Canadá, destino de brasileiros, quer limitar o número de trabalhadores estrangeiros

País, que depende muito da imigração como impulsionador econômico, definirá uma meta para a chegada de residentes temporários pela primeira vez ainda este ano

Porto de Vancouver, no Canadá: atualmente, o país tem mais de 2,5 milhões de residentes temporários, ou 6,2% da população
Por Randy Thanthong-Knight
23 de Março, 2024 | 11:09 AM

Bloomberg — O Canadá, destino de milhares de brasileiros que buscam uma vida no exterior, vai reduzir suas metas para imigração após a entrada de estrangeiros ter aumentado a escassez de moradia.

O país, que depende da imigração como impulsionador econômico, definirá uma meta para a chegada de residentes temporários pela primeira vez ainda este ano.

O objetivo é reduzir o número em cerca de 20% nos próximos três anos, disse o ministro da Imigração, Marc Miller, em uma entrevista a jornalistas na quinta-feira (21) em Ottawa, ao lado do ministro do Emprego, Randy Boissonnault.

Atualmente, o país tem mais de 2,5 milhões de residentes temporários, ou 6,2% da população. O governo pretende reduzir a população de residentes temporários para 5%, ou cerca de 2 milhões, “para alcançar um volume adequado de residentes temporários que o Canadá pode acolher”, disse Miller.

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O Canadá é um dos países que têm bastante procura de brasileiros que desejam morar no exterior. Segundo Ministério de Relações Exteriores do Brasil, o Canadá é o nono país com maior número de brasileiros vivendo no exterior. Ao todo, o país tinha 133.170 brasileiros residentes em 2022, segundo o relatório mais recente do ministério sobre a comunidade brasileira no exterior.

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A nova meta anual do Canadá permitirá controlar o número de imigrantes temporários — incluindo trabalhadores estrangeiros, estudantes internacionais e refugiados — que tem crescido rapidamente nos últimos trimestres. Anteriormente, o governo canadense apenas estabelecia metas anuais para residentes permanentes, visando trazer cerca de meio milhão deles anualmente.

“Isso ajudará a fortalecer o alinhamento entre o planejamento de imigração, a capacidade da comunidade e as necessidades do mercado de trabalho e apoiará um crescimento populacional previsível”, disse Miller.

O governo do primeiro-ministro Justin Trudeau tornou a imigração um pilar fundamental das políticas econômicas para evitar o enfraquecimento da economia devido ao envelhecimento da população e à diminuição das taxas de natalidade.

Como resultado, a população do Canadá vem crescendo a um ritmo recorde, agora entre os mais rápidos do mundo, com uma taxa anual de 3,2%. A população ultrapassou 40 milhões em junho e se aproxima de 41 milhões apenas nove meses depois.

Embora a entrada recente de imigrantes tenha ajudado a economia a evitar uma recessão em meio às taxas de juros elevadas e aumentado a oferta de trabalhadores, os aumentos rápidos adicionaram pressões sobre a infraestrutura e os serviços, pioraram a escassez de moradias e fizeram os aluguéis dispararem.

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A crescente frustração com o custo de vida e as críticas crescentes às políticas de imigração de Trudeau forçaram o governo a tentar desacelerar a chegada de recém-chegados.

No início deste ano, o ministro da Imigração reduziu o número de permissões para estudantes internacionais para 2024 em 35% em relação aos níveis de 2023. Em novembro, ele disse que o governo estabilizará o número de residentes permanentes em meio milhão por ano, a primeira vez em uma década que o governo não aumentou suas metas anuais.

No mês passado, Miller disse em uma entrevista à Bloomberg News que o Canadá “ficou viciado em trabalhadores temporários estrangeiros” e que o governo está tomando medidas para reduzir essa dependência.

O desafio do Canadá é equilibrar as necessidades econômicas com a preservação do sistema de imigração relativamente ordenado do país, que tem visto uma perda de apoio público nos últimos meses.

“Ottawa deve ter cuidado ao impor limites arbitrários à imigração. Os residentes temporários são uma fonte crítica de talento para alguns setores de nossa economia”, disse Diana Palmerin-Velasco, diretora sênior para o futuro do trabalho da Câmara de Comércio do Canadá. “A realidade é que atualmente temos mais de 600.000 vagas de emprego não preenchidas em todo o país, impactando negativamente nossa capacidade de crescimento de nossa economia.”

Para definir a nova meta, Miller convocará uma reunião com representantes de governos provinciais e territoriais, bem como outros ministros relevantes, no início de maio.

Ele também disse que seu ministério revisará os fluxos de trabalhadores temporários para garantir que estejam melhor alinhados com as necessidades do mercado de trabalho e para “eliminar abusos no sistema”.

De acordo com o ministro do Emprego, o Canadá reduzirá o número de trabalhadores temporários estrangeiros que entram no país a partir de 1º de maio.

Empresas de fabricação de alimentos, produtos de madeira e móveis, bem como alojamento e serviços de alimentação, só poderão ter 20% de sua força de trabalho proveniente do fluxo de baixos salários do programa de imigração, abaixo dos atuais 30%.

A redução provavelmente afetará proprietários, operadores e franqueados de restaurantes ou redes de fast-food. O limite de 30% permanecerá em vigor para empregadores nos setores de saúde e construção, pelo menos até 31 de agosto.

Boissonnault também anunciou que o período de validade das avaliações de impacto no mercado de trabalho — basicamente documentos que mostram que nenhum canadense está disponível para o trabalho — será reduzido para seis meses em vez de um ano.

Os empregadores também serão obrigados a mostrar que ofereceram o cargo a solicitantes de refúgio e outros grupos sub-representados antes de solicitar participação no programa.

“O programa de trabalhadores temporários estrangeiros é um último recurso”, disse Boissonnault. “Os empregadores não devem usar o programa de trabalhadores temporários estrangeiros como um meio de evitar oferecer salários competitivos aos canadenses. Eles precisam inovar e investir na força de trabalho para garantir que o Canadá seja produtivo e nosso país continue crescendo.”

-- Com informações da Bloomberg Línea.

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