China inicia investigação contra os EUA sobre supostos subsídios e dumping de chips

Retaliação de Pequim acontece após o governo Biden ter lançado, ainda nesta semana, regulamentações destinadas a restringir o fornecimento de aceleradores de IA para a China

Huawei Teardown Shows Chip Breakthrough in Blow to US Sanctions
Por Bloomberg News
16 de Janeiro, 2025 | 10:16 AM

Bloomberg — A China investigará as alegações de que os Estados Unidos descartam chips de baixo custo e subsidiam injustamente seus próprios fabricantes de chips, em uma resposta contra as sanções tecnológicas americanas.

O governo analisará se os Estados Unidos estão dando a seus fabricantes de chips uma vantagem injusta por meio de incentivos e subsídios, ou se estão cotando ilegalmente os produtos chineses, informou o Ministério do Comércio em um comunicado divulgado nesta quinta-feira (16). A investigação foi iniciada em resposta aos protestos dos participantes da indústria local, disse a agência.

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Os fabricantes de chips chineses reclamaram sobre a Lei de Chips dos EUA, que fornece financiamento de cerca de US$ 39 bilhões para atrair empresas como a Taiwan Semiconductor e a Samsung Electronics para construir uma capacidade de fabricação de chips de alta qualidade nos Estados Unidos. Na quinta-feira, o órgão do setor de chips da China atacou um dos pilares da política do governo Biden.

"A Lei de Chips e Ciência dos EUA viola os princípios fundamentais de uma economia de mercado e causou um impacto profundo e significativo na cadeia de suprimentos global de semicondutores", disse a Associação da Indústria de Semicondutores da China em um comunicado no WeChat.

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O Ministério do Comércio não citou nenhuma empresa, mas várias companhias americanas, como a Texas Instruments e a Analog Devices, estão entre as líderes em produtos de baixo custo, como chips analógicos e de potência. Esses produtos são onipresentes em dispositivos modernos, de carros a eletrodomésticos, e ajudam a regular os fluxos de energia ou a traduzir sinais digitais.

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A investigação de Pequim ecoa uma reclamação de longa data dos EUA, de que o governo da China financia abertamente suas empresas nacionais em contravenção aos acordos comerciais globais.

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Autoridades americanas e europeias também alertaram sobre o risco de que as empresas chinesas, que tem desenvolvido capacidade em um ritmo acelerado, possam eventualmente inundar os mercados globais com chips baratos.

Não está claro quais seriam as consequências para qualquer empresa que violasse as regulamentações antitruste ou antidumping. O governo poderia impor tarifas mais altas ou específicas para cada empresa, a depender de suas conclusões.

No passado, Pequim também ameaçou as empresas americanas com proibições de produtos ou multas pesadas.

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Há uma década, a Qualcomm modificou algumas de suas principais práticas comerciais e de licenciamento e pagou uma multa de 6 bilhões de yuans (US$ 975 milhões) para pôr fim a um processo antitruste que já durava um ano.

A Micron Technology alertou em 2023 que cerca de metade de suas vendas vinculadas a clientes sediados na China pode ser afetada por uma investigação de segurança cibernética realizada pelo governo chinês.

E Pequim, no final de 2024, iniciou uma investigação para saber se a Nvidia violou as leis antitruste durante uma aquisição realizada há quatro anos.

A União Europeia chegou a considerar uma revisão formal da amplitude com que suas empresas usam chips maduros ou de baixa qualidade da China, juntando-se aos EUA na sinalização de um possível risco à segurança nacional e às cadeias de suprimentos globais.

Em maio, a Semiconductor Manufacturing International- a maior fabricante de chips da China - alertou que os preços devem cair à medida que as fabricantes de chips aumentam a capacidade, o que acendeu o alerta sobre a crescente concorrência de preços em nível global.

A China importou cerca de 550 bilhões de unidades de circuitos integrados em 2024, no valor de US$ 385,6 bilhões, segundo dados da alfândega. A maioria dessas unidades eram chips de gerações mais antigas que alimentam produtos que vão desde máquinas de lavar até veículos elétricos.

O anúncio de Pequim na quinta-feira segue um mês excepcionalmente intenso para as sanções comerciais dos EUA contra seu rival geopolítico.

Ainda nesta semana, o governo Biden lançou regulamentações destinadas a restringir o fornecimento de aceleradores de IA para a China. A Nvidia e outras empresas de tecnologia protestaram contra as regulamentações, e disseram que elas prejudicam a inovação americana e que foram criadas às pressas nos últimos dias do governo americano em transição.

Washington também incluiu vários importantes participantes chineses em uma lista de restrições comerciais com o objetivo de restringir a venda de tecnologia americana.

Entre eles, a startup Zhipu, apoiada pela Tencent Holdings, uma das poucas empresas iniciantes consideradas pioneiras na corrida para desenvolver uma resposta ao ChatGPT da OpenAI.

--Com a ajuda de Jessica Sui e Vlad Savov.

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