Bloomberg — Quando a Argentina reestruturou o equivalente a US$ 65 bilhões de dívidas há três anos, não demorou muito para os investidores começarem a apostar que o próximo calote estava a caminho. Nesta semana, eles tiveram uma ideia melhor sobre com quem provavelmente terão que negociar quando chegar a hora - e não se sentiram nem um pouco tranquilizados.
À medida que o mercado se prepara para o que pode vir a ser a quarta renegociação de dívida do país em duas décadas, os títulos externos afundaram para valores mínimos de dois meses.
O tombo segue o resultado considerado inesperado da eleição primária no domingo (13), que mostrou que o candidato presidencial preferido dos argentinos é um economista libertário com propostas radicais para dolarizar a economia e tentar tirar a Argentina de sua crise interminável, o que inclui acabar com o banco central.
Javier Milei, o congressista que conquistou um terço dos votos no pleito para definir os candidatos que concorrerão à presidência em outubro, é um ator político frequentemente comparado a Donald Trump e Jair Bolsonaro.
Embora ele tenha falado muito pouco sobre o problema da dívida da Argentina ou a relação do país com os credores, os investidores estão preocupados com as implicações de negociar com um candidato pouco conhecido quando a quase inevitável reestruturação chegar.
“Se ele eventualmente se tornar presidente, não está claro quais propostas políticas ele poderá implementar, visto que provavelmente enfrentará oposição significativa no Congresso” disse Jared Lou, gestor de portfólio da William Blair.
A votação no domingo provocou uma derrocada no valor dos títulos externos do país, que caíram para menos de 30 centavos por dólar. O governo também desvalorizou o peso na sequência, uma medida que o mercado vinha pedindo há muito tempo, mas mesmo assim veio em um momento inesperado.
Em Wall Street, casas desde Credit Suisse a Wells Fargo agora preveem Milei como o favorito para assumir a presidência em dezembro.
“Com base na longa história de inadimplência e reestruturações de dívida do país, não consideramos os títulos soberanos argentinos adequados para uma estratégia de investimento mantida até o vencimento, mas apenas para investidores com alto apetite por risco”, disse Alejo Czerwonko, diretor de investimentos para mercados emergentes nas Américas do UBS em Nova York. “Também alertamos contra alocações consideráveis em carteiras de investimento.”
Como sinaliza Czerwonko, os problemas da dívida não devem surpreender os investidores de longa data na Argentina, que se preparam para o décimo default desde o momento em que o país saiu do anterior.
Depois que os gestores obtiveram cerca de 55 centavos por dólar na última reestruturação, os títulos caíram quase imediatamente para menos de 40 centavos, um sinal de que os investidores já esperavam outro calote.
- Com a colaboração de Giovanna Bellotti Azevedo, Zijia Song e Maria Elena Vizcaino.
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©2023 Bloomberg L.P.
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