas apenas segundos após elas terem entrado em vigor, com medidas incluindo tarifas adicionais, uma investigação antitruste no Google, controles de exportação mais rígidos sobre minerais críticos e a inclusão de duas empresas dos EUA a uma lista negra de entidades não confiáveis.
Na falta de um acordo de última hora, a China poderia retaliar na próxima semana usando essas mesmas ferramentas, e potencialmente reimpondo algumas tarifas da última guerra comercial.
A economista da Bloomberg, Maeva Cousin, disse que o choque das tarifas existentes e esperadas sobre a economia chinesa “deve ser administrável”, citando a pequena parcela de seu valor agregado — pouco mais de 2% — atrelada às exportações dos EUA.
“No médio prazo, também é provável que a China encontre novos mercados para suas exportações — embora isso possa encontrar resistência de parceiros no resto do mundo, já preocupados com o excesso de capacidade chinesa em alguns setores”, Cousin escreveu em uma nota na sexta-feira.
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