Banco Mundial: PIB da América Latina segue abaixo do desempenho global

Órgão revisou para cima as projeções de crescimento para a região, mas ressalta que a expansão econômica continua aquém do necessário para reduzir a desigualdade; Brasil deve crescer 2,6%

Pedestre na Avenida Paulista, em São Paulo
04 de Outubro, 2023 | 03:48 PM

Leia esta notícia em

Espanhol

Bloomberg Línea — O Banco Mundial revisou para cima suas projeções de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) da América Latina e do Caribe para 2023, passando de 1,4% estimado anteriormente para 2%, embora os países da região permaneçam abaixo do desempenho global.

Apesar de o PIB na América Latina estar 11% acima do nível pré-pandemia, de 2019, impulsionado especialmente pelo consumo privado, na Ásia Oriental e Meridional esse valor é 30% superior e na Europa Oriental, ainda afetada pela guerra na Ucrânia, 15% superior.

“O fraco crescimento na América Latina e no Caribe não é resultado da pandemia, mas reflete questões estruturais não abordadas”, afirmou o organismo multilateral.

De qualquer forma, a região “demonstrou maior resiliência e menor volatilidade” em suas previsões do que a América do Norte, Europa Oriental e Europa Ocidental.

PUBLICIDADE

Para 2024, o Banco Mundial projeta que a taxa de crescimento da economia da região seja de 2,3% e, em 2025, de 2,6%. O órgão afirma que essas taxas de crescimento seriam semelhantes às da década de 2010, mas não seriam suficientes para alcançar avanços necessários de inclusão e redução da pobreza.

“No futuro, espera-se que a prevista desaceleração da economia global em 2023 resulte em um desempenho mais baixo da América Latina e do Caribe em relação a outros mercados emergentes”, alerta o relatório.

A América Latina enfrentará preocupações sobre o desempenho econômico de seus principais parceiros comerciais no G7, bem como perspectivas cada vez mais incertas da China, segundo o órgão.

Países com maior crescimento do PIB na América Latina

O maior crescimento na América Latina e no Caribe seria registrado na Guiana, com expansão de 29% em 2023, 38,2% em 2024 e 15,2% em 2025. Entre as maiores economias da região, o Panamá teria o melhor desempenho, com uma estimativa de 6,3% para 2023.

Preocupa ainda mais o fato de que essas taxas de crescimento não são consequência da pandemia, mas são semelhantes às taxas de crescimento observadas na década de 2010, quando a América Latina crescia a uma taxa aproximada de 2,2%, enquanto o mundo crescia a 3,1%.

Na América Central, destaca-se também o crescimento estimado para a Costa Rica, com uma projeção de 4,2% para este ano. Na América do Norte, o México cresceria 3,2% em 2023.

Na América do Sul, após a Guiana, o maior crescimento seria registrado no Paraguai (4,8%), seguido pelo Brasil (2,6%), Suriname (2%), Bolívia (1,9%), Colômbia (1,5%), Uruguai (1,5%) e Peru (0,8%).

PUBLICIDADE

Por outro lado, a economia da Argentina encolheria -2,5%, a do Chile, -0,4%. Não há dados disponíveis para a Venezuela.

Panorama incerto

O relatório indica que “apesar das boas notícias recentes sobre a inflação, as taxas de juros muito altas nos países avançados ainda não começaram a cair”.

Por outro lado, “e apesar de algumas quedas recentes, os preços atuais das commodities ainda são moderadamente altos em termos históricos, impulsionando as exportações, embora em menor grau do que nos picos recentes, e esse impulso pode diminuir ainda mais se a economia chinesa tropeçar”.

“Os preços das commodities se suavizaram, enquanto as taxas de juros globais continuam altas. Apesar desses fatores e da chegada do fenômeno El Niño, que se espera que limite a produção agrícola ou cause perturbações em vários países, as perspectivas de crescimento da América Latina e do Caribe para 2023 foram ligeiramente ajustadas para cima em relação aos níveis baixos observados em maio de 2023″, diz o relatório.

Quanto ao custo de vida, as pressões inflacionárias externas estão enfraquecendo. “Pelo lado positivo, os preços mundiais de alimentos e energia diminuíram consideravelmente desde o pico após a invasão russa da Ucrânia. Apesar das ameaças recorrentes às exportações de grãos no Mar Negro, seus preços e contratos futuros permanecem estáveis”, afirma o documento.

E “embora esses preços ainda sejam altos em termos históricos, impactando especialmente os orçamentos das famílias mais pobres, sua redução desde os picos de 2022 contribuiu para a moderação da inflação geral”. No campo fiscal, os gastos públicos continuam elevados, embora mostrem variações entre os diferentes mercados.

As ajudas temporárias destinadas a pessoas vulneráveis e empresas, implementadas durante a pandemia, estão diminuindo, embora parcialmente, explica o Banco Mundial.

Ao mesmo tempo, em diversos países, outros gastos não mostram redução e, em alguns casos, até aumentaram. Essa situação, combinada com a carga persistente gerada pelo serviço da dívida devido às altas taxas de juros, restringe a margem fiscal e dificulta o progresso na redução da dívida.

A relação dívida/PIB caiu para 64% do PIB, em comparação com os 67% registrados há um ano, mas ainda está significativamente acima do nível de 2019 (57%).

O impacto da China na América Latina

A economia da América Latina está particularmente atenta ao desempenho da China, uma vez que é um ator relevante nos preços das commodities. Segundo dados do Banco Mundial, em 2000, o mercado chinês representava menos de 2% do comércio total da América Latina e do Caribe, enquanto em 2022 cresceu para 17%.

Nesse sentido, uma “menor demanda da China afetará a dinâmica comercial dos países da América Latina e do Caribe, especialmente aqueles que dependem da exportação de commodities”.

Uma desaceleração na China também pode se refletir em uma redução nos níveis de investimento e financiamento na região. Isso ocorre porque a China representa 9% do investimento estrangeiro direto (IED) na América Latina e no Caribe, afetando várias áreas, como infraestrutura.

“E uma vez que alguns desses fundos podem ser redirecionados do exterior para a economia doméstica chinesa, os países da América Latina e do Caribe precisarão encontrar outras fontes de financiamento para concluir esses projetos”, alerta o relatório.

O efeito do El Niño

O impacto do fenômeno El Niño também afetará o desempenho da economia latino-americana em meio à luta contra a inflação e, especialmente, aos impactos que a agricultura enfrentará.

No entanto, esses efeitos são desiguais, uma vez que o efeito El Niño não é uniforme em toda a América Latina e no Caribe, destaca o relatório. Portanto, espera-se uma redução de 0,8 pontos percentuais no crescimento dos países localizados em áreas tropicais e úmidas.

Enquanto isso, para os países situados em áreas temperadas e áridas, prevê-se uma redução de 0,7 pontos percentuais.

O Banco Mundial adverte que alguns mercados da América Latina já estão começando a sentir os efeitos do El Niño, com exemplos como a histórica seca no Panamá, que obrigou a Autoridade do Canal a reduzir o volume e o número de navios que atravessam o canal.

Outros mercados afetados incluem o Peru, onde a agricultura e a pesca, bem como as atividades de processamento associadas, já foram afetadas pelo El Niño, de acordo com o Banco Central do país.

Enquanto isso, na Colômbia, as importações de gás natural liquefeito (GNL) aumentaram para manter a operação das hidrelétricas às vésperas do El Niño. No Chile, o governo declarou estado de catástrofe nas regiões de O’Higgins, Maule, Ñuble e Biobío devido às fortes chuvas associadas ao El Niño.

Este cenário é de especial atenção na América Latina, uma vez que a região “está particularmente exposta aos eventos climáticos extremos que o El Niño pode trazer, uma vez que depende das exportações agropecuárias e já é vulnerável a um aumento da temperatura”.

Leia também

Por que Mario Mesquita, do Itaú, vê aumento no PIB potencial do Brasil

Por que a economia brasileira surpreendeu? Veja 7 visões sobre a alta do PIB

Daniel Salazar Castellanos

Profesional en comunicaciones y periodista con énfasis en economía y finanzas. Becario de EFE en el programa de periodismo de economía de la Universidad Externado, Banco Santander y Universia. Exeditor de Negocios en Revista Dinero y en la Mesa América de la agencia española de noticias EFE.