Biden e Xi se reúnem após um ano e citam busca de consenso para evitar conflitos

Líderes das duas maiores potências do mundo se reúnem na Califórnia para debater temas que vão das mudanças climáticas à ascensão da IA, além de propriedade intelectual

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Bloomberg — O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e o presidente da China, Xi Jinping iniciaram sua primeira reunião em mais de um ano nesta quarta-feira (15), com esperanças de reparar um relacionamento tenso devido à competição econômica e a divergências militares e diplomáticas.

“Sempre achei nossas discussões diretas e francas”, disse Biden para iniciar a tão aguardada cúpula na Califórnia, reconhecendo as difíceis conversas à frente. “Precisamos garantir que a competição não se transforme em conflito. E também precisamos gerenciá-la de forma responsável.”

Xi chamou a relação EUA-China de “a relação bilateral mais importante do mundo”.

“Para dois países grandes como China e Estados Unidos, virar as costas um para o outro não é uma opção”, disse Xi. “É irrealista um lado remodelar o outro, e conflito e confronto têm consequências insuportáveis para ambos os lados.”

A reunião cuidadosamente planejada ocorreu ao sul da cúpula de Cooperação Econômica da Ásia-Pacífico em São Francisco, nos amplos terrenos da propriedade Filoli, na encosta leste das montanhas de Santa Cruz.

O encontro, em 2,4 hectares de jardins exuberantes de outono, esconde uma agenda intensa, com os líderes esperando finalizar a retomada da comunicação militar para evitar confrontos no Pacífico, bem como um abrangente esforço chinês de aplicação da lei para reprimir redes de fabricação e distribuição de fentanil.

Os líderes se cumprimentaram e apertaram as mãos em um tapete vermelho desdobrado do lado de fora da mansão georgiana isolada de um século, aninhada na extremidade sul do Crystal Springs Reservoir.

Biden disse que os dois discutiriam temas que vão das mudanças climáticas à Inteligência Artificial (IA). As conversas também devem incluir a situação de Taiwan e conflitos envolvendo Ucrânia e Israel.

Funcionários chineses provavelmente buscarão a revogação de controles de exportação, tarifas e restrições a investimentos nos EUA.

Cúpula ensaiada

A reunião deve seguir aproximadamente o mesmo formato que o encontro anterior em Bali, na Indonésia, em novembro de 2022.

Biden e Xi começaram com uma reunião com assessores próximos. Do lado dos EUA, a secretária do Tesouro, Janet Yellen, o secretário de Estado, Antony Blinken, e a secretária de Comércio, Gina Raimondo, estão participando das conversas, com o ministro das Finanças, Lan Fo’an, o ministro do Comércio, Wang Wentao, e o ministro das Relações Exteriores, Wang Yi, entre a delegação chinesa.

Após uma pausa, um grupo maior se reunirá para conversas adicionais, com o tempo total de reunião previsto para se estender por horas.

Após a conclusão, espera-se que Biden conceda uma entrevista coletiva de imprensa, enquanto Xi retorna a São Francisco para um jantar com alguns dos principais executivos dos EUA.

Oficiais dos EUA e chineses passaram semanas discutindo a agenda e a estrutura do evento, e os assessores reconheceram que cada detalhe da visita seria examinado.

A escolha da Filoli evoca as reuniões informais entre Xi e o ex-presidente Barack Obama em Sunnylands, fora de Palm Springs, onde a dupla literal e metaforicamente arregaçou as mangas para dias de conversas.

Horas antes da reunião Biden-Xi, EUA e China divulgaram um comunicado detalhando novos compromissos de cooperação em relação às mudanças climáticas, com promessas de construir instalações de captura de carbono, reduzir a poluição no setor de energia e mirar reduzir toda a gama de gases de efeito estufa que contribuem para o aquecimento do planeta.

O comunicado dos dois maiores emissores de gases de efeito estufa do mundo é visto como um novo impulso antes da crucial cúpula COP28 que começa em Dubai neste mês, aumentando as chances de negociações bem-sucedidas e sublinhando a preocupação compartilhada sobre as mudanças climáticas.

Um oficial dos EUA, ao informar os repórteres antes da reunião sob condição de anonimato, disse que, devido ao poder que Xi consolidou na China, a reunião oferece uma rara oportunidade de fazer mudanças na relação — e que os riscos não poderiam ser maiores.

Ajuda à economia da China

Antes da reunião, Biden disse que seus objetivos incluíam ajudar a economia em dificuldades da China, desde que o crescimento não viesse em detrimento da propriedade intelectual dos EUA.

“Se o cidadão comum na China pudesse ter um emprego que pagasse decentemente, isso beneficia eles e beneficia todos nós”, disse ele. “Mas não vou continuar a sustentar o apoio a posições em que, se quisermos investir na China, temos que entregar todos os nossos segredos comerciais.”

Os EUA não planejavam anunciar alterações em seu regime tarifário ou sanções contra entidades chinesas, apesar de esperar que Xi pressione a questão, disse o oficial dos EUA.

A insegurança econômica pode explicar em parte a disposição de Xi em se envolver, apesar de confrontos de alto nível sobre um balão de espionagem chinês e a visita da então presidente da Câmara, Nancy Pelosi, a Taiwan. Uma crise no setor imobiliário da China tem pesado na recuperação pós-pandemia do país, com sua economia não mais a caminho de ultrapassar os EUA no futuro próximo.

“O mundo emergiu da pandemia de Covid, mas ainda está sob seus impactos tremendos”, disse Xi no início da reunião. “A economia global está se recuperando, mas seu momentum permanece lento. As cadeias de suprimentos industriais ainda estão sob a ameaça de interrupção, e o protecionismo está aumentando. Tudo isso são problemas graves.”

As participações estrangeiras em ações e títulos do país caíram cerca de 1,37 trilhão de yuans (US$ 188 bilhões), ou 17%, desde o pico de dezembro de 2021 até o final de junho deste ano, de acordo com cálculos da Bloomberg com base em dados do banco central.

Ainda assim, o comércio bilateral entre os EUA e a China totalizou quase US$ 760 bilhões em 2022, enquanto o valor dos investimentos em ativos físicos e financeiros ficou em US$ 1,8 trilhão.

Ambos os líderes precisam pisar com cuidado para suas respectivas audiências domésticas, em particular Biden, que enfrenta uma difícil campanha pela reeleição em 2024.

Uma pesquisa da Bloomberg News/Morning Consult neste mês descobriu que 46% dos eleitores nos chamados swing-states - que votam ora em democratas, ora em republicanos, e que costumam definir o vencedor - disseram confiar no ex-presidente Donald Trump, o pré-candidato republicano, em relação à China, em comparação com 34% para Biden.

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